Rio

Crise do estado faz CAp-Uerj perder 154 alunos em um ano

Colégio, um dos mais concorridos do Rio, teve quase oito meses de paralisações
A fachada do CAp-Uerj no Rio Comprido: colégio enfrenta falta de recursos Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
A fachada do CAp-Uerj no Rio Comprido: colégio enfrenta falta de recursos Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

RIO — O sonho da dona de casa Rita Mesquita de ver Matheus, seu filho de 14 anos, concluir o ensino médio no Colégio de Aplicação (CAp) da Uerj, no Rio Comprido, acabou. “Na verdade, virou um pesadelo”, disse ela, referindo-se a uma paralisação que, em 2016, deixou estudantes cinco meses fora da sala de aula. A mãe, então, fez algo que era impensável tempos atrás: tirou o adolescente da instituição, conhecida por ser uma das mais concorridas da cidade.

— Matheus estava desanimado, triste. Foi horrível. O ano letivo de 2016 começou em março e, em maio, ele só havia conseguido ter uma semana de aula. Cansei, e o coloquei em um colégio municipal — contou a dona de casa, acrescentando ter a certeza de que tomou a decisão certa. — Recentemente, meu filho passou em primeiro lugar na prova de uma ótima escola particular e ganhou uma bolsa.

MEDIDA PARA POSSIBILITAR RETORNO

O movimento de Rita não foi solitário. De acordo com a diretora do CAp-Uerj, Maria Fátima de Souza, 154 estudantes deixaram a instituição desde janeiro do ano passado, quase 15% do total. Uma situação inusitada, segundo a gestora:

— Eu nunca tinha visto isso. É uma situação nova, que ocorre por conta da crise financeira do governo do estado. As famílias dos alunos estão muito preocupadas, existe o risco de aumentar o número de transferências para outras escolas. Não queremos que nossos alunos saiam. Em caráter excepcional, baixamos uma portaria, no último dia 16, para garantir uma reserva de vagas: os alunos que, devido à crise, deixaram a instituição no ano passado, poderão retornar em 2018.

No entanto, Maria Fátima reconhece que a falta de perspectiva de melhora da situação econômica do estado pode pesar para os pais de ex-alunos do CAp-Uerj. Rita Mesquita, por exemplo, disse que não está disposta a colocar Matheus novamente no colégio.

Cartazes, em protesto, na fachada do CAp-Uerj, no Rio Comprido Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
Cartazes, em protesto, na fachada do CAp-Uerj, no Rio Comprido Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

— Não acredito que, com a falta de recursos do governo estadual, o CAp-Uerj consiga normalizar suas atividades. Não vamos nos arriscar. As aulas começaram esta semana e já houve paralisação dos professores, na terça-feira. Ver meu filho estudar lá era um sonho, prova disso é que ele fez duas vezes o 6º ano, série de entrada que já tinha cursado em outra escola. Agora, não queremos mais. É muito triste — lamenta a dona de casa.

Os sintomas da crise são muitos. Dos 22 inspetores — todos técnicos-administrativos concursados —, apenas dois trabalham por dia, em regime de revezamento. A direção não cita números, mas pais e alunos afirmam que parte dos 220 docentes não consegue trabalhar sem receber seus vencimentos. A comunidade escolar esperava que o CAp-Uerj retomasse as aulas em janeiro, mas os atrasos nos salários e a falta de condições adequadas de funcionamento contrariaram essa expectativa.

Apesar dos obstáculos, não faltam esforços para superá-los. O 2º ano do ensino médio iniciado em 2016 deverá ser concluído na próxima semana. O objetivo da direção do CAp-Uerj é que o 3º ano tenha início no dia 24. A pressa tem justificativa: os alunos precisam fazer o Enem de 2017. Os desafios são grandes, assim como as incertezas.

— Temos limpeza, mas estamos sem outros serviços de manutenção. Nosso único elevador está parado há 17 anos — contou Maria Fátima, que assumiu a direção do CAp-Uerj em março de 2016.

A instituição tem, hoje, cerca de mil estudantes, e aproximadamente 700 alunos de licenciaturas da Uerj também têm aulas no colégio, no qual boa parte deles faz estágio.

O CAP-Uerj não tem verbas próprias. Por ser vinculado à universidade, seu custeio está incluído no orçamento de R$ 1,1 bilhão previsto este ano para ela. De acordo com o diretor de Planejamento e Orçamento da Uerj, Alfredo de Souza Coutinho Neto, o montante da dívida da universidade com funcionários e fornecedores gira em torno de R$ 350 milhões.