Rio

Crivella usou, em um ano, apenas 15% de dinheiro para reforma de escolas

Só R$ 30 milhões dos R$ 200 milhões emprestados pela Caixa Econômica foram usados em um ano
Muro da Escola municipal Francis Hime despencou Foto: Foto do leitor
Muro da Escola municipal Francis Hime despencou Foto: Foto do leitor

O prefeito Marcelo Crivella usou, no ano passado, apenas 15% da verba que tinha para a reforma de escolas. Em dezembro de 2017, ele anunciou a chegada de R$ 200 milhões de empréstimo da Caixa Econômica para revitalizar os prédios escolares. No entanto, apenas pouco mais de R$ 30 milhões foram gastos — R$ 28,8 milhões para unidades do ensino fundamental e R$ 1,7 milhão para o ensino infantil. E não é por falta de unidades degradadas.

A Escola municipal Guilherme Silveira, no Mendanha, é uma das unidades na lista para receber reforma. As mães dos alunos relatam que as crianças não têm parque e que o local para atividades física está destruída. Quando chove, alaga. Para piorar, o colégio foi roubado no último fim de semana: levaram computadores e até portas.

— Já perdemos provas e materiais por conta disso. Ao lado da escola tem um rio. Já houve caso de um jacaré entrar na parte de trás do prédio — conta  Erika da Silveira, mãe de um estudante.

A Secretaria municipal de Educação (SME) alegou que "por conta dos processos licitatórios, o empréstimo foi renovado para 2019". Os R$ 30 milhões gastos até agora serviram para  obras, compra de mobiliário e climatização de escolas. A pasta, no entanto, não revelou quantas escolas receberam essa verba. "Assim que abrir o orçamento de 2019, previsto para estes dias, as reformas das unidades escolares serão reiniciadas porque os orçamentos já estão realizados", afirmou a secretaria.

A SME também informou que a Escola municipal Guilherme Silveira está incluída na lista das 292 unidades “que serão climatizadas nesta nova etapa que está em andamento e já conta com aporte de R$ 22 milhões. Com a iniciativa, as unidades da Rede estarão com sistema de refrigeração funcionando nas salas de aula. Na unidade de Bangu está prevista também a recuperação do piso da quadra e o nivelamento da calçada”, informou a pasta.

Enquanto os antigos problemas vão se acumulando, outros novos vão ganhando urgência. A Escola municipal Francis Hime, em Jacarepaguá, começou o ano letivo nesta segunda-feira com áreas interditadas ainda por conta da tempestade da última quarta-feira. Um muro de conteção, que já apresentava problemas, acabou de cair e a sala de leitura foi atingida por uma árvore. A estrutura rachou e foi fechada. Este é um colégio premiado: numa única Olimpíada de Matemática, em 2015, chegou a faturar 185 medalhas.

—  Nós fomos reclamar no ano passado e disseram que não era prioridade. Foram deixando e agora é urgente — conta Gleice Maia Nunes, mãe de um menino de 13 anos que estuda no local.

De acordo com a Secretaria municipal de Educação (SME),  engenheiros da Riourbe realizaram uma avaliação técnica e não identificaram risco na estrutura do prédio que comprometa a escola. “As obras de reparo já foram iniciadas”. A secretaria informou que “as aulas ocorreram normalmente nesta segunda-feira  e a unidade tem água e energia elétrica”.

A reportagem esteve no local às 15h30 e os alunos já tinham sido liberados. As mães alegam que falta água. A bomba da escola, que ficava dentro de uma casinha encostada no muro, despencou e, seguno elas, a unidade estava sem água. A secretaria afirma que as aulas foram em meio-período por que foi "dia de acolhimento".

Problemas no primeiro dia

Não foi apenas esta unidade que sofreu problemas no primeiro dia letivo. No Ciep Poeta Cruz e Sousa, em Bangu, Zona Oeste, as aulas foram suspensas por causa da violência. Funcionários da escola que não quiseram se identificar contam que, por volta das 6h de ontem, antes do colégio reabrir, criminosos entraram e roubaram materiais escolares, alimentos e aparelhos eletrônicos. Além disso, ainda quebraram torneiras e bebedouros. Os alunos foram dispensados antes mesmo de chegarem à escola.

Um dos prejudicados foi o motorista de aplicativo Marcos Rogério Freire, de 49 anos, pai do pequeno Gabriel Freire, de 7, que estuda no Ciep. Na manhã de ontem, sem saber do episódio, ele levou o filho à escola e foi obrigado a voltar para casa. Com isso, o pai não teve com quem deixar o menino.

— O meu filho é especial e faz terapia, por isso o trouxe mais tarde. Agora é voltar para casa e perder um dia de trabalho — afirma o pai.

Em nota, a prefeitura afirma que o local sofreu atos de vandalismo. No entanto, informa que foi furtado apenas um utensílio de cozinha. Ainda em nota, diz que a unidade vai solicitar ao 14º BPM (Bangu) o reforço na realização de rondas no entorno da unidade. "A escola já está sendo limpa e terá seu espaço organizado para receber os alunos nesta terça-feira (hoje). A direção da unidade registrou boletim de ocorrência na 34ª DP (Bangu)".

Uma camisa por estudante

De acordo com a prefeitura, "no início das aulas será distribuída uma camisa para cada aluno", sem informar se isso deveria ter sido feito ontem. Até o fim deste mês, a Secretaria de Educação do Rio afirma que vai entregar uma segunda camisa para os estudantes. Na porta da Escola Municipal Ministro Alcides Carneiro, em Campo Grande, Zona Oeste, a nutricionista Angélica Oliveira, de 28 anos, afirma que não recebeu qualquer aviso sobre o uniforme. Além disso, a filha de Angélica, Vitória Oliveira, de 6 anos, que está no 6º ano do Ensino Fundamental, conta que o ar-condicionado não foi ligado ontem.

— No ano passado eu tive que comprar a bermuda para as aulas de Educação Física, que ficou para ser usada também este ano. E vou comprar as camisas novas. A escola falou que vai dar uma só. Crianças sujam muito a roupa, ainda mais na escola. Uma não é suficiente — relata Angélica, completando o que a filha contou após a aula: — A Vitória disse que tem o aparelho de ar-condicionado na sala, mas que eles não foram ligados.

Ainda em Campo Grande, mas na Escola Municipal Tóquio, a dona de casa Daniele Cordeiro, de 40 anos, reivindica a falta dos kits escolares:

— Tenho três filhos em idade escolar, os gastos são triplicados todo ano. Se a escola desse pelo menos os materiais básicos, como cadernos, lápis e borracha, já nos ajudaria. Mas nem isso parece que vai acontecer. Deram previsão par março, mas sem qualquer garantia.

Prevenção a acidentes na volta às aulas

A RioSaúde, por meio do Hospital Rocha Faria, em Campo Grande, alerta para cuidados que devem ser tomados na volta às aulas para evitar acidentes no entorno das escolas. Números da ONG Criança Segura mostram que acidentes de trânsito são a maior causa de morte por acidente de crianças entre 5 e 14 anos no Brasil. A superintendente-médica do hospital, a cirurgiã Flávia Menezes, destaca que 90% desses casos poderiam ser evitados:

— O uso da cadeirinha de segurança nos carros, que já é lei, e a adoção de comportamentos seguros de pedestres e condutores reduziriam os acidentes. Crianças e adolescentes costumam se distrair facilmente ao atravessarem a rua, principalmente quando estão usando fones de ouvido ou celulares. Uma dica simples é educar as crianças a atravessar a rua sempre na faixa de pedestre, olhar para os dois lados e respeitar a sinalização.

A volta às aulas conta com a operação especial da Guarda Municipal e a retomada do patrulhamento e de ações socioeducativas.