Por Mhatteus Sampaio, TV Globo


Mês da Consciência Negra: veja exemplos de conduta, respeito e consciência cidadã

Mês da Consciência Negra: veja exemplos de conduta, respeito e consciência cidadã

Em terra onde tem criança, a responsabilidade é de todos. É com essa frase em mente que todos do terreiro Égbè Ómò L'omi, em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, procuram fortalecer a identidade e ensinar as crianças da comunidade a encarar situações que as pessoas pretas enfrentam, como o racismo estrutural e a intolerância religiosa (veja vídeo acima).

(Novembro é o mês da consciência negra e, nesta segunda-feira, a Globo exibe reportagens especiais sobre o tema nos telejornais Bom Dia PE, NE1 e NE2. Uma delas aborda iniciativas de empresas para combater a falta de diversidade racial nas equipes de funcionários.)

Alabá, de 4 anos, é dofona de Oyá, uma criança iniciada no candomblé. Ela vivencia a religião de matrizes africanas há três anos. Entretanto, desde quando estava grávida, a mãe dela, a ialorixá Janielly Maria, conversa com a filha sobre as dificuldades do mundo.

“As crianças são a parte principal para que a gente esteja aqui e, no futuro, outras pessoas estejam também. O acolhimento das crianças, o ouvir, o entender, o saber. A gente aprende muito mais do que ensina”, afirmou a ialorixá.

Crianças vivenciam terreiro em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife — Foto: Reprodução/TV Globo

No terreiro, a grande maioria é de pessoas negras que, ali, encontram um espaço de acolhimento e também cura, explicou Janielly.

“O racismo é visceral, afeta todos os lugares, em todos os âmbitos. Aqui, esse espaço, é um lugar de cura. A gente se reúne para chorar, para montar estratégias, se manter vivo”, disse.

A ialorixá afirmou que as mulheres que vieram antes dela sofreram mais ainda com preconceito e racismo. “Eu tenho ciência que, quando meus filhos adentrarem alguns espaços, a gente, enquanto mãe, já vai ter aberto um grande caminho. Vai ser mais tranquilo para eles, não porque não vai existir [preconceito], mas porque eles vão ter essa base forte”, disse.

A troca de experiência entre os mais novos e os mais velhos aumenta o envolvimento com a religião, sendo a música uma das expressões de respeito e conexão com a ancestralidade. As crianças que vivenciam o terreiro Egbé Omô Alabi tanto são filhas de santo, quanto carnais, como Luna e Lara, que são filhas de Marianne Batista.

Marinne Batista coloca o torso na cabeça da filha — Foto: Reprodução/TV Globo

A mãe passa o ensinamento para as meninas de que é preciso resistir, ser fortes e corajosas para enfrentar a falta de respeito que, muitas vezes, encontram na sociedade, como o que Luna passou na escola.

“Eu fui pedir para brincar com a menina. Ela não deixou e ‘me chamou’ de macaca”, recordou Luna Beatriz, de 11 anos.

Marianne foi à escola para conversar com a direção e notou a falta de preparo. “Foi um peso muito grande. Ela falava só ‘Ah, mas existe macaco albino também’. A única coisa que exigi da escola foi que os pais [da criança] estivessem presentes. Quando eles chegaram, eu tive certeza do porquê a criança tinha feito aquilo, porque eles minimizavam o problema”, declarou.

Miguel Vitorino, de 10 anos, estava brincando com outro garoto, quando ouviu um comentário sobre o cabelo. “Senti tristeza. Ele estava chamando meu cabelo de feio. Nós todos somos iguais. Não precisa ter diferença de caráter e não precisa esse racismo todo”, disse o menino.

Denise Botelho é especialista em em relações étnicas raciais da Universidade Federal Rural de Pernambuco — Foto: Reprodução/TV Globo

Especialista em relações étnicas raciais da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Denise Botelho ressalta que a família é a base dos ensinamentos das crianças, dentro e fora dos terreiros.

“Muitas vezes, aquela criança negra, aquele menino negro já é olhado com diferença pelas próprias professoras, pelos professores. Há uma baixa expectativa para essas crianças. Nós precisamos olhar para isso, a escola precisa olhar para isso”, afirmou.

Ainda de acordo com Denise, a diferença pode ser bem-vinda, desde que não seja transformada em desigualdade. “Nós fortalecemos as identidades das nossas crianças para elas saberem que não estão fazendo nada de errado. O nosso princípio é estar em sintonia com as prerrogativas que Deus quer para nós: sermos felizes”, declarou.

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