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Brasil

'Conhecimento precisa, principalmente, fazer sentido', afirma gerente do Futura

Historiador conta que usará Base Nacional Comum Curricular, que define o mínimo a ser ensinado nas escolas, para lançar uma coleção de vídeo-aulas na plataforma de educação
O gerente do Canal Futura, João Alegria, prepara projeto de vídeo-aulas para lançamento em abril Foto: Antonio Scorza / Agência O Globo
O gerente do Canal Futura, João Alegria, prepara projeto de vídeo-aulas para lançamento em abril Foto: Antonio Scorza / Agência O Globo

Em 2016, o Futura passava por uma reformulação. O foco eram estudantes e professores. Para conquistá-los, o que era um canal de TV virou uma plataforma multimídia e lançou seu serviço de vídeos on demand, o Futuraplay. Agora, é a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) que motiva outro salto. O documento, que define o mínimo a ser ensinado nas escolas, vai nortear uma série de vídeo-aulas que o Futura lança a partir de abril, semanalmente.

À frente da plataforma, o historiador e doutor em Educação João Alegria diz que o projeto quer atender a uma demanda dos alunos, que já buscam aulas na internet, e organizar os conteúdos com uma chancela de qualidade.

Quais os desafios de uma plataforma de educação?

É preciso estar em constante movimento. Na virada de 2015 para 2016, fizemos um plano com foco grande nas as juventudes e nos educadores. Avaliamos que estes eram os públicos extremamente estratégicos para ajudar a mexer na qualidade da educação no Brasil. Pensando nos jovens, a primeira coisa que fizemos foi devolver nossa concessão de TV aberta (hoje, o Futura pode ser sintonizado em parceria com TVs universitárias, mas não tem mais concessão de TV). Em 2017, criamos o serviço de vídeo on demand Futuraplay, com mais de 5 mil conteúdos, entre séries, programas e documentários. Lá e no YouTube, nossos vídeos têm 600 mil visualizações por mês.

E qual é o próximo desafio?

Agora, estamos fechando o foco. No site, você encontra uma área de micro-cursos, em que se aprende alguma coisa em 30, 40 minutos. Este é um caminho. E vamos iniciar em abril um projeto cobrindo a Base Nacional Comum Curricular com vídeo-aulas.

Por que usar o modelo de vídeo-aulas e como ele difere do Telecurso?

O Telecurso é completamente diferente, não tem nada a ver com o professor dando uma aula expositiva. No Telecurso, o protagonismo é do aluno, e o professor faz a mediação do conhecimento. Nas vídeo-aulas, a situação é de um professor dando aula. Sabemos que os alunos buscam isso na internet, e já tem muita gente fazendo, mas nos sentimos no dever de criar uma coleção completa, organizada, e cuja qualidade possa ser garantida. Você encontra hoje professores youtubers, e tem muita gente legal, mas também muita gente que não faz isso tão bem. O Futura vai produzir uma coleção completa de vídeo-aulas cobrindo a Base do primeiro tópico do ensino fundamental ao último do ensino médio.

A BNCC define o mínimo a ser ensinado, e há críticas de que esse mínimo seria muito pouco. O senhor concorda?

Formou-se uma compreensão social de que a Base indica o currículo escolar. Mas, na verdade, esse texto diz para nós, brasileiros, o que, no mínimo, alguém que passou pela escola deve aprender. E eu acho que o mínimo que a Base propõe é bastante grande, uma quantidade enorme de conteúdos. O conhecimento precisa, principalmente, fazer sentido. Quantidade de conhecimento pura e simplesmente não serve para nada. Passamos a vida inteira acumulando conhecimentos que desprezamos depois. Não que tudo que se aprende deva ter uma utilidade. Não é isso. É óbvio que faz parte da condição humana conhecer coisas que são para seu prazer, para o deleite. Mas, essencialmente, o sujeito deve se dedicar ao conhecimento que o ajude a ser uma pessoa melhor, que o ajude a se inserir como cidadão produtivo. As vídeo-aulas também vão contemplar isso.

E como a Base Nacional Comum Curricular trata isso?

Primeiro, a Base é resultado tanto de trabalho do Ministério da Educação quanto da sociedade. Não é uma imposição de cima para baixo, mas uma construção com profissionais da educação, para garantir que em todas as escolas do Brasil o tal mínimo de competências relativas a componentes curriculares seja construído por todos os estudantes. Mas a Base tem outros aspectos relevantes que em geral não são comentados. Por exemplo, estão lá, além de componentes curriculares, como matemática e português, as competências gerais — dez ao todo, que a Base pede para a escola realizar no que diz respeito, por exemplo, à capacidade de pensamento crítico, de participação social, de dominar linguagens contemporâneas etc. Esse aspecto da BNCC é muito caro para nossas vídeo-aulas.

Esse projeto também tem como alvo os estudantes que se preparam para o Enem?

Você encontra muita vídeo-aula na internet que é preparação para o Enem. Mas formar competências, segundo a Base Nacional Comum Curricular, não é se preparar para um exame. A Base, aliás, obriga até a repensar o Enem, porque a maneira como se entende agora a formação de competências se choca com esse treinamento para provas e concursos. Treinar e passar na prova não significa aprender. Queremos que nossas vídeo-aulas levem em consideração que existe, sim, um currículo mínimo a ser atendido para ajudar o aluno a conseguir igualdade de oportunidades, mas que existe também um aspecto de formação integral do ser humano a ser atendido.