Por Clarissa Góes e Vítor Oliveira*, TV Globo e g1 PE


Crise de ansiedade em alunos acende alerta para cuidados com saúde mental

Crise de ansiedade em alunos acende alerta para cuidados com saúde mental

A quantidade de adolescentes recebendo atendimento médico devido a transtornos de ansiedade tem preocupado famílias, professores e profissionais da saúde no Recife. A especialista Carolina Campos alertou para importância de cuidados com a saúde mental dos jovens e afirmou: "Minimizar o estigma é essencial", disse em entrevista à TV Globo nesta segunda-feira (23) (veja vídeo acima).

Três casos recentes, todos ocorridos no Recife, chamaram atenção. No dia 19 de maio, estudantes de uma escola estadual na Bomba do Hemetério, na Zona Norte da cidade, tiveram sintomas como crise de choro e falta de ar e foram atendidos por equipes do Corpo de Bombeiros e do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

Também nessa data, alunos de uma escola estadual no bairro da Torre, na Zona Oeste da capital, precisaram de atendimento médico por causa de crise de ansiedade. Os estudantes foram socorridos após uma perseguição policial e prisão no pátio da unidade de ensino.

Antes, no dia 8 de abril, 26 estudantes da Escola de Referência em Ensino Médio Ageu Magalhães, em Casa Amarela, Zona Norte do Recife, passaram mal, em uma crise de ansiedade. Com falta de ar, tremor e crise de choro, os alunos foram socorridos pelo Samu, mas nenhum deles precisou ser levado para o hospital.

"A gente já vinha percebendo o que eu chamava de 'tsunami de problemas de saúde mental' nos nossos adolescentes, mas a pandemia potencializou isso. Para eles, que têm uma sensibilidade muito maior que a nossa [adultos], a parte neurológica ainda não está totalmente desenvolvida, então tudo isso a gente tem que levar em consideração", disse Carolina.

Ela é fundadora e diretora executiva da consultoria educacional Vozes da Educação, que trouxe algumas reflexões sobre o que pode estar acontecendo com a saúde mental dos jovens . Segundo a especialista, seria fundamental a realização do "reconhecimento afetivo do ambiente escolar".

"É aquele momento em que você pega os alunos e leva ele para visitar a escola, conhecer o espaço, revisitar onde que você tem memórias aqui, as novas memórias que você quer criar, um vínculo maior entre os alunos. Tudo isso pode facilitar muito o momento", declarou Carolina.

Samu informou que 26 alunos de escola estadual tiveram crise de ansiedade — Foto: Reprodução/WhatsApp

Ainda de acordo com a especialista, além do trabalho preventivo é necessário saber identificar e agir diretamente sobre o problema, uma vez que ele já esteja posto.

"É preciso que a família esteja mais próxima da escola. A gente faz isso reconhecendo os fatos difíceis e entendendo que a gente precisa trabalhar. Falar sobre isso é essencial, minimizar o estigma é essencial. Enquanto a gente fica agindo que está tudo bem e escondendo embaixo do tapete, não vamos conseguir resolver o problema", declarou.

Ela também ressaltou a necessidade de mais pesquisas que ajudem profissionais da saúde e da educação a entender como anda a saúde mental dos jovens brasileiros.

"Esse tipo de informação a gente precisa ter no Brasil e falar sobre saúde mental da mesma forma em que a gente fala sobre um braço quebrado ou diabetes, é um problema que está assolando todo mundo e acometendo os nossos jovens. A gente não vai estar imune a isso", disse.

Papel da escola

Fundadora do Vozes da Educação, Carolina Campos, alertou sobre a saúde mental de jovem em entrevista ao Bom Dia PE de segunda-feira (23) — Foto: Reprodução/TV Globo

Com esse tipo de ocorrência surgindo, cada vez mais, em ambientes escolares, as famílias dos alunos podem se questionar sobre a necessidade de as unidades de ensino contarem com um profissional capacitado para lidar com esses problemas de saúde mental.

De acordo com a especialista, a contratação desses profissionais é bastante complexa pela dificuldade nacional em se regulamentar e estabelecer os detalhes sobres a atuação de psicólogos e assistentes sociais em escolas.

"A gente percebe que a escola não pode ser responsabilizada por tudo. A gente vai ter que criar um protocolo de encaminhamento à saúde mental. Não dá para você fazer terapia com o aluno dentro da escola, mas você tem que encaminhar esse aluno para alguém", contou.

Ela disse, ainda, que professores e educadores, também sobrecarregados pelas demandas profissionais e emocionais da pandemia da Covid-19, não podem ser encarregados de realizar diagnósticos, mas podem ficar aptos a reconhecer o que está acontecendo.

"Nós temos que ter a noção de que nós somos os adultos da relação. Nós é que temos em nossas mãos o controle, então quem tem que ficar calmo e manter o controle e não se desesperar somos nós, os educadores, os pais, a família", afirmou.

Samu

Coordenador geral do Samu, Leonardo Gomes, relata o aumento nos atendimentos à crises de ansiedade entre jovens — Foto: Reprodução/TV Globo

Segundo o Samu, de janeiro a abril de 2021 foram registrados seis atendimentos por crise de ansiedade. Nesse mesmo período em 2022, o número subiu para 19, o que equivale a um aumento de 216%.

"Tiveram fenômenos que acontecerem esse ano em que, no mesmo local, mais de um adolescente passou mal com crise de ansiedade e desencadeou uma reação com outros adolescentes. Isso mostrou que algo está diferente do que era o padrão de atendimento do Samu", disse o coordenador-geral do Samu, Leonardo Gomes.

Ainda de acordo com ele, esse tipo de atendimento é algo que é esperado e descrito em literatura, mas se torna uma "novidade que já se esperava em um momento de tantas mudanças como a pandemia da Covid-19".

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