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Saúde

Crianças deverão voltar às aulas sem receber vacina contra Covid-19, apontam especialistas

Médicos acreditam que país perderá janela de oportunidade se não imunizar jovens entre 5 e 11 anos antes do início do ano letivo
Vacinação de crianças nos Estados Unidos, onde a aplicação pediátrica para a Pfizer foi liberada; aval tem relevância para o Brasil. Foto: JONATHAN CHERRY / REUTERS
Vacinação de crianças nos Estados Unidos, onde a aplicação pediátrica para a Pfizer foi liberada; aval tem relevância para o Brasil. Foto: JONATHAN CHERRY / REUTERS

BRASÍLIA - Apesar da expectativa de que o Ministério da Saúde comece a vacinar crianças de 5 a 11 contra Covid-19 a partir de janeiro, especialistas consideram improvável que todo o público desta faixa etária seja imunizado antes da volta às aulas. Médicos criticam a lentidão da pasta em definir o cronograma para vacinação deste grupo e a decisão de submeter o tema a consulta pública. Até agora, o ministério ainda não definiu quando as crianças começarão a receber as primeiras doses.

Após demonstrar resistência à imunização infantil, nesta segunda-feira, a pasta se posicionou a favor da vacinação de crianças. Em nota, disse que recomenda a inclusão de pessoas de 5 a 11 anos no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19 (PNO) e que f ormalizará a decisão no dia 5 de janeiro após ouvir a sociedade. A pasta afirmou ainda que a vacinação pode começar em janeiro, mas sequer estimou uma data. Informou apenas que em outubro negociou com a Pfizer a compra de 100 milhões de novas doses de vacina, a serem aplicadas em todas as faixas etárias que vierem a ser incorporadas no PNO.

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A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou a indicação da vacina da Pfizer para crianças de 5 a 11 anos no dia 16 de dezembro. O GLOBO entrou em contato com a Pfizer para pedir detalhes sobre o cronograma de entrega de doses pediátricas, mas a farmacêutica afirmou apenas que isso deve ocorrer a partir de janeiro de 2022, sem fornecer detalhes nem datas.

Diante da indefinição, especialistas alertam que a pasta deveria acelerar o processo para garantir o maior número de crianças imunizadas antes do início do ano letivo.

— São 20 milhões de crianças de 5 a 11 anos, a gente precisa pelo menos desse número para dar primeira dose em todas. No entanto, pelo que temos ouvido, o cenário mais otimista é conseguir 15 milhões no primeiro trimestre. Acho que não teremos condições de vacinar todos antes das aulas — afirma Renato Kfouri, pediatra e membro da Câmara Técnica Assessora de Imunização Covid-19 (Ctai), que orienta o Ministério da Saúde sobre temáticas relativas à vacinação.

A Ctai se manifestou a favor da vacinação de crianças e, caso o ministério confirme a imunização deste grupo, será responsável por definir de que maneira será operacionalizada a campanha, a ordem dos grupos prioritários dentro dessa faixa etária, entre outros pontos. No dia 18 de dezembro, o Ministério da Saúde anunciou que decidiria sobre a vacinação de crianças após realização de uma consulta pública, que está aberta até o dia 2 de janeiro.

— Para isso precisamos saber com que intervalo as doses chegarão. Desde a aprovação da Anvisa o Ministério poderia estar acelerando a negociação com a farmacêutica. Essa questão de consulta pública é uma bobagem que não deveria atrapalhar. Sabemos que a variante Ômicron está chegando e tende a atingir mais os não vacinados— criticou Kfouri.

Na segunda-feira, a Associação Médica Brasileira (AMB) divulgou uma nota em defesa da vacinação de crianças. Na ocasião, a entidade rebateu posicionamento do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que afirmou que a questão não demandava urgência, sob o suposto argumento de que o número de óbitos de crianças por Covid-19 era pequeno.

Segundo a AMB, a necessidade de vacinação de um grupo não se dá somente pelo quantitativo de óbitos. Para o presidente da entidade, César Fenandes, a demora em vacinar crianças pode gerar um cenário preocupante com a volta às aulas.

— Quanto antes for tomada a decisão de vacinar, melhor. Parece que a decisão está sendo procrastinada, empurrada com a barriga. As crianças ficarão em ambientes fechados. A variante Ômicron parece ser a mais transmissível. Se as crianças voltam a se encontrar, elas têm possibilidade maior de se contaminar, levar a variante para casa, ou contaminar professores e funcionários — analisa Fernandes.

A pediatra e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Isabella Ballalai, destaca a importância da manutenção de protocolos como uso de máscara para minimizar os riscos no ambiente escolar.

— As crianças estão suscetíveis e vão voltar para escola sem estar vacinadas. Não vamos conseguir vacinar todas as crianças ou chegar a uma cobertura boa em janeiro. Não é possível relaxar o protocolo, sobretudo enquanto não estão vacinadas — diz. — Nenhum de nós poderia esperar uma situação como essa. É a primeira vez na história do Brasil que se faz consulta pública para definir sobre vacinação.