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Coronavírus: pandemia leva 57% dos alunos do ensino médio brasileiro a terem aulas em casa

Quinze estados, que somam 4,2 milhões de alunos nesta etapa, definiram métodos de ensino não presenciais para compensar a falta de aulas durante a quarentena
Unesco estima que 1,5 bilhão de estudantes tiveram escolas fechadas em 165 países por conta do coronavírus Foto: KAI PFAFFENBACH/Reuters / KAI PFAFFENBACH/Reuters
Unesco estima que 1,5 bilhão de estudantes tiveram escolas fechadas em 165 países por conta do coronavírus Foto: KAI PFAFFENBACH/Reuters / KAI PFAFFENBACH/Reuters

RIO - Neste mês, mais da metade do ensino médio brasileiro terá aulas à distância por conta do novo coronavírus . Um levantamento com todas as redes estaduais de educação , feito por O GLOBO, mostrou que 15 delas decidiram realizar a reposição com algum método não presencial. Juntas, elas somam 4,2 milhões de alunos somente no ensino médio – o que corresponde a 57% dos cerca de 7,4 milhões de estudantes (incluindo as escolas privadas) nessa etapa.

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Os meios adotados variam entre os estados, mas há o predomínio do uso de ferramentas on-line. São Paulo, por exemplo, estreará hoje seu sistema . A rede usará um aplicativo de aulas à distância e também transmitirá conteúdos pela TV Cultura. Já o Rio, assim como outros estados, usará ferramentas do Google Classroom também a partir do dia 13. Na plataforma, o aluno entra em sua turma virtual para ter acesso às lições. Já no Maranhão, além da TV, também haverá sessões diárias de ensino pelo rádio.

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Moradora de Senador Camará, no Rio, Fabiane Santos, de 17 anos, tem só um telefone celular para fazer as aulas. O modelo, antigo, é o de teclado externo. Para piorar, a tela está com defeito. Ela está no 3º ano do Colégio estadual Bangu e, no fim do ano, fará o Enem, que teve seu calendário mantido pelo MEC .

Redes estaduais no Brasil Foto: Editoria de Arte
Redes estaduais no Brasil Foto: Editoria de Arte

– Meu telefone fica dois, três dias sem funcionar. Depois volta – conta Fabiane, que não sabe se conseguirá acompanhar as aulas com eficiência.

A secretaria estadual de Educação do Rio oferece, como alternativa, materiais impressos para quem não tem acesso à internet.

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– Nada substitui o professor em sala , mas essa situação atípica não foi opção da secretaria. A oferta de aulas on-line é a única forma de manter os alunos estudando sem colocar vidas em risco. A alternativa seria deixá-los em casa sem conteúdo nenhum durante o período de quarentena sem previsão de retorno – afirma Pedro Fernandes, secretário estadual de Educação do Rio, que prevê aulas de reforço na rede.

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E nas 15 redes que terão aulas não presenciais, outros 4,25 milhões de alunos do ensino fundamental (do 1º ao 9º anos) também estudarão de casa. Isso corresponde a 15% dos alunos do país nessa etapa, ofertada principalmente por prefeituras. As cidades do Rio e São Paulo, que contam com as duas maiores redes do país, também terão aulas por aplicativos na internet. Juntas, têm 876 mil alunos.

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Outros três estados (Minas Gerais, Paraná e Acre) estudam ainda modelos para compensar a falta de aulas com atividades não presenciais. Se aprovados, o número de estudantes de ensino médio chegará a 5,2 milhões de estudantes com aulas em casa ou 71% dos alunos do ensino médio brasileiro. Há ainda oito estados que suspenderam as aulas, mas, por enquanto, não anunciaram medidas similares.

Modelo emergencial

Especialista em tecnologias educacionais, Helder Gusso, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), afirma que modelos adotados mundo afora têm ao menos uma característica em comum: não foram considerados pela literatura acadêmica nem como ensino à distância (quando há material programado para essa modalidade), nem homeschooling (quando os pais são os tutores). Segundo ele, estudos internacionais batizaram o que ocorrerá no Brasil por conta do coronavírus como “ensino remoto emergencial”.

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– Aqui, com poucos dias de adaptação, colocaram alunos e professores, com materiais improvisados, para terem as aulas de casa. Defendo as tecnologias educacionais, mas nesse caso adiar o calendário de aulas era a melhor medida a ser tomada – diz Gusso.

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O especialista aponta que problemas socioeconômicos e falta de um ambiente adequado para estudar em casa podem influenciar negativamente na experiência. Há, assim, o risco de prejudicar ainda mais os já baixos níveis de aprendizagem no Brasil – o que, segundo Gusso, levaria ao aumento da repetência e do abandono escolar.

Já Cláudia Costin, ex-diretora da divisão de educação do Banco Mundial, critica o baixo envolvimento do MEC na construção de políticas unificadas no país. Ela afirma que, inevitavelmente, a experiência com o ensino remoto por conta do coronavírus trará prejuízos aos alunos.

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– A escola não é só um lugar de aprender coisas, mas de socialização, de convívio. O que se tenta agora é mitigar o prejuízo com o uso de ferramentas à distância – afirma.

Nas redes sociais, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, afirmou ontem querer liberar o ensino à distância e o homeschooling para o ensino fundamental, médio e técnico. Segundo a coluna de Guilherme Amado, da Época, o governo deve enviar uma medida provisória ao Congresso para regulamentar esta última modalidade em que os pais ensinam em casa.

* Estagiário orientado por Marco Aurélio Canônico