Em parceria com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), o governo do estado inicia em meados de outubro, e até o fim de 2024, o treinamento de professores da rede estadual que trabalham em áreas conflagradas. Ao todo, a PM mapeou 183 escolas nesta situação.
Os docentes vão aprender a proteger a si mesmos e os alunos em caso de confronto. Eles servirão como multiplicadores desse treinamento nas unidades escolares. A informação foi dada, ontem, pela major Raquel Ventura, coordenadora do Núcleo de Inteligência e Segurança da Secretaria Estadual de Educação, no segundo painel do Diálogos RJ, que teve como tema “A escola como um espaço acolhedor e seguro”.
— Vamos começar o treinamento por professores da Maré e do Alemão. Isso se dará em todo o estado. Entre essas áreas estão escolas localizadas em Campos, Belford Roxo e Nova Iguaçu — explicou.
O programa é o mesmo já adotado pela prefeitura do Rio nas escolas municipais. A coordenadora do programa Acesso Mais Seguro, da Cruz Vermelha, Karen Cerqueira Fernandes, afirma que o objetivo é prepara as instituições para identificar situações de risco e se antecipar a crises.
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— Não se pode pensar apenas em fechar as escolas. Às vezes, a merenda é a única refeição dessas crianças. Qual o impacto de muitas aulas perdidas nos indicadores do desenvolvimento escolar? O que fazemos é treinar as redes públicas a fazer uma análise de como reduzir riscos— disse.
No painel, Raquel contou ainda que, como medida preventiva, 4,5 mil professores das redes pública e particular do Rio também já passaram por treinamentos para lidar com emergências provocadas por eventuais ataques gratuitos contra escolas. O programa, inspirado em protocolos do FBI, foi criado após uma professora morrer e quatro crianças serem feriadas a facadas por um aluno em março deste ano. O caso não foi isolado, e outros ataques a escolas já aconteceram no país.
— Também estamos desenvolvendo protocolos. A gente não pode paralisar nas crises, mas lidar com esse risco de ameaça, falsa ou não, nos deixa atônitos — revelou a reitora do Colégio Pedro II (federal), Ana Paula Giraux Leitão. — Escola tem que ser vista, na verdade, como instrumento de mobilidade social e formação de cidadãos.
Tratamento igualitário
Outro problema apontado pelos especialistas é o discurso do ódio. Antes restrito a chamada “deep web”, os relatos de potenciais ataques agora são divulgados abertamente nas redes sociais. Muitos interlocutores, inclusive, incentivam o agressor a ir em frente nos ataques.
O médico e psicanalista Luiz Alberto Py observa que as medidas preventivas devem ser adotadas também internamente nas escolas:
Tassia Cruz, professora da Fundação Getulio Vargas/Ebape, diz que no ambiente escolar os professores têm que tratar os alunos de forma mais igualitária, respeitando os ritmos de aprendizado, sem diferenciações.
— A natureza do homem é ser violento. E isso se reflete nas escolas. Não só, na prática de bullying, que pode ser desencadeado por qualquer motivo, como também há atitudes agressivas entre professores e alunos. A direção das escolas tem que saber trabalhar isso.
— No aprendizado, um fator importante é o erro. Isso gera frustrações no aluno, mas o professor tem que atender a esse estudante de igual maneira — alerta.
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