Elio Gaspari

Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".

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Curupira é amigo de Arthur Lira

Seguindo-se o rastro do garoto com os pés virados para trás, se perde tempo indo em direção ao atraso

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O repórter Paulo Saldaña esteve em sete cidades do interior de Alagoas. Sem querer, percorreu uma trilha aberta pelo Curupira, o garoto da mata que tem os pés voltados para trás.

Saldaña visitou escolas que receberam kits de robótica, mandados pelo benevolente Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, o FNDE. Custaram R$ 26 milhões. No percurso, passou por obras inacabadas de duas creches.

Para Canapi, cidade que ganhou fama no século passado por ser domínio dos Malta, família da então mulher do presidente Fernando Collor de Melo, seguiram 330 kits. Lá, uma das escolas não tinha água encanada e metade das 35 unidades do município não tem internet. Nos tempos de Collor às vezes faltava água e ela ia em carros-pipa. A piscina de Joãozinho Malta bebia 20 carros-pipa.

O kit de robótica contém um carrinho com luzes e sensores que medem a temperatura do ambiente. Na escola João Lemos Ribeiro, na zona rural de Maravilha, onde não há internet, o calor é tamanho que provoca a suspensão das aulas.

Curupira tem os pés virados para trás. Seguindo-se seu rastro perde-se tempo indo em direção ao atraso. Os kits de robótica vão para cidades que têm creches inacabadas e escolas sem água encanada, mas não fazem mal a ninguém. Não é bem assim.

Cada kit foi comprado pelo FNDE por R$ 14 mil. A Prefeitura de São Paulo comprou 1.634 em 2017 e pagou R$ 2.200 por cada um da marca Dual. A de Leme (SP) pagará R$ 4.600. Os kits da Lego, considerados os melhores, saem por menos de R$ 10 mil. Os equipamentos mandados às prefeituras alagoanas foram vendidos pela empresa Megalic, que não os fabrica, mas é de Alagoas.

A Megalic tem como sócio Edmundo Catunda, pai de João Catunda, vereador em Maceió. Cinco repórteres da Agencia de Jornalismo Investigativo Pública mostraram com textos e fotos as ligações do deputado Arthur Lira com a família Catunda. Num post, João Catunda orgulhou-se por destravar, com a ajuda de Lira, "obras e projetos de ensino" junto ao FNDE. Não mencionou a empresa do pai, mas deixa pra lá.

Noutra postagem, de novembro, foi claro: "Três coisas que vocês devem saber sobre a vinda do FNDE a Alagoas. É uma coisa feita pelo Ministério da Educação a pedido do Arthur Lira e João Catunda."

Fica assim registrado o reconhecimento a Arthur Lira e a João Catunda pela chegada do FNDE a Alagoas com seus kits de robótica.

Vai lembrada também a maledicência dos romanos contra o rei dos hunos: "Por onde Átila passa, a grama não volta a crescer".

A caverna do FNDE

Depois dos 10 mil laptops de Itabirito em 2019, dos kits escolares em 2020, das Bíblias dos pastores das sombras, do leilão dos ônibus escolares, dos carros de R$ 250 mil e R$ 300 mil para dois de seus diretores e dos seus negócios em Alagoas, resta imaginar qual será a próxima novidade vinda do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação.

Quem acertar ganha uma visita à caverna de Ali Babá e seus 40 amigos.

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