Como é estudar em uma escola trilíngue? Vale a pena?


Colégios com aulas diversas em três idiomas atraem interessados em formação cultural ampla, acesso a universidades estrangeiras e diferencial no mercado de trabalho para o futuro

Por Guilherme Santiago
Atualização:

Imagina ter aula de Geografia em Português, aprender Matemática em Inglês e depois ainda encarar Química em Espanhol? Para quem frequenta uma escola plurilíngue, pode ser mais um dia normal. Esses colégios não oferecem apenas classes pontuais de outros idiomas, mas conteúdos do currículo tradicional em outras línguas. Assim, o trabalho com os idiomas não é visto como disciplina, mas um projeto pedagógico, com imersão mais completa em outras línguas e culturas.

As unidades bilíngues já ganharam força há mais tempo no Brasil: a estimativa do setor é de 10% de aumento de unidades do tipo de 2014 a 2019, último ano antes da pandemia. Embora existam em número bem pequeno, escolas trilíngues ou plurilíngues chamam a atenção pelo modelo diferente. Não há levantamento sobre quantas são no País e as diretrizes nacionais para esses colégios estão em fase final de debate pelo governo federal.

O perfil de interessados varia. Parte é de alunos cujas famílias têm origem no exterior (Itália ou França, por exemplo) e há interesse de vivência maior nessa outra cultura, além do aprendizado em Português e Inglês. E há pais que apostam na vivência múltipla e nos benefícios para o desenvolvimento cognitivo. A facilidade, no futuro, de entrar em uma universidade estrangeira é outro atrativo.

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Para Eric Endo, que matriculou o filho Henry em escola triilíngue, proposta não vale só pelo aprendizado em outros idiomas, mas pelo ganho cultural Foto: Werther Santana/Estadão

Para as escolas, o desafio é equilibrar a formação e os conteúdos nos diferentes sotaques, além de encontrar professores que saibam ensinar disciplinas diversas em outro idioma (tipo de profissional raro no Brasil). Para as famílias, é necessário entender se a proposta está alinhada aos objetivos (só a busca pela proficiência em idiomas, por exemplo, não deve guiar a decisão) e monitorar se o filho vai se adaptar ao formato.

Na Camino School, na Pompeia, zona oeste de São Paulo, os estudantes aprendem e ganham fluência no Português, no Inglês e no Espanhol. A coordenadora de currículo Cuca Righini explica que há duas esteiras de aprendizado. De um lado, um currículo mais denso voltado para os dois primeiros idiomas; do outro, uma grade em Espanhol, menos densa, mas também importante.

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“Quando a criança aprende habilidades leitoras e escritoras em duas línguas ao mesmo tempo, naturalmente transfere o conhecimento de uma para outra. E assim é mais fácil aprender a terceira língua”, afirma. A unidade abriu as portas em 2020.

O engenheiro de software Eric Endo conta perceber essa naturalidade no aprendizado do filho Henry, de 7 anos. Em casa, ele e a mulher só conversam em Português com o filho, mas já percebem muitos conhecimentos adquiridos por Henry pelo contato que ele tem com outros idiomas na Camino.

“Outro dia estávamos em uma conversa que envolvia datas e horários. E o Henry perguntou se poderia falar em Inglês. Como as aulas de Matemática na escola são em Inglês, para ele ficaria mais fácil”, conta. “É interessante como desde pequeno ele já tem essa virada de chave e uma compreensão super bacana dos idiomas”, diz.

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O casal não é fluente em outros idiomas e diz que até agora a lição de casa não foi problema - nada que o Google não ajude. Planos de viver no exterior a família ainda não tem, mas acredita já estar em vantagem. “A gente não sabe se um dia vai surgir oportunidade de morar fora, mas caso surja, achamos importante que ele já saiba falar os idiomas”, diz Endo.

“O idioma é importante, assim como a cultura”, destaca. Uma das propostas que mais chamaram a atenção, segundo ele, são as feiras latinas no colégio, que trazem abordagem não eurocêntrica. A programação inclui apresentações de música, dança e oficinas preparadas por alunos e professores.

Já a Escola Gato Xadrez, no Tatuapé, zona leste, é focada em educação infantil, com alunos até 6 anos. O aprendizado de Inglês e Espanhol ocorre por meio de atividades lúdicas. “É um aprendizado muito mais por brincadeiras”, diz Wagner Saldanha, coordenador pedagógico de línguas.

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“Em Espanhol, por exemplo, usamos a pinhata (brinquedo colorido, que faz parte da tradição de vários países ibero-americanos). E isso envolve a aula de Arte, porque é um objeto que os próprios alunos produzem”, explica. “Temos também o Pet Day, um dia em que as crianças trazem o animal de estimação e o apresenta aos colegas em Inglês.”

Passos à frente para quem quer estudar fora

Ainda na pré-escola (4 e 5 anos) as crianças da Escola Eugenio Montale já mergulham no Português e no Italiano, de forma que todas as atividades e rotinas desenvolvidas são feitas nos dois idiomas. “É como se o Italiano também fosse a língua materna da criança”, afirma Vanessa Squassoni, diretora acadêmica da unidade, no Morumbi, zona sul paulistana.

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No ensino fundamental, o processo de alfabetização é concluído em três idiomas: Português, Italiano e Inglês. “Esse escopo cultural traz muitos benefícios, principalmente hoje em dia, com a necessidade de falar dois ou mais idiomas”, continua.

Matérias que existem tanto no currículo brasileiro quanto no italiano são dadas em Italiano (livros didáticos também são dos dois países). Já as específicas do currículo brasileiro, como História e Geografia do Brasil, são lecionadas no nosso idioma. Outras disciplinas, como Artes e Educação Física, são em Inglês. No ensino médio, o aluno também tem contato com Espanhol e Latim, mas com menos foco.

O colégio recebe alunos vindos de escolas brasileiras e italianas, e os currículos desses dois países são obrigatórios. Isso possibilita, segundo a direção, obter diploma equivalente ao dado pela rede pública italiana, válido em toda a Europa.

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No Liceu Franco-Brasileiro de São Paulo, na Vila Mariana, zona sul, Francês e Português estão presentes desde a primeira infância. A partir do ensino fundamental, o Inglês aparece como 3ª língua. No ensino fundamental 2, um 4º idioma é adicionado: as opções são Espanhol e Alemão. Isso possibilita que os estudantes da escolas se formem com, no mínimo, quatro línguas fluentes.

Liceu oferece experiências em vários idiomas Foto: Taba Benedicto/Estadão

Além de preparar poliglotas, toda a formação do colégio é focada no Bac, o “Enem francês”, aceito em universidades de vários países, incluindo algumas no Brasil. “Dos 41 alunos que se formaram no ano passado, 33 foram morar fora do País. E os que ficaram foram para faculdades no Brasil que aceitam o Bac”, afirma Izabela Gaussot, responsável por contatos e matrículas do colégio.

“Isso facilita tanto que não compensa ao aluno fazer Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e outros vestibulares.” Algumas faculdades particulares - a exemplo da Fundação Getulio Vargas (FGV), do Mackenzie e da ESPM - também aceitam o Bac no processo seletivo.

Antes era mais comum a procura de famílias europeias, mas na pandemia muitas voltaram ao país de origem. Agora, o público se diversificou. “Temos alunos cujos pais e mães trabalham em multinacionais. Para eles, é muito mais interessante já colocar a criança na escola internacional porque em qualquer lugar do mundo encontram escolas no mesmo sistema”, diz. Segundo Izabela, há 567 instituições, em nações diversas, no mesmo modelo do Liceu: o Aefe (Agência para o Ensino Francês no Exterior).

Quais as regras para uma escola plurilíngue?

Em julho de 2020, o Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou as diretrizes para a educação plurilíngue no Brasil. Mas, desde essa época, esses parâmetros aguardam homologação pelo Ministério da Educação (MEC).

“É uma demanda muito solicitada nacionalmente”, afirma Suely Melo de Castro Menezes, vice-presidente da Câmara de Educação Básica do conselho e membro da comissão que traçou as orientações. “Aguardamos que a nova equipe do MEC possa homologar.” Procurado pela reportagem, o ministério não informou se tem previsão para homologar.

As normas preveem:

  • Escolas plurilíngues devem seguir os parâmetros da base nacional curricular (BNCC), documento do governo que prevê o que deve ser aprendido em cada série.
  • A instrução nas línguas adicionais deve representar de 30% a 50% das atividades curriculares de alunos da educação infantil (creche e pré-escola) e fundamental; para os do ensino médio, no mínimo 20%.
  • Se a escola for trilíngue, portanto, isso significa que pelo menos metade das atividades são em Português na educação infantil e fundamental. E o colégio pode escolher como dividir a outra metade nos outros dois idiomas.
  • Escolas brasileiras com currículos internacionais devem garantir que o currículo internacional não prejudique o desenvolvimento e avaliação do aluno no currículo brasileiro.

Para Suely, a regra deve trazer mais segurança para pais e responsáveis na procura por escolas que prometem fluência em diferentes idiomas. “É uma norma para orientar e reorganizar o sistema e para que escolas não usem de forma indevida o título de plurilíngues”, diz.

O que dizem os especialistas sobre o modelo?

Segundo Antonieta Megale, membro da Associação de Linguística Aplicada do Brasil, a educação plurilíngue ajuda a melhorar a comunicação, facilitar interações sociais e ampliar o repertório. Lá na frente, aumentam as chances no mercado: não só pelo currículo mais recheado, mas pela capacidade de analisar problemas e propor soluções sob diferentes perspectivas. Afinal, cada cultura e língua pensa de um jeito, e aprender essas formas distintas pode ajudar a ser mais criativo e empático.

No entanto, ela ressalta o papel dos pais. “É preciso apreço à diversidade e ao multilinguismo”, afirma Antonieta, professora da Unifesp. “Não podemos olhar para um estudante que usou uma palavra em Inglês em uma comunicação em Português e dizer que está confuso. É uma ótica monolíngue, que não faz parte do modelo de educação plurilíngue.”

Fernanda Liberali, professora de Departamento de Ciências da Linguagem e Filosofia da PUC-SP, recomenda que as famílias reflitam sobre o porquê buscam a escola bilíngue ou trilíngue. “É para o filho fazer faculdade fora? Falar bem outra língua? Quais as expectativas dos pais e dos filhos?”, questiona. “Sem essas respostas, a busca por uma escola não vai alcançar os desejos da família.”

Para ficar de olho:

  • Quais são os objetivos da família e do aluno ao optar por esse modelo?
  • Educação plurilíngue não é aumentar o número de aulas tradicionais de Inglês, Espanhol ou Alemão (com gramática e conversação), mas incluir atividades curriculares em outro idioma.
  • Educação plurilíngue é bem mais do que domínio do idioma estrangeiro, mas uma imersão em outras culturas. Se o objetivo é só a proficiência, essas escolas podem não ser a melhor opção.
  • Qual é a carga horária em cada idioma? O Conselho Nacional de Educação definiu parâmetros, que ainda não foram homologados pelo MEC.
  • Há planos ou interesse da família em se mudar para o exterior? O currículo de uma escola internacional pode facilitar eventual transferência do aluno para um colégio de outro país
  • Quais são as portas que essa formação abre no futuro? Em alguns casos, a formação nesses colégios garante certificações que facilitam o acesso a universidades estrangeiras.
  • Como é a formação dos professores da escola? Um dos desafios da educação plurilíngue é encontrar docentes que saibam ministrar aulas em outro idioma (não basta dominar a gramática inglesa, mas saber ensinar Física em outra língua, por exemplo).

Proposta também traz desafios

Outra recomendação é monitorar a adaptação da criança ao modelo. A empresária Rosana decidiu tirar o filho Ítalo (foram usados nomes fictícios, a pedido da família), de sete anos, de um colégio com atividades em dois idiomas. “Nossa motivação para matriculá-lo em escola bilíngue foi porque ele já tinha estudado em escola americana quando moramos fora”, conta.

Mas depois se frustrou. “Só tinha Português na aula de Língua Portuguesa e estudos sociais. Todas as outras eram em Inglês”, diz. “Quando ele foi para uma escola brasileira, finalmente estava interessado, engajando”, relata.

Até os próprios colégios ajustam o modelo quando percebem dificuldades de adaptação dos seus alunos. Na MZ School, na Vila Prudente, zona leste, houve tentativa de adotar o modelo trilíngue, mas que depois foi ajustado. “O aproveitamento e o aprendizado foi muito baixo, porque o aluno precisava dividir a atenção entre a linguagem e o conteúdo”, afirma a diretora pedagógica Vânia Dias.

Agora o currículo comum não é em Inglês nem Espanhol. A saída foi criar disciplinas complementares, como robótica e história das culturas espanhola e americana, por exemplo, ministradas nas outras línguas, além das tradicionais aulas de gramática dos dois idiomas. “Nesses casos, o conteúdo não é tão complexo. O aluno consegue absorver sem se preocupar tanto com a fala.” E as aulas de gramática dos idiomas são cinco vezes por semana - e não duas, como em grande parte dos colégios.

Fernanda, da PUC-SP, recomenda atenção ao números de aulas em Português. E, se o único objetivo é a proficiência em outro idioma, vale pensar melhor. “Educação plurilíngue é uma formação ampla, em múltiplas línguas, para que o aluno se sinta confortável em circular em diferentes contextos com mais de uma língua. Bem diferente de ter proficiência”, ressalta.

“E não há formação para professores darem aula em escolas bilíngues ou plurilíngues no Brasil. São ínfimos os cursos que discutem isso”, afirma. “Pais devem perguntar à escola qual o projeto de formação oferecido aos professores. Se a escola não der apoio para o professor se preparar, o pai deve correr”, diz.

Serviço

  • Camino School:

Mensalidades: R$ 6.237,54 para educação infantil / R$ 6.694,78 para ensino fundamental I / R$ 7.185,53 para ensino fundamental II / e R$ 7.688,52 para ensino médio.

Requisitos: Estudantes de diversas idades, com conhecimento prévio dos idiomas ou não e nos mais variados níveis de fluência podem estudar na Camino. A escola se propõe a introduzir conteúdos em sala de aula em grupos que tenham habilidades semelhantes.

  • Escola Eugenio Montale:

Mensalidades: R$ 4.457,00 para educação infantil integral / R$ 3.521,00 para educação infantil meio período / R$ 4.518,00 para ensino fundamental I / R$ 4.742,00 para ensino fundamental II / e R$ 5.811,00 para ensino médio.

Requisitos: A partir do ensino fundamental II, ingressantes provenientes de escola brasileira deverão frequentar um curso de Italiano a fim de integrar o currículo italiano. O curso pode ser feito na escola (pago à parte e com duração de um ano) ou particularmente.

  • Liceu Franco-Brasileiro de São Paulo:

Mensalidades: R$ 3.539,00 para educação infantil / R$ 3.757,00 para ensino fundamental I / R$ 4.116,00 para ensino fundamental II / R$ R$ 4.116,00 para ensino médio.

Requisitos: A partir do ensino fundamental II, é necessário que os alunos comprovem proficiência em Francês. No fundamental II, pelo menos nível B1 e no Ensino Médio, nível C1.

  • MZ School:

Mensalidades: R$ 2.363,00 para o berçário integral / R$ 1.178,00 para educação infantil / R$ 1.514,00 para ensino fundamental I / R$ 1.768,00 para ensino fundamental II / R$ 2.146,00 para ensino médio. Atividades em Inglês e Espanhol) em todos os níveis – do berçário ao ensino médio.

Requisitos: A MZ School diz que não é preciso ser fluente para estudar no colégio. Segundo a escola, qualquer aluno pode aprender os idiomas, em qualquer série, sem ter conhecimento prévio da língua.

*A Escola Gato Xadrez não informou os valores das mensalidades

Imagina ter aula de Geografia em Português, aprender Matemática em Inglês e depois ainda encarar Química em Espanhol? Para quem frequenta uma escola plurilíngue, pode ser mais um dia normal. Esses colégios não oferecem apenas classes pontuais de outros idiomas, mas conteúdos do currículo tradicional em outras línguas. Assim, o trabalho com os idiomas não é visto como disciplina, mas um projeto pedagógico, com imersão mais completa em outras línguas e culturas.

As unidades bilíngues já ganharam força há mais tempo no Brasil: a estimativa do setor é de 10% de aumento de unidades do tipo de 2014 a 2019, último ano antes da pandemia. Embora existam em número bem pequeno, escolas trilíngues ou plurilíngues chamam a atenção pelo modelo diferente. Não há levantamento sobre quantas são no País e as diretrizes nacionais para esses colégios estão em fase final de debate pelo governo federal.

O perfil de interessados varia. Parte é de alunos cujas famílias têm origem no exterior (Itália ou França, por exemplo) e há interesse de vivência maior nessa outra cultura, além do aprendizado em Português e Inglês. E há pais que apostam na vivência múltipla e nos benefícios para o desenvolvimento cognitivo. A facilidade, no futuro, de entrar em uma universidade estrangeira é outro atrativo.

Para Eric Endo, que matriculou o filho Henry em escola triilíngue, proposta não vale só pelo aprendizado em outros idiomas, mas pelo ganho cultural Foto: Werther Santana/Estadão

Para as escolas, o desafio é equilibrar a formação e os conteúdos nos diferentes sotaques, além de encontrar professores que saibam ensinar disciplinas diversas em outro idioma (tipo de profissional raro no Brasil). Para as famílias, é necessário entender se a proposta está alinhada aos objetivos (só a busca pela proficiência em idiomas, por exemplo, não deve guiar a decisão) e monitorar se o filho vai se adaptar ao formato.

Na Camino School, na Pompeia, zona oeste de São Paulo, os estudantes aprendem e ganham fluência no Português, no Inglês e no Espanhol. A coordenadora de currículo Cuca Righini explica que há duas esteiras de aprendizado. De um lado, um currículo mais denso voltado para os dois primeiros idiomas; do outro, uma grade em Espanhol, menos densa, mas também importante.

“Quando a criança aprende habilidades leitoras e escritoras em duas línguas ao mesmo tempo, naturalmente transfere o conhecimento de uma para outra. E assim é mais fácil aprender a terceira língua”, afirma. A unidade abriu as portas em 2020.

O engenheiro de software Eric Endo conta perceber essa naturalidade no aprendizado do filho Henry, de 7 anos. Em casa, ele e a mulher só conversam em Português com o filho, mas já percebem muitos conhecimentos adquiridos por Henry pelo contato que ele tem com outros idiomas na Camino.

“Outro dia estávamos em uma conversa que envolvia datas e horários. E o Henry perguntou se poderia falar em Inglês. Como as aulas de Matemática na escola são em Inglês, para ele ficaria mais fácil”, conta. “É interessante como desde pequeno ele já tem essa virada de chave e uma compreensão super bacana dos idiomas”, diz.

O casal não é fluente em outros idiomas e diz que até agora a lição de casa não foi problema - nada que o Google não ajude. Planos de viver no exterior a família ainda não tem, mas acredita já estar em vantagem. “A gente não sabe se um dia vai surgir oportunidade de morar fora, mas caso surja, achamos importante que ele já saiba falar os idiomas”, diz Endo.

“O idioma é importante, assim como a cultura”, destaca. Uma das propostas que mais chamaram a atenção, segundo ele, são as feiras latinas no colégio, que trazem abordagem não eurocêntrica. A programação inclui apresentações de música, dança e oficinas preparadas por alunos e professores.

Já a Escola Gato Xadrez, no Tatuapé, zona leste, é focada em educação infantil, com alunos até 6 anos. O aprendizado de Inglês e Espanhol ocorre por meio de atividades lúdicas. “É um aprendizado muito mais por brincadeiras”, diz Wagner Saldanha, coordenador pedagógico de línguas.

“Em Espanhol, por exemplo, usamos a pinhata (brinquedo colorido, que faz parte da tradição de vários países ibero-americanos). E isso envolve a aula de Arte, porque é um objeto que os próprios alunos produzem”, explica. “Temos também o Pet Day, um dia em que as crianças trazem o animal de estimação e o apresenta aos colegas em Inglês.”

Passos à frente para quem quer estudar fora

Ainda na pré-escola (4 e 5 anos) as crianças da Escola Eugenio Montale já mergulham no Português e no Italiano, de forma que todas as atividades e rotinas desenvolvidas são feitas nos dois idiomas. “É como se o Italiano também fosse a língua materna da criança”, afirma Vanessa Squassoni, diretora acadêmica da unidade, no Morumbi, zona sul paulistana.

No ensino fundamental, o processo de alfabetização é concluído em três idiomas: Português, Italiano e Inglês. “Esse escopo cultural traz muitos benefícios, principalmente hoje em dia, com a necessidade de falar dois ou mais idiomas”, continua.

Matérias que existem tanto no currículo brasileiro quanto no italiano são dadas em Italiano (livros didáticos também são dos dois países). Já as específicas do currículo brasileiro, como História e Geografia do Brasil, são lecionadas no nosso idioma. Outras disciplinas, como Artes e Educação Física, são em Inglês. No ensino médio, o aluno também tem contato com Espanhol e Latim, mas com menos foco.

O colégio recebe alunos vindos de escolas brasileiras e italianas, e os currículos desses dois países são obrigatórios. Isso possibilita, segundo a direção, obter diploma equivalente ao dado pela rede pública italiana, válido em toda a Europa.

No Liceu Franco-Brasileiro de São Paulo, na Vila Mariana, zona sul, Francês e Português estão presentes desde a primeira infância. A partir do ensino fundamental, o Inglês aparece como 3ª língua. No ensino fundamental 2, um 4º idioma é adicionado: as opções são Espanhol e Alemão. Isso possibilita que os estudantes da escolas se formem com, no mínimo, quatro línguas fluentes.

Liceu oferece experiências em vários idiomas Foto: Taba Benedicto/Estadão

Além de preparar poliglotas, toda a formação do colégio é focada no Bac, o “Enem francês”, aceito em universidades de vários países, incluindo algumas no Brasil. “Dos 41 alunos que se formaram no ano passado, 33 foram morar fora do País. E os que ficaram foram para faculdades no Brasil que aceitam o Bac”, afirma Izabela Gaussot, responsável por contatos e matrículas do colégio.

“Isso facilita tanto que não compensa ao aluno fazer Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e outros vestibulares.” Algumas faculdades particulares - a exemplo da Fundação Getulio Vargas (FGV), do Mackenzie e da ESPM - também aceitam o Bac no processo seletivo.

Antes era mais comum a procura de famílias europeias, mas na pandemia muitas voltaram ao país de origem. Agora, o público se diversificou. “Temos alunos cujos pais e mães trabalham em multinacionais. Para eles, é muito mais interessante já colocar a criança na escola internacional porque em qualquer lugar do mundo encontram escolas no mesmo sistema”, diz. Segundo Izabela, há 567 instituições, em nações diversas, no mesmo modelo do Liceu: o Aefe (Agência para o Ensino Francês no Exterior).

Quais as regras para uma escola plurilíngue?

Em julho de 2020, o Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou as diretrizes para a educação plurilíngue no Brasil. Mas, desde essa época, esses parâmetros aguardam homologação pelo Ministério da Educação (MEC).

“É uma demanda muito solicitada nacionalmente”, afirma Suely Melo de Castro Menezes, vice-presidente da Câmara de Educação Básica do conselho e membro da comissão que traçou as orientações. “Aguardamos que a nova equipe do MEC possa homologar.” Procurado pela reportagem, o ministério não informou se tem previsão para homologar.

As normas preveem:

  • Escolas plurilíngues devem seguir os parâmetros da base nacional curricular (BNCC), documento do governo que prevê o que deve ser aprendido em cada série.
  • A instrução nas línguas adicionais deve representar de 30% a 50% das atividades curriculares de alunos da educação infantil (creche e pré-escola) e fundamental; para os do ensino médio, no mínimo 20%.
  • Se a escola for trilíngue, portanto, isso significa que pelo menos metade das atividades são em Português na educação infantil e fundamental. E o colégio pode escolher como dividir a outra metade nos outros dois idiomas.
  • Escolas brasileiras com currículos internacionais devem garantir que o currículo internacional não prejudique o desenvolvimento e avaliação do aluno no currículo brasileiro.

Para Suely, a regra deve trazer mais segurança para pais e responsáveis na procura por escolas que prometem fluência em diferentes idiomas. “É uma norma para orientar e reorganizar o sistema e para que escolas não usem de forma indevida o título de plurilíngues”, diz.

O que dizem os especialistas sobre o modelo?

Segundo Antonieta Megale, membro da Associação de Linguística Aplicada do Brasil, a educação plurilíngue ajuda a melhorar a comunicação, facilitar interações sociais e ampliar o repertório. Lá na frente, aumentam as chances no mercado: não só pelo currículo mais recheado, mas pela capacidade de analisar problemas e propor soluções sob diferentes perspectivas. Afinal, cada cultura e língua pensa de um jeito, e aprender essas formas distintas pode ajudar a ser mais criativo e empático.

No entanto, ela ressalta o papel dos pais. “É preciso apreço à diversidade e ao multilinguismo”, afirma Antonieta, professora da Unifesp. “Não podemos olhar para um estudante que usou uma palavra em Inglês em uma comunicação em Português e dizer que está confuso. É uma ótica monolíngue, que não faz parte do modelo de educação plurilíngue.”

Fernanda Liberali, professora de Departamento de Ciências da Linguagem e Filosofia da PUC-SP, recomenda que as famílias reflitam sobre o porquê buscam a escola bilíngue ou trilíngue. “É para o filho fazer faculdade fora? Falar bem outra língua? Quais as expectativas dos pais e dos filhos?”, questiona. “Sem essas respostas, a busca por uma escola não vai alcançar os desejos da família.”

Para ficar de olho:

  • Quais são os objetivos da família e do aluno ao optar por esse modelo?
  • Educação plurilíngue não é aumentar o número de aulas tradicionais de Inglês, Espanhol ou Alemão (com gramática e conversação), mas incluir atividades curriculares em outro idioma.
  • Educação plurilíngue é bem mais do que domínio do idioma estrangeiro, mas uma imersão em outras culturas. Se o objetivo é só a proficiência, essas escolas podem não ser a melhor opção.
  • Qual é a carga horária em cada idioma? O Conselho Nacional de Educação definiu parâmetros, que ainda não foram homologados pelo MEC.
  • Há planos ou interesse da família em se mudar para o exterior? O currículo de uma escola internacional pode facilitar eventual transferência do aluno para um colégio de outro país
  • Quais são as portas que essa formação abre no futuro? Em alguns casos, a formação nesses colégios garante certificações que facilitam o acesso a universidades estrangeiras.
  • Como é a formação dos professores da escola? Um dos desafios da educação plurilíngue é encontrar docentes que saibam ministrar aulas em outro idioma (não basta dominar a gramática inglesa, mas saber ensinar Física em outra língua, por exemplo).

Proposta também traz desafios

Outra recomendação é monitorar a adaptação da criança ao modelo. A empresária Rosana decidiu tirar o filho Ítalo (foram usados nomes fictícios, a pedido da família), de sete anos, de um colégio com atividades em dois idiomas. “Nossa motivação para matriculá-lo em escola bilíngue foi porque ele já tinha estudado em escola americana quando moramos fora”, conta.

Mas depois se frustrou. “Só tinha Português na aula de Língua Portuguesa e estudos sociais. Todas as outras eram em Inglês”, diz. “Quando ele foi para uma escola brasileira, finalmente estava interessado, engajando”, relata.

Até os próprios colégios ajustam o modelo quando percebem dificuldades de adaptação dos seus alunos. Na MZ School, na Vila Prudente, zona leste, houve tentativa de adotar o modelo trilíngue, mas que depois foi ajustado. “O aproveitamento e o aprendizado foi muito baixo, porque o aluno precisava dividir a atenção entre a linguagem e o conteúdo”, afirma a diretora pedagógica Vânia Dias.

Agora o currículo comum não é em Inglês nem Espanhol. A saída foi criar disciplinas complementares, como robótica e história das culturas espanhola e americana, por exemplo, ministradas nas outras línguas, além das tradicionais aulas de gramática dos dois idiomas. “Nesses casos, o conteúdo não é tão complexo. O aluno consegue absorver sem se preocupar tanto com a fala.” E as aulas de gramática dos idiomas são cinco vezes por semana - e não duas, como em grande parte dos colégios.

Fernanda, da PUC-SP, recomenda atenção ao números de aulas em Português. E, se o único objetivo é a proficiência em outro idioma, vale pensar melhor. “Educação plurilíngue é uma formação ampla, em múltiplas línguas, para que o aluno se sinta confortável em circular em diferentes contextos com mais de uma língua. Bem diferente de ter proficiência”, ressalta.

“E não há formação para professores darem aula em escolas bilíngues ou plurilíngues no Brasil. São ínfimos os cursos que discutem isso”, afirma. “Pais devem perguntar à escola qual o projeto de formação oferecido aos professores. Se a escola não der apoio para o professor se preparar, o pai deve correr”, diz.

Serviço

  • Camino School:

Mensalidades: R$ 6.237,54 para educação infantil / R$ 6.694,78 para ensino fundamental I / R$ 7.185,53 para ensino fundamental II / e R$ 7.688,52 para ensino médio.

Requisitos: Estudantes de diversas idades, com conhecimento prévio dos idiomas ou não e nos mais variados níveis de fluência podem estudar na Camino. A escola se propõe a introduzir conteúdos em sala de aula em grupos que tenham habilidades semelhantes.

  • Escola Eugenio Montale:

Mensalidades: R$ 4.457,00 para educação infantil integral / R$ 3.521,00 para educação infantil meio período / R$ 4.518,00 para ensino fundamental I / R$ 4.742,00 para ensino fundamental II / e R$ 5.811,00 para ensino médio.

Requisitos: A partir do ensino fundamental II, ingressantes provenientes de escola brasileira deverão frequentar um curso de Italiano a fim de integrar o currículo italiano. O curso pode ser feito na escola (pago à parte e com duração de um ano) ou particularmente.

  • Liceu Franco-Brasileiro de São Paulo:

Mensalidades: R$ 3.539,00 para educação infantil / R$ 3.757,00 para ensino fundamental I / R$ 4.116,00 para ensino fundamental II / R$ R$ 4.116,00 para ensino médio.

Requisitos: A partir do ensino fundamental II, é necessário que os alunos comprovem proficiência em Francês. No fundamental II, pelo menos nível B1 e no Ensino Médio, nível C1.

  • MZ School:

Mensalidades: R$ 2.363,00 para o berçário integral / R$ 1.178,00 para educação infantil / R$ 1.514,00 para ensino fundamental I / R$ 1.768,00 para ensino fundamental II / R$ 2.146,00 para ensino médio. Atividades em Inglês e Espanhol) em todos os níveis – do berçário ao ensino médio.

Requisitos: A MZ School diz que não é preciso ser fluente para estudar no colégio. Segundo a escola, qualquer aluno pode aprender os idiomas, em qualquer série, sem ter conhecimento prévio da língua.

*A Escola Gato Xadrez não informou os valores das mensalidades

Imagina ter aula de Geografia em Português, aprender Matemática em Inglês e depois ainda encarar Química em Espanhol? Para quem frequenta uma escola plurilíngue, pode ser mais um dia normal. Esses colégios não oferecem apenas classes pontuais de outros idiomas, mas conteúdos do currículo tradicional em outras línguas. Assim, o trabalho com os idiomas não é visto como disciplina, mas um projeto pedagógico, com imersão mais completa em outras línguas e culturas.

As unidades bilíngues já ganharam força há mais tempo no Brasil: a estimativa do setor é de 10% de aumento de unidades do tipo de 2014 a 2019, último ano antes da pandemia. Embora existam em número bem pequeno, escolas trilíngues ou plurilíngues chamam a atenção pelo modelo diferente. Não há levantamento sobre quantas são no País e as diretrizes nacionais para esses colégios estão em fase final de debate pelo governo federal.

O perfil de interessados varia. Parte é de alunos cujas famílias têm origem no exterior (Itália ou França, por exemplo) e há interesse de vivência maior nessa outra cultura, além do aprendizado em Português e Inglês. E há pais que apostam na vivência múltipla e nos benefícios para o desenvolvimento cognitivo. A facilidade, no futuro, de entrar em uma universidade estrangeira é outro atrativo.

Para Eric Endo, que matriculou o filho Henry em escola triilíngue, proposta não vale só pelo aprendizado em outros idiomas, mas pelo ganho cultural Foto: Werther Santana/Estadão

Para as escolas, o desafio é equilibrar a formação e os conteúdos nos diferentes sotaques, além de encontrar professores que saibam ensinar disciplinas diversas em outro idioma (tipo de profissional raro no Brasil). Para as famílias, é necessário entender se a proposta está alinhada aos objetivos (só a busca pela proficiência em idiomas, por exemplo, não deve guiar a decisão) e monitorar se o filho vai se adaptar ao formato.

Na Camino School, na Pompeia, zona oeste de São Paulo, os estudantes aprendem e ganham fluência no Português, no Inglês e no Espanhol. A coordenadora de currículo Cuca Righini explica que há duas esteiras de aprendizado. De um lado, um currículo mais denso voltado para os dois primeiros idiomas; do outro, uma grade em Espanhol, menos densa, mas também importante.

“Quando a criança aprende habilidades leitoras e escritoras em duas línguas ao mesmo tempo, naturalmente transfere o conhecimento de uma para outra. E assim é mais fácil aprender a terceira língua”, afirma. A unidade abriu as portas em 2020.

O engenheiro de software Eric Endo conta perceber essa naturalidade no aprendizado do filho Henry, de 7 anos. Em casa, ele e a mulher só conversam em Português com o filho, mas já percebem muitos conhecimentos adquiridos por Henry pelo contato que ele tem com outros idiomas na Camino.

“Outro dia estávamos em uma conversa que envolvia datas e horários. E o Henry perguntou se poderia falar em Inglês. Como as aulas de Matemática na escola são em Inglês, para ele ficaria mais fácil”, conta. “É interessante como desde pequeno ele já tem essa virada de chave e uma compreensão super bacana dos idiomas”, diz.

O casal não é fluente em outros idiomas e diz que até agora a lição de casa não foi problema - nada que o Google não ajude. Planos de viver no exterior a família ainda não tem, mas acredita já estar em vantagem. “A gente não sabe se um dia vai surgir oportunidade de morar fora, mas caso surja, achamos importante que ele já saiba falar os idiomas”, diz Endo.

“O idioma é importante, assim como a cultura”, destaca. Uma das propostas que mais chamaram a atenção, segundo ele, são as feiras latinas no colégio, que trazem abordagem não eurocêntrica. A programação inclui apresentações de música, dança e oficinas preparadas por alunos e professores.

Já a Escola Gato Xadrez, no Tatuapé, zona leste, é focada em educação infantil, com alunos até 6 anos. O aprendizado de Inglês e Espanhol ocorre por meio de atividades lúdicas. “É um aprendizado muito mais por brincadeiras”, diz Wagner Saldanha, coordenador pedagógico de línguas.

“Em Espanhol, por exemplo, usamos a pinhata (brinquedo colorido, que faz parte da tradição de vários países ibero-americanos). E isso envolve a aula de Arte, porque é um objeto que os próprios alunos produzem”, explica. “Temos também o Pet Day, um dia em que as crianças trazem o animal de estimação e o apresenta aos colegas em Inglês.”

Passos à frente para quem quer estudar fora

Ainda na pré-escola (4 e 5 anos) as crianças da Escola Eugenio Montale já mergulham no Português e no Italiano, de forma que todas as atividades e rotinas desenvolvidas são feitas nos dois idiomas. “É como se o Italiano também fosse a língua materna da criança”, afirma Vanessa Squassoni, diretora acadêmica da unidade, no Morumbi, zona sul paulistana.

No ensino fundamental, o processo de alfabetização é concluído em três idiomas: Português, Italiano e Inglês. “Esse escopo cultural traz muitos benefícios, principalmente hoje em dia, com a necessidade de falar dois ou mais idiomas”, continua.

Matérias que existem tanto no currículo brasileiro quanto no italiano são dadas em Italiano (livros didáticos também são dos dois países). Já as específicas do currículo brasileiro, como História e Geografia do Brasil, são lecionadas no nosso idioma. Outras disciplinas, como Artes e Educação Física, são em Inglês. No ensino médio, o aluno também tem contato com Espanhol e Latim, mas com menos foco.

O colégio recebe alunos vindos de escolas brasileiras e italianas, e os currículos desses dois países são obrigatórios. Isso possibilita, segundo a direção, obter diploma equivalente ao dado pela rede pública italiana, válido em toda a Europa.

No Liceu Franco-Brasileiro de São Paulo, na Vila Mariana, zona sul, Francês e Português estão presentes desde a primeira infância. A partir do ensino fundamental, o Inglês aparece como 3ª língua. No ensino fundamental 2, um 4º idioma é adicionado: as opções são Espanhol e Alemão. Isso possibilita que os estudantes da escolas se formem com, no mínimo, quatro línguas fluentes.

Liceu oferece experiências em vários idiomas Foto: Taba Benedicto/Estadão

Além de preparar poliglotas, toda a formação do colégio é focada no Bac, o “Enem francês”, aceito em universidades de vários países, incluindo algumas no Brasil. “Dos 41 alunos que se formaram no ano passado, 33 foram morar fora do País. E os que ficaram foram para faculdades no Brasil que aceitam o Bac”, afirma Izabela Gaussot, responsável por contatos e matrículas do colégio.

“Isso facilita tanto que não compensa ao aluno fazer Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e outros vestibulares.” Algumas faculdades particulares - a exemplo da Fundação Getulio Vargas (FGV), do Mackenzie e da ESPM - também aceitam o Bac no processo seletivo.

Antes era mais comum a procura de famílias europeias, mas na pandemia muitas voltaram ao país de origem. Agora, o público se diversificou. “Temos alunos cujos pais e mães trabalham em multinacionais. Para eles, é muito mais interessante já colocar a criança na escola internacional porque em qualquer lugar do mundo encontram escolas no mesmo sistema”, diz. Segundo Izabela, há 567 instituições, em nações diversas, no mesmo modelo do Liceu: o Aefe (Agência para o Ensino Francês no Exterior).

Quais as regras para uma escola plurilíngue?

Em julho de 2020, o Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou as diretrizes para a educação plurilíngue no Brasil. Mas, desde essa época, esses parâmetros aguardam homologação pelo Ministério da Educação (MEC).

“É uma demanda muito solicitada nacionalmente”, afirma Suely Melo de Castro Menezes, vice-presidente da Câmara de Educação Básica do conselho e membro da comissão que traçou as orientações. “Aguardamos que a nova equipe do MEC possa homologar.” Procurado pela reportagem, o ministério não informou se tem previsão para homologar.

As normas preveem:

  • Escolas plurilíngues devem seguir os parâmetros da base nacional curricular (BNCC), documento do governo que prevê o que deve ser aprendido em cada série.
  • A instrução nas línguas adicionais deve representar de 30% a 50% das atividades curriculares de alunos da educação infantil (creche e pré-escola) e fundamental; para os do ensino médio, no mínimo 20%.
  • Se a escola for trilíngue, portanto, isso significa que pelo menos metade das atividades são em Português na educação infantil e fundamental. E o colégio pode escolher como dividir a outra metade nos outros dois idiomas.
  • Escolas brasileiras com currículos internacionais devem garantir que o currículo internacional não prejudique o desenvolvimento e avaliação do aluno no currículo brasileiro.

Para Suely, a regra deve trazer mais segurança para pais e responsáveis na procura por escolas que prometem fluência em diferentes idiomas. “É uma norma para orientar e reorganizar o sistema e para que escolas não usem de forma indevida o título de plurilíngues”, diz.

O que dizem os especialistas sobre o modelo?

Segundo Antonieta Megale, membro da Associação de Linguística Aplicada do Brasil, a educação plurilíngue ajuda a melhorar a comunicação, facilitar interações sociais e ampliar o repertório. Lá na frente, aumentam as chances no mercado: não só pelo currículo mais recheado, mas pela capacidade de analisar problemas e propor soluções sob diferentes perspectivas. Afinal, cada cultura e língua pensa de um jeito, e aprender essas formas distintas pode ajudar a ser mais criativo e empático.

No entanto, ela ressalta o papel dos pais. “É preciso apreço à diversidade e ao multilinguismo”, afirma Antonieta, professora da Unifesp. “Não podemos olhar para um estudante que usou uma palavra em Inglês em uma comunicação em Português e dizer que está confuso. É uma ótica monolíngue, que não faz parte do modelo de educação plurilíngue.”

Fernanda Liberali, professora de Departamento de Ciências da Linguagem e Filosofia da PUC-SP, recomenda que as famílias reflitam sobre o porquê buscam a escola bilíngue ou trilíngue. “É para o filho fazer faculdade fora? Falar bem outra língua? Quais as expectativas dos pais e dos filhos?”, questiona. “Sem essas respostas, a busca por uma escola não vai alcançar os desejos da família.”

Para ficar de olho:

  • Quais são os objetivos da família e do aluno ao optar por esse modelo?
  • Educação plurilíngue não é aumentar o número de aulas tradicionais de Inglês, Espanhol ou Alemão (com gramática e conversação), mas incluir atividades curriculares em outro idioma.
  • Educação plurilíngue é bem mais do que domínio do idioma estrangeiro, mas uma imersão em outras culturas. Se o objetivo é só a proficiência, essas escolas podem não ser a melhor opção.
  • Qual é a carga horária em cada idioma? O Conselho Nacional de Educação definiu parâmetros, que ainda não foram homologados pelo MEC.
  • Há planos ou interesse da família em se mudar para o exterior? O currículo de uma escola internacional pode facilitar eventual transferência do aluno para um colégio de outro país
  • Quais são as portas que essa formação abre no futuro? Em alguns casos, a formação nesses colégios garante certificações que facilitam o acesso a universidades estrangeiras.
  • Como é a formação dos professores da escola? Um dos desafios da educação plurilíngue é encontrar docentes que saibam ministrar aulas em outro idioma (não basta dominar a gramática inglesa, mas saber ensinar Física em outra língua, por exemplo).

Proposta também traz desafios

Outra recomendação é monitorar a adaptação da criança ao modelo. A empresária Rosana decidiu tirar o filho Ítalo (foram usados nomes fictícios, a pedido da família), de sete anos, de um colégio com atividades em dois idiomas. “Nossa motivação para matriculá-lo em escola bilíngue foi porque ele já tinha estudado em escola americana quando moramos fora”, conta.

Mas depois se frustrou. “Só tinha Português na aula de Língua Portuguesa e estudos sociais. Todas as outras eram em Inglês”, diz. “Quando ele foi para uma escola brasileira, finalmente estava interessado, engajando”, relata.

Até os próprios colégios ajustam o modelo quando percebem dificuldades de adaptação dos seus alunos. Na MZ School, na Vila Prudente, zona leste, houve tentativa de adotar o modelo trilíngue, mas que depois foi ajustado. “O aproveitamento e o aprendizado foi muito baixo, porque o aluno precisava dividir a atenção entre a linguagem e o conteúdo”, afirma a diretora pedagógica Vânia Dias.

Agora o currículo comum não é em Inglês nem Espanhol. A saída foi criar disciplinas complementares, como robótica e história das culturas espanhola e americana, por exemplo, ministradas nas outras línguas, além das tradicionais aulas de gramática dos dois idiomas. “Nesses casos, o conteúdo não é tão complexo. O aluno consegue absorver sem se preocupar tanto com a fala.” E as aulas de gramática dos idiomas são cinco vezes por semana - e não duas, como em grande parte dos colégios.

Fernanda, da PUC-SP, recomenda atenção ao números de aulas em Português. E, se o único objetivo é a proficiência em outro idioma, vale pensar melhor. “Educação plurilíngue é uma formação ampla, em múltiplas línguas, para que o aluno se sinta confortável em circular em diferentes contextos com mais de uma língua. Bem diferente de ter proficiência”, ressalta.

“E não há formação para professores darem aula em escolas bilíngues ou plurilíngues no Brasil. São ínfimos os cursos que discutem isso”, afirma. “Pais devem perguntar à escola qual o projeto de formação oferecido aos professores. Se a escola não der apoio para o professor se preparar, o pai deve correr”, diz.

Serviço

  • Camino School:

Mensalidades: R$ 6.237,54 para educação infantil / R$ 6.694,78 para ensino fundamental I / R$ 7.185,53 para ensino fundamental II / e R$ 7.688,52 para ensino médio.

Requisitos: Estudantes de diversas idades, com conhecimento prévio dos idiomas ou não e nos mais variados níveis de fluência podem estudar na Camino. A escola se propõe a introduzir conteúdos em sala de aula em grupos que tenham habilidades semelhantes.

  • Escola Eugenio Montale:

Mensalidades: R$ 4.457,00 para educação infantil integral / R$ 3.521,00 para educação infantil meio período / R$ 4.518,00 para ensino fundamental I / R$ 4.742,00 para ensino fundamental II / e R$ 5.811,00 para ensino médio.

Requisitos: A partir do ensino fundamental II, ingressantes provenientes de escola brasileira deverão frequentar um curso de Italiano a fim de integrar o currículo italiano. O curso pode ser feito na escola (pago à parte e com duração de um ano) ou particularmente.

  • Liceu Franco-Brasileiro de São Paulo:

Mensalidades: R$ 3.539,00 para educação infantil / R$ 3.757,00 para ensino fundamental I / R$ 4.116,00 para ensino fundamental II / R$ R$ 4.116,00 para ensino médio.

Requisitos: A partir do ensino fundamental II, é necessário que os alunos comprovem proficiência em Francês. No fundamental II, pelo menos nível B1 e no Ensino Médio, nível C1.

  • MZ School:

Mensalidades: R$ 2.363,00 para o berçário integral / R$ 1.178,00 para educação infantil / R$ 1.514,00 para ensino fundamental I / R$ 1.768,00 para ensino fundamental II / R$ 2.146,00 para ensino médio. Atividades em Inglês e Espanhol) em todos os níveis – do berçário ao ensino médio.

Requisitos: A MZ School diz que não é preciso ser fluente para estudar no colégio. Segundo a escola, qualquer aluno pode aprender os idiomas, em qualquer série, sem ter conhecimento prévio da língua.

*A Escola Gato Xadrez não informou os valores das mensalidades

Imagina ter aula de Geografia em Português, aprender Matemática em Inglês e depois ainda encarar Química em Espanhol? Para quem frequenta uma escola plurilíngue, pode ser mais um dia normal. Esses colégios não oferecem apenas classes pontuais de outros idiomas, mas conteúdos do currículo tradicional em outras línguas. Assim, o trabalho com os idiomas não é visto como disciplina, mas um projeto pedagógico, com imersão mais completa em outras línguas e culturas.

As unidades bilíngues já ganharam força há mais tempo no Brasil: a estimativa do setor é de 10% de aumento de unidades do tipo de 2014 a 2019, último ano antes da pandemia. Embora existam em número bem pequeno, escolas trilíngues ou plurilíngues chamam a atenção pelo modelo diferente. Não há levantamento sobre quantas são no País e as diretrizes nacionais para esses colégios estão em fase final de debate pelo governo federal.

O perfil de interessados varia. Parte é de alunos cujas famílias têm origem no exterior (Itália ou França, por exemplo) e há interesse de vivência maior nessa outra cultura, além do aprendizado em Português e Inglês. E há pais que apostam na vivência múltipla e nos benefícios para o desenvolvimento cognitivo. A facilidade, no futuro, de entrar em uma universidade estrangeira é outro atrativo.

Para Eric Endo, que matriculou o filho Henry em escola triilíngue, proposta não vale só pelo aprendizado em outros idiomas, mas pelo ganho cultural Foto: Werther Santana/Estadão

Para as escolas, o desafio é equilibrar a formação e os conteúdos nos diferentes sotaques, além de encontrar professores que saibam ensinar disciplinas diversas em outro idioma (tipo de profissional raro no Brasil). Para as famílias, é necessário entender se a proposta está alinhada aos objetivos (só a busca pela proficiência em idiomas, por exemplo, não deve guiar a decisão) e monitorar se o filho vai se adaptar ao formato.

Na Camino School, na Pompeia, zona oeste de São Paulo, os estudantes aprendem e ganham fluência no Português, no Inglês e no Espanhol. A coordenadora de currículo Cuca Righini explica que há duas esteiras de aprendizado. De um lado, um currículo mais denso voltado para os dois primeiros idiomas; do outro, uma grade em Espanhol, menos densa, mas também importante.

“Quando a criança aprende habilidades leitoras e escritoras em duas línguas ao mesmo tempo, naturalmente transfere o conhecimento de uma para outra. E assim é mais fácil aprender a terceira língua”, afirma. A unidade abriu as portas em 2020.

O engenheiro de software Eric Endo conta perceber essa naturalidade no aprendizado do filho Henry, de 7 anos. Em casa, ele e a mulher só conversam em Português com o filho, mas já percebem muitos conhecimentos adquiridos por Henry pelo contato que ele tem com outros idiomas na Camino.

“Outro dia estávamos em uma conversa que envolvia datas e horários. E o Henry perguntou se poderia falar em Inglês. Como as aulas de Matemática na escola são em Inglês, para ele ficaria mais fácil”, conta. “É interessante como desde pequeno ele já tem essa virada de chave e uma compreensão super bacana dos idiomas”, diz.

O casal não é fluente em outros idiomas e diz que até agora a lição de casa não foi problema - nada que o Google não ajude. Planos de viver no exterior a família ainda não tem, mas acredita já estar em vantagem. “A gente não sabe se um dia vai surgir oportunidade de morar fora, mas caso surja, achamos importante que ele já saiba falar os idiomas”, diz Endo.

“O idioma é importante, assim como a cultura”, destaca. Uma das propostas que mais chamaram a atenção, segundo ele, são as feiras latinas no colégio, que trazem abordagem não eurocêntrica. A programação inclui apresentações de música, dança e oficinas preparadas por alunos e professores.

Já a Escola Gato Xadrez, no Tatuapé, zona leste, é focada em educação infantil, com alunos até 6 anos. O aprendizado de Inglês e Espanhol ocorre por meio de atividades lúdicas. “É um aprendizado muito mais por brincadeiras”, diz Wagner Saldanha, coordenador pedagógico de línguas.

“Em Espanhol, por exemplo, usamos a pinhata (brinquedo colorido, que faz parte da tradição de vários países ibero-americanos). E isso envolve a aula de Arte, porque é um objeto que os próprios alunos produzem”, explica. “Temos também o Pet Day, um dia em que as crianças trazem o animal de estimação e o apresenta aos colegas em Inglês.”

Passos à frente para quem quer estudar fora

Ainda na pré-escola (4 e 5 anos) as crianças da Escola Eugenio Montale já mergulham no Português e no Italiano, de forma que todas as atividades e rotinas desenvolvidas são feitas nos dois idiomas. “É como se o Italiano também fosse a língua materna da criança”, afirma Vanessa Squassoni, diretora acadêmica da unidade, no Morumbi, zona sul paulistana.

No ensino fundamental, o processo de alfabetização é concluído em três idiomas: Português, Italiano e Inglês. “Esse escopo cultural traz muitos benefícios, principalmente hoje em dia, com a necessidade de falar dois ou mais idiomas”, continua.

Matérias que existem tanto no currículo brasileiro quanto no italiano são dadas em Italiano (livros didáticos também são dos dois países). Já as específicas do currículo brasileiro, como História e Geografia do Brasil, são lecionadas no nosso idioma. Outras disciplinas, como Artes e Educação Física, são em Inglês. No ensino médio, o aluno também tem contato com Espanhol e Latim, mas com menos foco.

O colégio recebe alunos vindos de escolas brasileiras e italianas, e os currículos desses dois países são obrigatórios. Isso possibilita, segundo a direção, obter diploma equivalente ao dado pela rede pública italiana, válido em toda a Europa.

No Liceu Franco-Brasileiro de São Paulo, na Vila Mariana, zona sul, Francês e Português estão presentes desde a primeira infância. A partir do ensino fundamental, o Inglês aparece como 3ª língua. No ensino fundamental 2, um 4º idioma é adicionado: as opções são Espanhol e Alemão. Isso possibilita que os estudantes da escolas se formem com, no mínimo, quatro línguas fluentes.

Liceu oferece experiências em vários idiomas Foto: Taba Benedicto/Estadão

Além de preparar poliglotas, toda a formação do colégio é focada no Bac, o “Enem francês”, aceito em universidades de vários países, incluindo algumas no Brasil. “Dos 41 alunos que se formaram no ano passado, 33 foram morar fora do País. E os que ficaram foram para faculdades no Brasil que aceitam o Bac”, afirma Izabela Gaussot, responsável por contatos e matrículas do colégio.

“Isso facilita tanto que não compensa ao aluno fazer Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e outros vestibulares.” Algumas faculdades particulares - a exemplo da Fundação Getulio Vargas (FGV), do Mackenzie e da ESPM - também aceitam o Bac no processo seletivo.

Antes era mais comum a procura de famílias europeias, mas na pandemia muitas voltaram ao país de origem. Agora, o público se diversificou. “Temos alunos cujos pais e mães trabalham em multinacionais. Para eles, é muito mais interessante já colocar a criança na escola internacional porque em qualquer lugar do mundo encontram escolas no mesmo sistema”, diz. Segundo Izabela, há 567 instituições, em nações diversas, no mesmo modelo do Liceu: o Aefe (Agência para o Ensino Francês no Exterior).

Quais as regras para uma escola plurilíngue?

Em julho de 2020, o Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou as diretrizes para a educação plurilíngue no Brasil. Mas, desde essa época, esses parâmetros aguardam homologação pelo Ministério da Educação (MEC).

“É uma demanda muito solicitada nacionalmente”, afirma Suely Melo de Castro Menezes, vice-presidente da Câmara de Educação Básica do conselho e membro da comissão que traçou as orientações. “Aguardamos que a nova equipe do MEC possa homologar.” Procurado pela reportagem, o ministério não informou se tem previsão para homologar.

As normas preveem:

  • Escolas plurilíngues devem seguir os parâmetros da base nacional curricular (BNCC), documento do governo que prevê o que deve ser aprendido em cada série.
  • A instrução nas línguas adicionais deve representar de 30% a 50% das atividades curriculares de alunos da educação infantil (creche e pré-escola) e fundamental; para os do ensino médio, no mínimo 20%.
  • Se a escola for trilíngue, portanto, isso significa que pelo menos metade das atividades são em Português na educação infantil e fundamental. E o colégio pode escolher como dividir a outra metade nos outros dois idiomas.
  • Escolas brasileiras com currículos internacionais devem garantir que o currículo internacional não prejudique o desenvolvimento e avaliação do aluno no currículo brasileiro.

Para Suely, a regra deve trazer mais segurança para pais e responsáveis na procura por escolas que prometem fluência em diferentes idiomas. “É uma norma para orientar e reorganizar o sistema e para que escolas não usem de forma indevida o título de plurilíngues”, diz.

O que dizem os especialistas sobre o modelo?

Segundo Antonieta Megale, membro da Associação de Linguística Aplicada do Brasil, a educação plurilíngue ajuda a melhorar a comunicação, facilitar interações sociais e ampliar o repertório. Lá na frente, aumentam as chances no mercado: não só pelo currículo mais recheado, mas pela capacidade de analisar problemas e propor soluções sob diferentes perspectivas. Afinal, cada cultura e língua pensa de um jeito, e aprender essas formas distintas pode ajudar a ser mais criativo e empático.

No entanto, ela ressalta o papel dos pais. “É preciso apreço à diversidade e ao multilinguismo”, afirma Antonieta, professora da Unifesp. “Não podemos olhar para um estudante que usou uma palavra em Inglês em uma comunicação em Português e dizer que está confuso. É uma ótica monolíngue, que não faz parte do modelo de educação plurilíngue.”

Fernanda Liberali, professora de Departamento de Ciências da Linguagem e Filosofia da PUC-SP, recomenda que as famílias reflitam sobre o porquê buscam a escola bilíngue ou trilíngue. “É para o filho fazer faculdade fora? Falar bem outra língua? Quais as expectativas dos pais e dos filhos?”, questiona. “Sem essas respostas, a busca por uma escola não vai alcançar os desejos da família.”

Para ficar de olho:

  • Quais são os objetivos da família e do aluno ao optar por esse modelo?
  • Educação plurilíngue não é aumentar o número de aulas tradicionais de Inglês, Espanhol ou Alemão (com gramática e conversação), mas incluir atividades curriculares em outro idioma.
  • Educação plurilíngue é bem mais do que domínio do idioma estrangeiro, mas uma imersão em outras culturas. Se o objetivo é só a proficiência, essas escolas podem não ser a melhor opção.
  • Qual é a carga horária em cada idioma? O Conselho Nacional de Educação definiu parâmetros, que ainda não foram homologados pelo MEC.
  • Há planos ou interesse da família em se mudar para o exterior? O currículo de uma escola internacional pode facilitar eventual transferência do aluno para um colégio de outro país
  • Quais são as portas que essa formação abre no futuro? Em alguns casos, a formação nesses colégios garante certificações que facilitam o acesso a universidades estrangeiras.
  • Como é a formação dos professores da escola? Um dos desafios da educação plurilíngue é encontrar docentes que saibam ministrar aulas em outro idioma (não basta dominar a gramática inglesa, mas saber ensinar Física em outra língua, por exemplo).

Proposta também traz desafios

Outra recomendação é monitorar a adaptação da criança ao modelo. A empresária Rosana decidiu tirar o filho Ítalo (foram usados nomes fictícios, a pedido da família), de sete anos, de um colégio com atividades em dois idiomas. “Nossa motivação para matriculá-lo em escola bilíngue foi porque ele já tinha estudado em escola americana quando moramos fora”, conta.

Mas depois se frustrou. “Só tinha Português na aula de Língua Portuguesa e estudos sociais. Todas as outras eram em Inglês”, diz. “Quando ele foi para uma escola brasileira, finalmente estava interessado, engajando”, relata.

Até os próprios colégios ajustam o modelo quando percebem dificuldades de adaptação dos seus alunos. Na MZ School, na Vila Prudente, zona leste, houve tentativa de adotar o modelo trilíngue, mas que depois foi ajustado. “O aproveitamento e o aprendizado foi muito baixo, porque o aluno precisava dividir a atenção entre a linguagem e o conteúdo”, afirma a diretora pedagógica Vânia Dias.

Agora o currículo comum não é em Inglês nem Espanhol. A saída foi criar disciplinas complementares, como robótica e história das culturas espanhola e americana, por exemplo, ministradas nas outras línguas, além das tradicionais aulas de gramática dos dois idiomas. “Nesses casos, o conteúdo não é tão complexo. O aluno consegue absorver sem se preocupar tanto com a fala.” E as aulas de gramática dos idiomas são cinco vezes por semana - e não duas, como em grande parte dos colégios.

Fernanda, da PUC-SP, recomenda atenção ao números de aulas em Português. E, se o único objetivo é a proficiência em outro idioma, vale pensar melhor. “Educação plurilíngue é uma formação ampla, em múltiplas línguas, para que o aluno se sinta confortável em circular em diferentes contextos com mais de uma língua. Bem diferente de ter proficiência”, ressalta.

“E não há formação para professores darem aula em escolas bilíngues ou plurilíngues no Brasil. São ínfimos os cursos que discutem isso”, afirma. “Pais devem perguntar à escola qual o projeto de formação oferecido aos professores. Se a escola não der apoio para o professor se preparar, o pai deve correr”, diz.

Serviço

  • Camino School:

Mensalidades: R$ 6.237,54 para educação infantil / R$ 6.694,78 para ensino fundamental I / R$ 7.185,53 para ensino fundamental II / e R$ 7.688,52 para ensino médio.

Requisitos: Estudantes de diversas idades, com conhecimento prévio dos idiomas ou não e nos mais variados níveis de fluência podem estudar na Camino. A escola se propõe a introduzir conteúdos em sala de aula em grupos que tenham habilidades semelhantes.

  • Escola Eugenio Montale:

Mensalidades: R$ 4.457,00 para educação infantil integral / R$ 3.521,00 para educação infantil meio período / R$ 4.518,00 para ensino fundamental I / R$ 4.742,00 para ensino fundamental II / e R$ 5.811,00 para ensino médio.

Requisitos: A partir do ensino fundamental II, ingressantes provenientes de escola brasileira deverão frequentar um curso de Italiano a fim de integrar o currículo italiano. O curso pode ser feito na escola (pago à parte e com duração de um ano) ou particularmente.

  • Liceu Franco-Brasileiro de São Paulo:

Mensalidades: R$ 3.539,00 para educação infantil / R$ 3.757,00 para ensino fundamental I / R$ 4.116,00 para ensino fundamental II / R$ R$ 4.116,00 para ensino médio.

Requisitos: A partir do ensino fundamental II, é necessário que os alunos comprovem proficiência em Francês. No fundamental II, pelo menos nível B1 e no Ensino Médio, nível C1.

  • MZ School:

Mensalidades: R$ 2.363,00 para o berçário integral / R$ 1.178,00 para educação infantil / R$ 1.514,00 para ensino fundamental I / R$ 1.768,00 para ensino fundamental II / R$ 2.146,00 para ensino médio. Atividades em Inglês e Espanhol) em todos os níveis – do berçário ao ensino médio.

Requisitos: A MZ School diz que não é preciso ser fluente para estudar no colégio. Segundo a escola, qualquer aluno pode aprender os idiomas, em qualquer série, sem ter conhecimento prévio da língua.

*A Escola Gato Xadrez não informou os valores das mensalidades

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