Brasil Educação

Comissão não constatou viés ideológico nas questões do Enem, diz ex-presidente do Inep

Segundo Marcus Vinicius Rodrigues, percentual de questões vetadas no Banco de Itens foi ínfimo
Marcus Vinicius Rodrigues, ex-presidente do Inep Foto: Adriana Lorete / Agência O Globo
Marcus Vinicius Rodrigues, ex-presidente do Inep Foto: Adriana Lorete / Agência O Globo

RIO- O ex-presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) Marcus Vinicius Rodrigues afirmou que não foi constatada "ideologia" nas questões que podem compor o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). As perguntas do Banco Nacional de Itens (BNI) passaram por um pente-fino de uma comissão formulada para inspecionar as perguntas e vetar aquelas que tivessem "viés ideológico".  Segundo Rodrigues, exonerado há um mês, o percentual de itens considerados problemáticos foi ínfimo.

A comissão foi criada em março, quando Rodrigues ainda estava à frente do Inep, e composta por três membros: Marco Antônio Barroso Faria, secretário de Regulação e Supervisão do Ministério da Educação; Antônio Mauricio Castanheira, diretor de Estudos Educacionais do Inep; e Gilberto Callado de Oliveira, procurador de Justiça do Ministério Público de Santa Catarina, que entrou como representante da sociedade civil.

— A análise não constatou isso (que havia ideologia nas questões). O índice de questões analisadas que apresentaram problemas foi muito pequeno. Praticamente não havia (ideologia). Um percentual mínimo foi excluído — disse o ex-presidente do Inep.

Em entrevista ao jornal "O Estado de São Paulo", no início de abril, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, afirmou que a comissão para fazer o pente-fino no Enem não seria mantida. Ao GLOBO, o governo informou, via Lei de Acesso à Informação, que os itens "não recomendados" para a montagem do Enem não foram excluídos do banco.

A reportagem solicitou detalhes sobre os resultados da Comissão de Verificação do Enem, como o número de questões excluídas, em quais áreas do conhecimento e quais eram elas, mas teve o pedido negado, sob afirmação de que as conclusões do grupo são sigilosas. O GLOBO recorreu, mas ainda não obteve resposta do recurso. Questionado sobre detalhes do trabalho da comissão e quais itens teriam sido vetados no BNI, Rodrigues também não quis comentar.

— Foram vistas todas as questões. Essa revisão foi um cuidado que tivemos por solicitação do nosso presidente (Jair) Bolsonaro. Foi feita toda a revisão de forma muito criteriosa, usando técnicas adequadas. E isso era necessário — disse ele, acrescentando: — Para não ser tendencioso, o que fiz foi rever todas as questões do banco e, quando forem montar a prova, o universo do qual tirarão as questões já foi revisto e não será tendencioso. Foram três pessoas (fazendo esse trabalho) durante 15 dias. Três profissionais gabaritados.

Ao GLOBO, Marcus Vinicius Rodrigues fez um alerta sobre a necessidade de agilizar a realização do Enem. Segundo ele, a nova equipe do órgão precisa ser rápida, já que há um impasse em relação à nova gráfica para imprimir as provas, depois que a RR Donnelley decretou falência.

— Vínhamos fazendo um trabalho criterioso desde novembro, com uma equipe muito boa. A equipe foi desmontada. Estão entrando pessoas que não conhecem o processo, elas vão ter que aprender, por mais competentes que sejam — afirmou. —  Eu não assumiria hoje a presidência do Inep para fazer um Enem em novembro, porque acho que não teria tempo hábil para preparar a equipe. Depende da habilidade, da competência e do conhecimento dos atores envolvidos. Começamos um processo em novembro e ele praticamente zerou. Estamos quase em maio e sem gráfica (para imprimir o exame).

Nesta segunda-feira, o novo presidente da autarquia, Elmer Coelho Vicenzi, tomou posse à frente do Inep. Em comunicado, Vicenzi afirmou que seu compromisso é "cumprir o cronograma de avaliações, exames e levantamentos estatísticos previstos para 2019".