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Política Eleições 2022

Contra cortes do governo Bolsonaro, ex-reitores de universidades miram ‘bancada da educação’ no Congresso

Iniciativa já conta com nove ex-dirigentes de instituições federais de ensino superior, que articulam candidaturas em seis estados
Plano. Manifestantes protestam contra cortes na educação: ex-reitores querem aumentar força política do setor Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo / 15/05/2019
Plano. Manifestantes protestam contra cortes na educação: ex-reitores querem aumentar força política do setor Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo / 15/05/2019

RIO — Um grupo de ex-reitores e ex-presidentes de entidades ligadas ao ensino superior se movimenta para eleger em outubro uma “bancada da educação, ciência e tecnologia” no Congresso. O movimento ocorre em reação à política de cortes nas universidades e institutos federais adotada no governo do presidente Jair Bolsonaro.

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Ao menos nove ex-reitores costuram pré-candidaturas. A maior parte busca se cacifar para disputar o Legislativo federal dentro de partidos como PT, PDT, PSB e PCdoB. Os nomes já colocados pretendem concorrer a vagas no Rio Grande do Sul, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Pernambuco e Espírito Santo.

O ex-reitor da Universidade Federal de Goiás (UFG) Edward Madureira explica que, após ser identificada uma onda de pré-candidaturas de ex-reitores, o grupo decidiu se unir e construir pontes com lideranças da comunidade científica e da educação.

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Também ex-presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Madureira pretende disputar o posto de deputado federal por Goiás e busca um partido. Ele avalia que mais pré-candidaturas ligadas às universidades e institutos federais devem ser lançadas em meio ao contexto de sucateamento da educação superior.

O mais recente episódio foi o veto do presidente no orçamento do Ministério da Educação em 2022. Os cortes somam R$ 739,9 milhões, principalmente oriundos da educação básica. A pesquisa e a educação superior também perderam recursos. A Capes, ligada à Educação, perdeu R$ 12,1 milhões que seriam utilizados na administração da unidade em Brasília.

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— A academia e as universidades estão muito sofridas. Agora mesmo temos os vetos ao Orçamento que atingem em cheio as bolsas. Não se respeita a lista tríplice para a nomeação de reitores. Não temos orçamento, não temos lei de assistência estudantil. São inúmeras as questões que dizem respeito ao futuro do Brasil — diz Madureira, que acrescenta: — Temos a bancada da bola, da bala, da bíblia, do boi. Precisamos de uma bancada da educação.

Encontros virtuais

A primeira reunião do movimento acontecerá em uma live amanhã, com a participação dos possíveis candidatos e de nomes de peso da área, como o ex-ministro da Educação Renato Janine Ribeiro, atual presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o ex-ministro de Ciência e Tecnologia Sergio Machado Rezende e o ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFpel) Pedro Hallal, epidemiologista que tem se destacado no contexto da pandemia. A proposta é que sejam realizadas reuniões semanais no mesmo formato.

O grupo quer reproduzir o bom desempenho eleitoral de nomes como o da atual prefeita de Juiz de Fora (MG), a ex-deputada federal e ex-reitora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Margarida Salomão (PT-MG), e de Newton Lima Neto (PT-SP), prefeito de São Carlos por dois mandatos e ex-reitor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

Ao menos um dos ex-reitores cogita uma candidatura ao Senado: Reinaldo Centoducatte, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), também ex-presidente da Andifes. O professor e pesquisador é filiado ao PT e negocia internamente ser candidato ao cargo majoritário, o que ainda vai depender de alianças do partido no estado e a nível nacional. No Espírito Santo, o governador Renato Casagrande (PSB) tentará a reeleição, e um eventual apoio do PT esbarra na negociação nacional entre as duas siglas. Um palanque duplo, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Ciro Gomes (PDT), é tido como alternativa.

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— A princípio seria uma candidatura majoritária em face da necessidade do partido de ter um nome, mas ainda está em análise internamente. Eu me filiei há pouco tempo nessa perspectiva. As alianças são construídas no momento, e uma candidatura proporcional, para a Câmara, poderia perturbar o arranjo — diz Centoducatte, que cita como motivação a conjuntura negacionista e de ataques à educação.

Também cogitam candidaturas a ex-reitora do Instituto Federal Farroupilha (Iffar) Carla Comerlato Jardim, o ex-reitor do Instituto Federal de Goiás (IFG) Jerônimo Rodrigues da Silva, a ex-reitora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) Maria José de Sena, a ex-reitora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Maria Lúcia Cavalli Neder, o ex-reitor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Paulo Afonso Burmann e o ex-reitor do Instituto Federal do Maranhão (IFMA) Roberto Brandão.

(Colaborou Bruno Alfano)