Como ajudar os alunos a lidarem com a ansiedade antes das provas

Publicado dia 13/06/2019

Publicado originalmente por Edutopia. Traduzido por Ingrid Matuoka.

Batimento cardíaco acelerado. Palmas das mãos suadas. Pensamentos confusos. Para muitos alunos, o maior obstáculo para ir bem em uma prova não é o que eles sabem, mas a ansiedade que sentem.

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O estresse e a ansiedade podem atrapalhar a capacidade do aluno de se concentrar nas provas, levando a um desempenho ruim e, em última análise, a menos oportunidades de sucesso escolar

Um novo estudo destaca uma solução eficaz: orientar os alunos a enxergar o estresse de forma diferente – como um impulso, em vez de um fardo. Exercícios simples de escrita de 10 minutos, realizados antes de um teste, ajudaram os alunos a entender o estresse como “uma força benéfica e energizante”, que poderia ajudá-los.

Os exercícios de escrita foram mais eficazes para os alunos com menor renda, que podem ser sensíveis a situações que enfatizam a classificação e o status. Seus pares mais ricos podem ter acesso a mais recursos, como tutores, que podem aumentar suas chances de sucesso na escola.

Os psicólogos Christopher Rozek, Gerardo Ramirez, Rachel Fine e Sian Beilock acompanharam 1.175 estudantes de biologia do ensino médio durante um ano para estudar como o estresse afetava a capacidade de passar nos principais exames.

Eles notaram que os estudantes de menor renda foram desproporcionalmente prejudicados pela dificuldade de regular a ansiedade do teste. Esses estudantes experimentaram “pensamentos preocupados sobre a possibilidade de fracasso” que se tornaram uma profecia auto-realizável: ser enfatizado sobre o fracasso aumentou sua probabilidade.

Mas, os exercícios de escrita de 10 minutos que encorajaram os alunos a abandonar pensamentos negativos, regular suas emoções e reinterpretar o estresse os ajudou a ter um desempenho melhor.

No estudo, dois tipos de escrita foram realizados imediatamente antes das provas serem aplicadas:

  • Escrita expressiva. Os alunos foram convidados a escrever sobre seus pensamentos e sentimentos sobre o exame que estavam prestes a fazer. Eles também foram solicitados a escrever sobre outras ocasiões em suas vidas quando tiveram pensamentos preocupados.
  • Reavaliação do estresse. Os alunos foram convidados a pensar sobre seus sintomas de estresse como úteis para o teste. Por exemplo: “Se você se sentir nervoso ou ansioso ao fazer um teste, pense em como as respostas do seu corpo podem realmente energizá-lo e ajudá-lo”. Os alunos também leram uma passagem que explicava como as respostas psicológicas ao estresse – batimentos cardíacos acelerados e respiração pesada – ajuda a melhorar o desempenho aumentando o fluxo de oxigênio no cérebro e o estado de alerta.

Ambos os tipos de exercícios mostraram-se eficazes para impulsionar o desempenho dos alunos, especialmente os de baixa renda. A diferença de aproveitamento entre alunos de baixa e alta renda diminuiu em 29%, e a taxa de reprovação para alunos de baixa renda foi reduzida à metade.

O estresse é útil. Até certo ponto

O estresse nem sempre é ruim. Em uma palestra popular do TED, a psicóloga Kelly McGonigal explica que reformular o estresse pode ajudar as pessoas a serem mais produtivas. “Esse coração pulsante está preparando você para a ação. Se você está respirando mais rápido, não há problema. Está recebendo mais oxigênio para o seu cérebro.”

Enquanto o estresse crônico pode causar sérios problemas de saúde, o estresse de curto prazo pode ser benéfico, aumentando a atenção e o desempenho da memória. Em 1908, os psicólogos Robert Yerkes e John Dodson conduziram um simples experimento com camundongos que lançou as bases para a compreensão do papel entre estresse e aprendizado. Eles observaram que para tarefas desafiadoras, uma quantidade moderada de estresse é ideal: muito pouco leva à apatia, mas muito prejudica o desempenho.

Os experimentos originais de Yerkes e Dodson foram falhos, mas abriram novas áreas de pesquisa sobre a relação entre estresse e aprendizagem, inclusive em humanos. Pesquisas mais recentes replicaram suas descobertas sob condições experimentais mais rigorosas, e um estudo de 2015 descobriu que os baixos níveis de cortisol, o hormônio do estresse, aumentam a memória – e altos níveis a prejudicam.

Por que o estresse seria benéfico? Pesquisadores acreditam que ele desempenhou um papel fundamental na sobrevivência dos primeiros humanos. Isso nos ajudou não apenas a identificar ameaças, mas também aproveitar oportunidades. Nós tendemos a pensar no estresse como uma reação a eventos negativos e, embora isso seja frequentemente o caso, o estresse ajuda a aguçar nosso foco.

Sentindo-se nervoso em conhecer alguém famoso? As borboletas no seu estômago antes de fazer uma apresentação? Esses sentimentos estão lhe dizendo: “Isso é importante, então preste atenção.”

Transformando o estresse

Na sala de aula, a ansiedade nas provas pode ser difusa, afetando a capacidade dos alunos de realizar todo o seu potencial. Mas os professores podem dar alguns passos para ajudar os alunos a vencer a ansiedade do teste:

Etapa 1: Reconheça que as provas medem mais do que apenas a capacidade acadêmica. Eles também medem quanta ansiedade um aluno sofre.

Etapa 2: Ressignifique o estresse. Não é um fardo, mas uma maneira de energizar o corpo. Considere como os melhores artistas, de atletas a músicos, lidam com o estresse. O campeão da NBA Kobe Bryant disse: “Tudo negativo – pressão, desafios – é uma oportunidade para subir.”

Passo 3: Antes de um grande teste, dê aos alunos uma pequena pausa para expulsar os pensamentos negativos. Os exercícios de escrita são eficazes, como mostra o estudo recente, mas também os exercícios de atenção plena, os momentos de descontração, de tempo livre e oportunidades para movimentar o corpo.

Frequentemente, os estudantes pensam: “Este teste é muito difícil e provavelmente fracassarei”. Mas os professores podem intervir e encorajar uma atitude positiva em relação ao estresse, levando os alunos a pensar: “Este teste é realmente desafiador, então eu preciso fazer o meu melhor.”

Para ir além

Ajudar os estudantes a lidar com o estresse de fazer provas é um caminho. Outro, é começar a retirar o peso que os exames têm na escola, passando a enxergá-los menos como uma avaliação definitiva e mais como uma oportunidade de aprender e de diagnosticar conquistas e defasagens. 

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