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Opinião

Damares defende intervenção na decisão do estudante no Enem

Para a ministra, o Estado deveria evitar que o aluno se afastasse da família ao optar por uma faculdade

Aministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, pastora Damares Alves, saiu do anonimato ao ser nomeada pelo presidente Jair Bolsonaro, e, pelo fato de a nova pasta tratar de uma série de questões sensíveis, logo ganhou espaço no noticiário.

Eloquente, Damares passou a ter destaque por algumas declarações polêmicas. Segundo ela, “frases soltas". A de maior repercussão até agora saiu de um vídeo gravado após a posse, em que a ministra, em tom de comemoração, e aplaudida por apoiadores, anunciou, sorrindo: “Atenção, atenção, é uma nova era no Brasil! Menino veste azul, e menina veste rosa!”

As redes sociais, por inevitável, repercutiram com intensidade o que pareceu mesmo ser uma brincadeira, embora carregada de visão conservadora dos costumes, uma das marcas do governo Bolsonaro. Como os ânimos político-partidários continuam belicosos, o tráfego de mensagens e tuítes foi intenso.

Entrevistada na edição de quinta à noite do “Jornal das 10”, da GloboNews, a articulada Damares teve tempo para defender sua visão à direita e explicar posições que já assumiu.

Um dos assuntos tratados foi o cuidado que seu ministério terá com a preservação dos laços familiares. Com esta preocupação, Damares, anteriormente, chegara a criticar o sistema do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que permite ao estudante optar por faculdades fora da região em que mora.

Na entrevista, ela se preocupou em afastar a ideia de que o governo estaria prestes a intervir no exame, para evitar a ruptura de laços familiares. Mas insistiu que o governo, “sem nada impor”, poderia, por meio de alguma política pública, ajudar a manter o estudante perto da família.

No aspecto prático, é impossível imaginar como isso seria feito sem prejudicar o jovem. Na verdade, a saída da casa dos pais é parte de um rito de amadurecimento. A matrícula em uma universidade em outra região é, em muitos países, como os Estados Unidos, algo almejado pelas próprias famílias.

Difícil imaginar que um jovem do Amapá, aprovado no Enem, não fique feliz, com a família, por conseguir, pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), vaga na UFRJ, por exemplo. A ministra parece conceber um mundo inexistente.

Fica evidente, ainda, o risco, no governo Bolsonaro, de intervenções descabidas do Estado em assuntos privados. Por sinal, o mesmo perigo que a sociedade correu com o lulopetismo. Mudam apenas as cores: sai o vermelho e entram o verde e o amarelo.