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Inovações em Educação

Curiosidade, interesse e engajamento: tudo começa com uma boa pergunta disparadora

Primeira etapa da metodologia de projetos envolve a realização de perguntas complexas que despertam o interesse do estudante. Como o professor pode alcançar isso?

Parceria com CLOE

por Maria Victória Oliveira ilustração relógio 5 de agosto de 2020

Instigar os estudantes a participar das aulas e assumir um papel ativo no processo de aprendizagem mesmo no ambiente online é uma das grandes missões dos professores durante este longo período de aulas remotas. Um segredo para esse engajamento passa por despertar o interesse de crianças e jovens para que discutir um tema seja mais interessante do que qualquer outra opção.

Uma das metodologias que parte justamente do princípio de estimular alunos a partir de seus interesses e vivências e colocá-los em uma posição de ação é a aprendizagem baseada em projetos. Também conhecida por sua sigla em inglês, PBL (project-based learning), a abordagem difere-se de abordagens tidas como mais tradicionais por propor uma trilha na qual os próprios estudantes vão construindo sua aprendizagem com apoio e tutoria dos professores.

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Um dos passos fundamentais para implementar a aprendizagem baseada em projetos é partir de um problema ou questão desafiadora. Essa pergunta norteadora é a etapa inicial para contextualizar o tema aos alunos de forma introdutória e, ao mesmo tempo, despertar seu interesse para que se envolvam com as próximas fases do percurso. Nesse sentido, é importante que professores possam aliar, em um mesmo questionamento, aspectos que despertem a curiosidade e motivem, sem entregar todo o conteúdo de uma vez.

Interesse gera engajamento
Para Leo Burd, diretor-executivo da RBAC (Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa) e pesquisador no MIT Media Lab, nos Estados Unidos, é importante que a pergunta disparadora (ou questão norteadora) converse com a realidade dos alunos e de seus interesses e, ao mesmo tempo, faça uma conexão significativa com o tema curricular que o professor pretende abordar. A RBAC realiza um exercício para que docentes possam pensar em projetos, que consiste em dividir uma folha de sulfite em três colunas, e listar: de um lado, os interesses dos estudantes e as atividades que mais gostam de fazer quando não estão na escola, e, do outro, o que espera-se em termos de tópicos curriculares e habilidades que sejam aprendidas ao longo do ano letivo. A coluna do meio fica destinada aos pontos de intersecção.

“Devemos tentar ser o mais concretos possíveis, por isso é importante que os professores conversem com os alunos. Não basta entender que gostam de música, mas sim que tipo de música, quais bandas. Se gostam de cinema, quais são os filmes preferidos? Se iremos estudar química e física, calor e outros conteúdos e percebemos que os alunos gostam de cozinhar, como podemos fazer um projeto relacionado a isso que explore o conteúdo curricular?”, explica Leo.

Encontrar um tema e pensar em uma boa atividade para os alunos não é algo que fazemos da noite para o dia

Importante considerar, entretanto, que esse tipo de exercício leva tempo para ser realizado, inclusive com necessidade de pesquisas sobre os estudantes, e tem mais chances de ser bem-sucedido ao envolver um grupo de professores. “Encontrar um tema e pensar em uma boa atividade para os alunos não é algo que fazemos da noite para o dia. Professores não precisam ficar superestressados porque não chegaram em um projeto perfeito logo de cara. É algo que vamos apreendendo com a prática e aprimorando nossa habilidade de entender os alunos e também as nossas capacidades de desenvolver um projeto com os recursos que temos na sala de aula. Juntar mais de um professor de cada série nessa atividade é interessante, pois um dá uma ideia, outro dá outra e juntando tudo sai uma coisa legal e mais conectada, facilitando a exploração do tema sob várias perspectivas do currículo”.

Curiosidade e motivação no currículo
Além de aprendizagem por competências, práticas para desenvolvimento cognitivo, social, emocional e ético e educação a serviço do mundo, a aprendizagem ativa baseada em projetos é uma das metodologias usadas pela plataforma CLOE para promover uma aprendizagem mais significativa e engajadora.

O currículo é organizado em expedições que, assim como os projetos, contam com a questão norteadora para dar início ao processo de investigação pelos estudantes. “Em um paralelo com histórias, elas sempre começam em um cenário de normalidade, quando de repente acontece um problema ou conflito e o personagem da história vai ter que resolver. Com as expedições é assim. Os estudantes estão tocando a vida e se deparam com um problema, que os convoca para o percurso de investigação que é o projeto”, explica Diana Tatit, coordenadora pedagógica da CLOE e integrante do Grupo Tiquequê.

Segundo a especialista, a apresentação de um problema como ponto de partida de uma investigação contribui para conferir sentido à proposta para o estudante. “Eles entendem por que estão estudando o conteúdo e por que estão instigados a resolver a determinada questão”.

A importância de perguntas abertas
Para Diana, um ponto de atenção é a importância de respeitar os tempos para que as perguntas sejam respondidas, e essa postura necessária por parte dos professores não envolve apenas a interação com os alunos e apresentação da pergunta, mas também a própria concepção do questionamento. “Às vezes, nós professores fazemos perguntas muito apressadas para que os estudantes tenham logo a resposta que está na nossa cabeça. Mas acredito que boas perguntas são aquelas que não têm pressa de serem respondidas e que podem ser sustentadas por um bom tempo”, explica a especialista.

Se a resposta veio rapidamente, o questionamento sana e passamos a pensar em outro assunto. É aquilo que não sabemos que faz com que a gente queira aprender

Segundo a coordenadora, é essa dúvida que motiva o engajamento e o estudo. “Se a resposta veio rapidamente, o questionamento sana e passamos a pensar em outro assunto. É aquilo que não sabemos que faz com que a gente queira aprender.” Além disso, Diana reforça a importância de o professor realmente querer ouvir o que os alunos têm a dizer, e, por isso, deve fugir de perguntas retóricas que já conduzem à resposta.

Esse raciocínio pressupõe questões mais abertas que, segundo Diana, têm um grau de complexidade maior e, consequentemente, mais chances de manter o debate por mais tempo. “Questionamentos como ‘de quais formas podemos resolver esse problema’ ou uma pergunta que leve a uma investigação mais ampla se sustentam por mais tempo. Perguntas como ‘o que’, ‘por que’, ‘qual’ são mais usadas de forma interna nos projetos, em uma aula específica, por exemplo, e não para nortear todo o processo.”

Leo Burd concorda ao afirmar que as temáticas dos projetos, e consequentemente das perguntas norteadoras, precisam ser o mais abertas possível, algo que o professor vai descobrindo no transcorrer das atividades. “Um indicador de uma boa atividade é a diversidade de projetos gerados pela proposta inicial. Se em uma sala de 30 alunos, surgem 20 projetos diferentes, parece que foi uma proposta interessante, onde os alunos tiveram mais autonomia. Se o professor faz uma proposta e todo mundo acaba produzindo algo parecido, era algo muito fechado.”

Flexibilidade para experimentação
Um ingrediente importante para trabalhar com projetos é a flexibilidade, tanto no tema de investigação que, como já citado, precisa ser aberto para permitir diversos tipos de exploração e criação, como nos materiais à disposição dos estudantes e também flexibilidade dos cronogramas a serem seguidos. Segundo Leo, é importante que os alunos tenham tempo de entender a proposta, pensar sobre ela, desenvolver as primeiras ideias, trocar experiências com os colegas e, eventualmente, mudar de ideia sobre suas produções.

Uma alternativa, exemplifica Leo, é investir na troca entre os estudantes. Isso pode ser feito por meio de uma exposição de protótipos e do incentivo a comentários avaliativos, que podem levar a discussões sobre os caminhos escolhidos por cada aluno em seu projeto. “Tudo isso favorece o espírito de críticas e de perguntas.”

Além disso, também é importante que os professores, enquanto tutores desse processo de aprendizagem, diversifiquem os exemplos do que pode ser feito e também abram espaço para momentos de discussão que levem a novas dúvidas – e respostas. Para o especialista, essa postura incentiva os estudantes a pensar em novas possibilidades para o projeto e a se enxergarem como autores dentro de sua aprendizagem.

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aprendizagem ativa, competências para o século 21, educação infantil, educação mão na massa, ensino fundamental, ensino médio, personalização

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