Por Taís Bento e Roberta Bento
SOS Educação é a coluna do Educador feita por Roberta e Taís Bento que trará dicas para pais e educadores a fim de contribuir com a formação de crianças e adolescentes.

Como a família e a escola podem dividir-se para conseguirem multiplicar os benefícios aos alunos em tempos tão desafiadores?

O contexto em que estamos vivendo coloca em xeque as responsabilidades destinadas aos responsáveis e à escola, assim, é indispensável ter-se ciência do papel de cada um.
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“Em casa que falta pão, todo mundo briga e ninguém tem razão” — um ditado que representa muito a situação que escolas e famílias enfrentam hoje! Enquanto escolas e famílias buscam maneiras de fazer seus filhos/alunos interessarem-se pelos estudos, a pressão do tempo corrido começa a bater mais forte para todos os lados. Esse é o ponto em que escola e família sentem a pressão maior: o tempo está passando depressa. Infelizmente, mesmo com essa preocupação em comum, ao invés de estreitarem os laços, em muitos casos, surgem desconfianças, cobranças descabidas e falta de empatia desses dois lados.

 Leia mais: Qual legado os adultos estão deixando para as crianças e adolescentes deste momento?

Não é de hoje que situações de escassez geram grande estresse. Como mencionado em nossa introdução, existe o ditado que diz: “em casa que falta pão, todo mundo briga, mas ninguém tem razão”. O “pão” simboliza tudo o que se torna cada vez mais escasso. Conforme os dias passam-se, cada vez temos:

  • menos dias disponíveis neste ano letivo;
  • menos energia;
  • menos paciência para lidar com os desafios.

Ainda, o pão, no sentido de sustento, também está escasso em muitos lares:

  • falta trabalho;
  • muitas empresas seguem fechadas;
  • a inadimplência está altíssima nas escolas;
  • o número de cancelamento de matrícula é enorme;
  • a saúde emocional dos professores está fortemente abalada.

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Ainda assim, pais, gestores e professores seguem firmes, buscando o melhor para seus filhos e alunos. Essa parceria é a única saída para nossas crianças e adolescentes. No entanto, precisamos calibrar a definição de papéis. Há coisas que só os pais podem fazer, e outras que são sim responsabilidade da escola. Como a família e a escola podem dividir-se para conseguirem multiplicar os benefícios aos alunos? Em que pontos precisam agir juntos para que os filhos não assumam o papel de vítimas e percam o poder que têm de adaptar-se ao novo e de aprender, apesar dos desafios?

É indispensável que pais e responsáveis tenham uma relação de parceria com a escola para enfrentarmos da melhor maneira este momento desafiador.
É indispensável que pais e responsáveis tenham uma relação de parceria com a escola para enfrentarmos da melhor maneira este momento desafiador.

Cumprir as atividades da escola em casa é responsabilidade e papel da família, e não da escola

Temos recebido cenas de filhos que choram na hora de fazer as atividades enviadas pela escola. Em todos os casos do tipo que tivemos até o momento, a tentativa era de mostrar para a escola como o aluno está sofrendo. Pais, pelo bem dos seus filhos, não façam isso.

Seu filho não precisa de exposição, mas sim de uma rotina dentro de casa. Uma rotina saudável tem que garantir um momento do dia para os estudos. Esse momento varia de acordo com a faixa etária e com o dia a dia que os pais estão vivendo. De todo modo, de segunda à sexta, todo aluno precisa ler, escrever, desenhar ou fazer as atividades que a escola está enviando.

Para que esse momento funcione, seu filho precisa aprender sobre responsabilidade ajudando na organização e limpeza da casa. Precisa ter noites completas e tranquilas de sono. Precisa cumprir combinados de tempo no celular, videogame, tablet ou TV. Sem esses pontos na rotina, a hora dos estudos será sim uma tragédia. Eis por que cumprir as atividades da escola em casa é responsabilidade e papel da família, e não da escola.

Se houver muito conteúdo, cabe aos pais conversar com a escola e deixar o que está pesando demais para depois. Não é momento para cobrar-se desempenho ou domínio do conteúdo, mas sim empenho e esforço para o aprendizado manter-se fluído, dentro do possível. Elogie mesmo as pequenas conquistas, e jamais coloque holofote sobre o momento em que seu filho demonstrar cansaço ou falta de habilidade para lidar com a frustração de não conseguir resolver alguma atividade.

Se o estudo estiver pesado, reorganize a rotina e defina metas mais realistas. Mostre que acredita na capacidade que seu filho tem em seguir esforçando-se para aprender. Reforce somente as atitudes que o ajudam a crescer, tanto na aprendizagem quanto emocionalmente. Dentro de casa, esse papel é da família! Para ajudá-los, fizemos uma rotina, para acessá-la, clique aqui e baixe-a.

Veja também: Como assumir o papel de responsável dentro de casa?

Conteúdo e calendário escolar são papéis da escola

É ótimo que os pais participem e apoiem o trabalho da escola, assim como é importante que tenham informações sobre o ano escolar, mas não é papel da família gerenciaro conteúdo, planos de aula, e nem definir o calendário escolar. A preocupação existe e não é só sua, pai ou mãe. A diretora, os professores e os coordenadores estão pensando nisso 36 horas por dia. Quando os pais usam parte da energia e do tempo tão precioso que possuem para tentar fazer o papel que é da escola, não importando se a intenção é das melhores, o prejuízo é enorme, especialmente para os filhos/alunos.

Seu filho precisa de você sendo o responsável neste momento desafiador dentro de casa. Ele precisa que você faça os ajustes na rotina, tirando tempo para brincar e conversar com ele, descobrir o que ele assiste e quem atrai seu interesse no mundo cheio de armadilhas que é a internet. Seu filho precisa que você continue com o papel de garantir que ele tenha os momentos de estudo diário. Sabemos que cumprir o papel de responsável, enquanto passamos por essa turbulência que estamos vivendo, não é pouco, então, por que mesmo dar esse “siricutico” de querer cuidar daquilo que é papel da escola?

Ansiedade, talvez. Medo, certamente. Fuga em alguns casos? Cada um tem seu motivo. Pensar sobre eles é uma ótima maneira de tirar essa carga que não é sua e que em nada ajuda agora! Pedir informações, sim! Conversar com a escola, sim! Cobrar que a escola dê respostas que ninguém tem, ou querer garantias de cumprimento do ano letivo com base naquele saudoso e finado “normal”, não. Isso é tirar também da escola o tempo e a energia que todos lá precisam para dar conta do desafio que é deles.

Temos agora uma oportunidade para experimentar novas estratégias e abordagens para envolver nossos alunos, e uma chance para ajudar nossos filhos a descobrirem muito sobre como eles aprendem melhor. Pais e professores têm em suas mãos uma oportunidade única para unirem-se em prol do processo de aprendizagem.

Aos pais, fica a dica de experimentar horários diferentes, espaços diferentes, e perceber o que antecedeu aqueles dias em que a aula fluiu ou o momento da lição de casa ocorreu sem estresse, tornando esses pontos positivos em momentos fixos da rotina. Aos professores, fica a dica de anotar o que funcionou para qual aluno, o que gerou maior estresse para determinadas turmas, e depois analisar esse registro com calma.

Depois de duas semanas fazendo essas observações, vale a pena dar um ou dois dias de folga para os alunos. Nesses dias, pais e professores podem conversar, descobrindo juntos muito sobre cada aluno. Quando as aulas presenciais voltarem, pais e professores terão um tesouro em mãos: um perfil traçado sobre o que funciona melhor em determinadas situações ou conteúdos; como cada criança ou adolescente consegue concentrar-se mais; que atividades podem ser mantidas no momento da lição de casa, tendo a tecnologia como ferramenta para complementar ou reforçar o aprendizado.

Enfim, um final feliz para essa novela que teve tantos capítulos tensos. Pode parecer utopia, mas três meses atrás também pareceria surreal a ideia de ter-se as escolas fechadas e os filhos dentro de casa. No entanto, juntos, pais e professores continuam encontrando maneiras para seguir com o processo de aprendizagem formal de nossas crianças e adolescentes. Levar para o futuro os aprendizados que pais e professores tiveram neste momento é papel de todos nós, juntos. Família e escola, caminhando na mesma direção e saindo mais fortes desta tempestade!   

 

Por Taís e Roberta Bento

SOBRE O AUTOR

Taís e Roberta Bento são fundadoras do SOS Educação (site de educação do portal Estadão), palestrantes e responsáveis pela coluna Escola da revista Pais&Filhos. Também são membros do Conselho Acadêmico de Educação da Universidade Simon Fraser (Canadá) e autoras do livro “Socorro, meu filho não estuda!”.

Roberta Bento

Graduada em Letras, Roberta possui especialização em formação de professores de Línguas (International House, na Inglaterra) e pós-graduação em Marketing e em Gestão de Pessoas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Também é especializada em Aprendizagem Baseada no Funcionamento do Cérebro, pela Universidade da Califórnia e Universidade Duke, e em Aprendizagem Cooperativa, pela Universidade de Minnesota e Universidade de San Diego.

Taís Bento

É graduada em Pedagogia pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-graduada em Marketing pela Fundação Armando Álvares Penteado (Faap). Também possui especialização em Aprendizagem Baseada no Funcionamento do Cérebro e Aprendizagem Cooperativa, pela Universidade de Minnesota e pela Universidade de San Diego.