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Como o conselho de classe pode ajudar na aprendizagem

Saiba como organizar esse importante momento para incluir os estudantes e até os pais

POR:
Nairim Bernardo
Professor sentado em uma mesa longa em uma sala de aula está cercado por outros alunos mais velhos
Foto: Getty Images

O conselho de classe é o momento em que, ao final do bimestre, gestores e professores se reúnem para discutir o desempenho de seus alunos no período que passou e traçar planos de ação para os próximos meses. Mas por que não incluir os próprios estudantes, e até mesmo os pais, nesse momento? Um conselho de classe mais participativo e democrático pode ajudar, e muito, no levantamento de possíveis soluções para um melhor aproveitamento escolar e recuperação de quem, até então, não tem apresentado boas notas.

Joice Lamb é coordenadora pedagógica na Rede Municipal de Nova Hamburgo (RS) e Educadora Nota 10. Segundo ela, o primeiro passo para se estruturar um bom conselho é desenvolver entre os professores uma ideia de avaliação formativa. “Estamos avaliando para ver quais são as dificuldades do aluno, não para sentenciá-lo. Se ele não está apresentando resultados positivos, é porque não estamos ensinando direito, incentivando seu aprendizado ou ele tem uma dificuldade real, que pode ser de ordem cognitiva”, defende. “Quando a nota é ruim, todos acham que a falha é só do aluno. Uma parte é dele sim, mas as outras são dos outros agentes envolvidos no seu processo de ensino”, complementa.

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“Além de discutir as situações específicas de cada aluno, os professores precisam propor planos de ação para a recuperação: planos de estudo, monitoria aluno-aluno, aulas de reforço e recuperação, atividades na própria sala em que o professor consiga dar uma atenção especial para alguns alunos. Tudo isso pode ser decidido no conselho de classe, mas a pouca periodicidade pode ser um problema. O acompanhamento tem que ser constante”, comenta Maria Luiza Ramos, pedagoga e formadora da Elos Educacional.

Essa é mais uma matéria de NOVA ESCOLA GESTÃO sobre o terceiro bimestre e nela abordaremos modos de organizar um conselho de classe mais participativo para que, juntos, educadores e estudantes consigam detectar problemas e soluções para a melhoria do ensino. Vale lembrar que o ideal é que esse modelo de conselho seja adotado durante todo o ano letivo, mas instituir a prática agora ainda pode trazer bons resultados, além de ser um teste para uma possível futura implementação.

Em 2017, publicamos uma matéria com exemplos de escolas com conselhos inovadores. Agora, voltamos a falar com a EE Professor Sérgio da Silva Nobreza, em São Paulo, e com a Escola Técnica Estadual Cícero Dias (NAVE), em Recife. Devido ao sucesso da proposta, ambas continuam adotando modelos de conselhos de classe participativos. Com a ajuda das diretoras das instituições, de Joice Lamb e de Maria Luiza Ramos, reunimos dicas para você, gestor, repensar o conselho de classe na sua instituição.

Dados

O primeiro passo para que o conselho funcione bem é a dedicação dos professores em organizar bem os dados das avaliações. “Precisa existir um sistema de monitoramento inteligente: planilhas virtuais compartilhadas com os professores para todos poderem fazer registros que possam ser acessados rapidamente”, sugere Joice. Além disso, tudo o que for discutido durante reuniões e conselhos também precisa ser facilmente acessado, “As atas não podem ser fechadas para a gestão, precisam ser abertas para os professores do ano atual verem o que aconteceu com aquele aluno nos conselhos de anos anteriores. Um documento escolar tem que ser funcional, ele guardado não tem valor”, complementa.

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Na EE Professor Sérgio da Silva Nobreza, em São Paulo, os professores lançam as notas das avaliações em um sistema eletrônico, o boletim escolar digital. Assim, as notas podem ser acessadas de maneira rápida, simples e em qualquer lugar. “Os alunos têm tem uma visão de todas as suas notas e os professores conseguem ver as da sua disciplina. Alguns pais ainda solicitam o boletim em papel, que podemos imprimir para eles”, conta a diretora Hívia Polese.

Ouvir os alunos

Aldineide de Queiroz, diretora da Escola Técnica Estadual Cícero Dias/NAVE, em Recife, conta que antes do dia do conselho de classe é realizado um pré-conselho com a gestão, professores, grêmio escolar e 24 representantes de classe, sendo dois por sala. Cada turma organiza seu formulário online, reúne os comentários dos estudantes e organiza as informações em planilhas.  “Pensamos que precisamos ouvir o aluno e entendê-lo além de uma nota. A escuta ajuda a entender o que aconteceu no bimestre, e a partir desses relatos damos encaminhamento para os caminhos da escola”. No início do projeto, os alunos podiam fazer falas específicas sobre cada professor, inclusive com reclamações. Agora, a sugestão é que os comentários sejam menos diretos e que eles busquem soluções para os problemas, elencando pontos positivos e sugestivos.

Ela sugere que para implementar um conselho de classe participativo, é necessário primeiro conversar com os alunos de toda a escola para orientá-los sobre o objetivo maior dessa ação, que é conseguir modos de promover melhorias na aprendizagem. “É preciso que sejam escolhidos, pelos próprios alunos, representantes de classe, pois a gestão não consegue ouvir diretamente a opinião de todo mundo. Deve ser alguém que tenha a capacidade de falar com respeito e responsabilidade, tanto com os colegas quanto com os educadores”.  Segundo ela, com base nos relatos e sugestões, algumas metodologias já foram mudadas pelos professores para atender melhor os estudantes.

Hivia Polese, da Sérgio da Silva Nobreza, acredita que dar autonomia para que os alunos falem sobre seu próprio processo de aprendizagem pode facilitar na busca por soluções.Se [durante o conselho] estou falando de um aluno que apresentou maior dificuldade em uma matéria, pergunto para ele o que aconteceu. Ele mesmo consegue falar sobre isso. Às vezes foi uma falta, uma atividade que ele perdeu ou algo básico do conteúdo que ele não entendeu e dificultou a assimilação do todo. Quando conseguimos levantar as fragilidades dos alunos, conseguimos enxergar soluções. Sempre dá tempo de ajudá-los”, comenta.

Professores e gestores trabalhando juntos

Os professores têm um papel essencial para que a gestão consiga conduzir um bom conselho. Afinal, é com base em seus apontamentos que se dará o diálogo com os alunos. “Se o professor não anota o que aconteceu em sala e durante as avaliações, a gestão não tem o que falar sobre ou com o aluno”, diz Joice Lamb. Além disso, registros bem feitos colaboram para uma avaliação transparente e justa, “Sem anotações, ele não pode dar uma avaliação ruim para o estudante. A avaliação é pública para que toda a equipe saiba o que aconteceu e possa ajudar. O professor não pode ser “dono do destino” do aluno e tomar decisões escondido”, aconselha. 

Diretores e coordenadores também precisam se envolver efetivamente nas ações e não sobrecarregar os docentes. Tarefas como chamar os pais, conversar com eles, conversar com alunos que estejam apresentando dificuldades específicas, colaborar na formação de professores, são de sua responsabilidade. Uma gestão que executa bem suas tarefas pode motivar toda a equipe.

Criar um clima de abertura e confiança na equipe escolar para que as pessoas se sintam à vontade para expor suas dificuldades também é responsabilidade da gestão. “As ações podem ser pensadas coletivamente, o professor não precisa decidir tudo sozinho. Quando ele compartilha suas dificuldades em relação aos alunos, ele pode receber soluções de outros colegas, que devem ajudá-lo e acolhê-lo”, sugere a formadora Maria Luiza. “O que acontece numa turma pode ser inspirador para outra. Os professores precisam se abrir pra isso. E não ter medo de expor suas dificuldades”.

Contato direto com os pais

Outra inovação da EE Professor Sérgio da Silva Nobreza é trazer, além dos alunos, os pais para o momento do conselho de classe. No início do ano a escola determinou as datas e, quando uma delas se aproxima, envia um convite por escrito para os pais e alunos. Os horários são divididos e são destinados cerca de 30 minutos para cada turma. Na reunião, estão sempre presentes a diretora ou a vice, um coordenador pedagógico, o grêmio e os alunos e pais que quiseram participar. Segundo a diretora Hivia Polese, a participação é grande, pois todos querem saber o que os professores irão falar.

“A partir do momento em que estão todos presentes, tentamos traçar o perfil geral da sala. Falamos como o professor está trabalhando cada questão e como está lidando com cada aluno. Alguns estudantes têm dificuldades maiores, então não posso deixar de pontuar isso também”, conta ela.  “Com a ajuda dos pais é mais fácil suprir algumas dificuldades e defasagens. Com os alunos mais tímidos, os responsáveis ajudam também no diálogo entre criança e escola”.

Reprovação como última alternativa

Depois que as notas forem levantadas e todos os participantes no processo de ensino-aprendizagem ouvidos, é preciso ainda discutir a questão da reprovação. “Isso não é um recurso pedagógico, é um castigo. Só a reprovação não faz a criança aprender mais no ano seguinte”, defende Joice. “É preciso haver o consenso de que reprovar não é um direito do professor, porque alguns acreditam que se isso não for feito, sua reputação estará “manchada”. Quando o aluno é reprovado a falha não é só dele, mas dos outros agentes também. Talvez a reprovação seja mesmo necessária, mas não pode ser por falta de tentativa”.

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