Cultura
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Por Fabiano Ristow

Quando as aulas presenciais retornaram, o professor baiano João Eduardo Machado viu a relação com seus alunos mudar de forma definitiva. Os estudantes, que têm até 15 anos, passaram a tratá-lo como celebridade. Não à toa: para se aproximar do universo jovem num momento em que o ensino acontecia apenas à distância, ele decidiu publicar pílulas de aulas no TikTok. Os vídeos viralizaram e, agora, Professô João, como é conhecido na internet, é um influenciador com quase dois milhões de seguidores na rede — que, em setembro de 2021, atingiu um bilhão de usuários ativos, ou cerca de 14% da população mundial. É um exemplo positivo de como as redes sociais tiveram um papel de destaque no dia a dia dos jovens durante a pandemia.

— No EAD, foi drástica a redução na capacidade de concentração dos alunos. Eu precisava de uma ferramenta que me tornasse mais interessante do que a cama deles ou o cheiro de comida vindo da cozinha — lembra Machado, que começou fazendo chamadas virtuais “engraçadinhas”.

Pedagogos e educadores consultados pelo GLOBO são unânimes em dizer que a presença e o impacto da tecnologia na vida dos alunos — em especial a do TikTok — são um caminho sem volta. Para se ter uma ideia, embora o aplicativo não divulgue o número de usuários por regiões, a consultoria alemã Statista estimou, em 2021, que o Brasil é o segundo país que mais usa o serviço, atrás apenas da China, onde foi criado pela empresa Bytedance. Além disso, 66% dos usuários têm menos de 30 anos, consolidando o TikTok como um espaço virtual majoritariamente jovem.

Especialistas dizem que, agora, o desafio dos professores é extrair o que há de bom dessas ferramentas. Para Thais Bozza, doutora e mestra em Educação pela Universidade Estadual de Campinas, educadores devem ter consciência de que, após quase dois anos passando até 14 horas na internet, os estudantes não vão interromper esse hábito da noite para o dia:

— Vamos precisar fazer intervenções sempre que um aluno não conseguir se autorregular. E refletir, por exemplo, quais conteúdos funcionam no TikTok e como podemos implementá-los nas aulas.

O humor e a leveza são as táticas usadas pelo youtuber e professor Rodrigo Retka, do canal Arte de Segunda e coordenador dos anos finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio da Rede Pensi, para cativar a atenção dos estudantes. Em seus vídeos sobre História da Arte, não faltam inserções de imagens e palavras, além de especialistas convidados. A capa do álbum “Artpop”, de Lady Gaga, por exemplo, foi usada para abordar a arte contemporânea e clássica.

— Manter aceso o interesse do aluno significa dialogar com sua linguagem e explorar a velocidade das redes a nosso favor — afirma Retka.

Outros passos

Embora para muitas pessoas o aplicativo ainda seja conhecido apenas pelas dancinhas e por alavancar músicas nas paradas globais, é possível encontrar um pouco de tudo por ali. Em agosto de 2021, a plataforma deu início ao Programa de Aceleração #AprendaNoTikTok, convidando criadores brasileiros a workshops para aprenderem a produzir vídeos educativos. Na hashtag, há mais de sete bilhões de visualizações em aulas curtas que misturam entretenimento com disciplinas como biologia, matemática e história.

— Vemos que, quando um dos nossos criadores de conteúdo apresenta um livro ou resolve exercícios de matemática, por exemplo, traz na esteira dicas para redações e abre portas para que outras pessoas entrem em contato com esses universos — diz Kim Farrell, head de Operações e Marketing do TikTok para a América Latina, destacando o número de visualizações do termo #TikTokeducacao (3,8 milhões apenas no Brasil, chegando a 2 bilhões se somadas as variantes internacionais).

A executiva reforça ainda que, nos últimos anos, o aplicativo ofereceu a usuários mais ferramentas para tornar a comunidade virtual um ambiente mais saudável, incluindo opções para as pessoas gerenciarem o tempo de tela e programarem avisos para pausas.

Aumento da ansiedade

Uma das estratégias de professores que utilizam o TikTok para atrair a atenção dos alunos é um recurso chamado pelos pedagogos de aprendizado ativo. Nele, em vez do formato tradicional das salas de aula, em que um docente fala e os estudantes ouvem, os jovens são estimulados a resolver lições por meio de vídeos no aplicativo.

Foi o que fez Klinger Teodoro Ciríaco, do Curso de Pedagogia da Universidade Federal de São Carlos. Ele percebeu que, em carne e osso, muitos jovens tinham uma persona bem diferente daquela exibida on-line. Decidiu, então, aprender a mexer em redes sociais:

— Criei, com os alunos, conteúdos audiovisuais sobre matemática, porque um vídeo curto é mais inclusivo do que uma aula de três horas. Parece fácil, mas não é. Exige planejamento, roteiro e conhecimento acerca da linguagem audiovisual. É claro que a lousa vai continuar existindo, mas é possível ter no TikTok publicações pedagógicas criativas.

Para Andrea Ramal, doutora em Educação pela PUC-Rio, um dos desafios é conseguir fazer com que os alunos se concentrem nas aulas, problema que é agravado, acredita, pelo uso excessivo de redes sociais.

— A exposição, a busca por “likes” e a adrenalina dos compartilhamentos aumentam problemas de ansiedade. É nítido como hoje há muitos alunos com dificuldade de prestar atenção — diz a educadora, acrescentando que os professores também se sentem vulneráveis. — Há alunos que filmam uma fala fora de contexto, postam nas redes e estimulam ataques ao professor.

Thais Bozza, da Unicamp, salienta que é preciso ficar atento aos efeitos negativos.

— Conflitos da vida real também se estendem para as redes sociais, com casos de cyberbullying e linchamentos virtuais, e com a grave diferença de que na internet a repercussão é maior — alerta.

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