Laura Mattos

Jornalista e mestre pela USP, é autora de 'Herói Mutilado – Roque Santeiro e os Bastidores da Censura à TV na Ditadura'.

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Conheça ideias de crianças e jovens para fazer da escola um lugar mais divertido

Mais de 6.000 projetos foram desenvolvidos por 48 mil estudantes de quase 8.000 escolas em 1.172 municípios

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Muito se tem dito que as escolas precisam se tornar mais atraentes para as crianças e os jovens e formá-los não só na decoreba, para ir bem nas provas, mas para enfrentar desafios diversos. E sabe quem tem muita ideia de como fazer isso? Os alunos.

É o que fica claro com o estudo Liga Criativos da Escola, resultado da análise de 6.271 projetos desenvolvidos por 48 mil estudantes de quase 8.000 escolas em 1.172 municípios brasileiros. Convidados a pensar sobre formas de enfrentar os problemas que mais os incomodavam, os alunos se concentraram na educação: 45% das ideias abordam o tema, sendo 32% com propostas para aprimorar métodos de ensino e 13% para melhorar o espaço escolar. Outros assuntos que os mobilizaram foram o bem-estar e as relações entre as pessoas (31%) e a preservação do ambiente (25%).

O levantamento acaba de ser divulgado pelo Instituto Alana, de defesa dos direitos da criança e do adolescente. Trata-se de um diagnóstico sobre o que pensam e o que querem os estudantes brasileiros e de um atestado do quão dispostos estão a agir para transformar suas vidas e comunidades. É um alento especialmente agora, diante dos prejuízos impostos pela pandemia ao aprendizado e à saúde mental de crianças e jovens, que retornam à escola em grande parte desmotivados, com medo e traumas.

Escutá-los e chamá-los a reconstruir a escola é um bom começo para tentar superar a tragédia imposta pela pandemia e os tantos desafios que já se impunham à educação muito antes da Covid-19. Sobre isso, é esclarecedor e preciso o que disse a estudante Ana Beatriz Aurélio, 16, de Sumaré (SP), que participou de um projeto para melhorar a autoestima de meninas negras: “Confiem nos alunos e estejam junto a eles. Apoiem. É preciso abraçar esses alunos e suas ideias, senão as iniciativas não vão para frente”.

Idealizadora de um projeto para ampliar nas escolas o debate sobre a violência contra a mulher, Betina Pacheco, 15, de Sapiranga (RS), reforça: “Prestem atenção nos alunos. Eles podem ter ideias que vão fazer uma diferença enorme em suas comunidades”.

Não é só retórica no Brasil a necessidade de se estimular a empatia na educação, o protagonismo dos estudantes, a criatividade e o trabalho em equipe. Esses são deveres das escolas, de acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento elaborado por órgãos governamentais e pela sociedade civil com as diretrizes para a renovação pedagógica e a reformulação de currículos no país.

Esses são também os pilares do Design for Change, movimento global de educação presente em 65 países, que já impactou mais de 2,2 milhões de alunos e do qual faz parte o Criativos da Escola. No Brasil, realizado pelo Alana, o programa estimula iniciativas de estudantes desde 2015 –o levantamento agora divulgado compila os melhores projetos desses cinco anos. Os prêmios giram em torno de R$ 2.000 para os grupos vencedores, mas, mais do que o dinheiro, o reconhecimento se dá pela divulgação das ações para educadores, gestores escolares, secretários de educação e pesquisadores, e por meio da valorização dos idealizadores perante a comunidade.

Dentre os participantes, 86% são de escolas públicas. Eles reivindicam melhorias para os colégios, mas também acreditam ser possível tornar o aprendizado mais eficaz e interessante a partir dos recursos já disponíveis. Apostam em projetos interdisciplinares e que partam da realidade de onde moram. Chama a atenção a consciência da importância de que haja troca de saberes entre alunos, educadores e a comunidade em geral. E a certeza de que a escola precisa ser mais divertida.

Em Brasília, por exemplo, alunos do Centro de Educação Nery Lacerda, cansados das aulas expositivas de história, criaram um plano de estudo com o jogo Minecraft, com cenários e objetivos de acordo com o conteúdo. O efeito positivo foi evidente: a matéria passou do segundo maior número de alunos em recuperação para quase zero.

Na Escola Estadual Nossa Senhora de Nazaré, em Sobral (CE), que não oferecia atividades no contraturno, estudantes organizaram, com a ajuda de professores, oficinas de idiomas, dança, informática e robótica, abertas também à comunidade.A preocupação com a leitura apareceu em 20% dos projetos ligados à educação.

Em Rio do Antônio (BA), o fechamento da única biblioteca pública da cidade levou alunos do Centro de Educação Municipal Florindo Silveira a aplicar um questionário na escola que constatou que poucos tinham o hábito de ler. Para estimular a leitura, o grupo organizou um festival de cultura e intervenções teatrais em pontos da cidade.

Os estudantes encaram questões pesadas. Em Brasília, jovens da Escola Industrial de Taguatinga, sensibilizados com a notícia de que uma garota da região havia se matado, criaram um grupo de enfrentamento à depressão e ao suicídio. Buscaram uma parceria com o Centro de Valorização à Vida (CVV) para realizar palestras, seminários e rodas de conversa. Promoveram o acolhimento de colegas com atividades ligadas à arte, como a dança e o teatro, e criaram, em 2019, o “momento do abraço”.

Com a pandemia, quando nem os abraços são possíveis, mais do que nunca é preciso se conectar aos estudantes. Como fala um jovem em um vídeo da Liga Criativos da Escola, “os estudantes estão encarando grandes tretas, que exigem a atenção de todos”. E, como diz o garoto, as soluções que eles próprios encontram “são preciosas”.

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