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A opinião do GLOBO.

Por Editorial

É bem-vindo o consenso criado na equipe de transição para o novo governo a respeito do resgate de políticas públicas na área da educação. Entre elas, está o retorno da secretaria do Ministério da Educação (MEC) que tratava de ações destinadas a aumentar a diversidade e a inclusão na rede pública de ensino, extinta na gestão de Jair Bolsonaro. A Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi), cuja recriação é defendida pelo grupo sob a coordenação do economista Henrique Paim, ministro da Educação no governo de Dilma Rousseff, terá muito trabalho pela frente.

Escolhido pela militância de extrema direita como campo de batalha na guerra ideológica contra a fantasmagórica ameaça do “marxismo cultural”, o MEC ficou praticamente inerte por quatro anos, enquanto o cargo de ministro da Educação se tornava um posto de alta rotatividade. Deixou de cumprir seu papel essencial de coordenador e de apoio a estados e municípios na pandemia, quando as escolas públicas permaneceram fechadas por muito mais tempo que o razoável.

Em razão da visão preconceituosa da educação, o ministério, nas poucas vezes em que agiu, buscou atender a uma pauta retrógrada, distante das reais necessidades de um país que precisa melhorar a qualidade do ensino básico e reduzir a taxa de evasão no ensino médio. Gastou tempo e dinheiro com o lançamento de uma cartilha sobre o ensino doméstico, que as hostes bolsonaristas insistem em chamar pelo termo em inglês homeschooling. Numa deplorável perseguição ideológica, o governo fazia pressão sobre o corpo técnico do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), braço do MEC que formula o Enem e testes de acompanhamento da qualidade do ensino.

O efeito da omissão atingiu com mais intensidade as populações pobres e os negros. O fechamento das escolas na pandemia ampliou diferenças que já eram abissais — entre 2016 e 2018, 32% dos bebês declarados como pardos ou pretos frequentavam creche, ante 39% no grupo de crianças brancas; em 2019, apenas 58,3% dos jovens pretos e 59,7% dos pardos concluíram o ensino médio aos 19 anos, ante 75% dos brancos.

Os quatro anos sem qualquer preocupação no MEC com o problema deixaram às secretarias estaduais e municipais a responsabilidade de enfrentar as desigualdades. O trabalho para superar tal abismo e corrigir o atraso provocado pela pandemia é gigantesco. A volta do MEC a seu papel de coordenação fará de 2023 um ano de recuperação de pelo menos parte do tempo perdido no bolsonarismo.

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