Na última segunda-feira, no Colégio Estadual Professora Helena Kolody, em Cambé, norte do Paraná, repetiu-se um roteiro macabro: um ex-aluno entrou armado e atirou no casal de namorados Karoline Verri Alves, 17, morta na hora, e Luan Augusto da Silva, 16, que resistiu até a terça-feira. É o vigésimo quarto caso de massacre escolar nos últimos 21 anos registrado nos levantamentos oficiais. De 2002 a 2019 houve sete atentados do tipo. De lá para cá foram 17. Mais da metade ocorreu desde fevereiro do ano passado. Ao todo, 47 das quase 140 vítimas perderam a vida de repente, de modo absolutamente estúpido e sem sentido.
É assustador que, desde abril, quando quatro crianças foram mortas numa creche em Santa Catarina, a Operação Escola Segura — parceria do Ministério da Justiça com a Polícia Federal e 27 delegacias especializadas em crimes cibernéticos — tenha detido 368 jovens que ameaçavam ou planejavam atacar escolas. Quase 1.600 suspeitos de integrar grupos extremistas com ação no meio estudantil via redes sociais foram levados a depor na delegacia. Há pontos em comum nas tragédias: as armas costumam ser de parentes, geralmente o pai, e os autores dos crimes, em 88% dos ataques, agem sozinhos. A idade média é 16 anos, segundo levantamento do Instituto Sou da Paz.
- Tragédia no Colégio Helena Kolody: Morte no pátio e idoso fingindo ser policial: entenda, passo a passo, ataque em escola no Paraná
Os números mostram que passa da hora de haver articulação entre estados, municípios e governo federal para definir uma política pública ampla capaz de coibir esses atos de selvageria. A escola precisa ganhar mais espaço nas políticas de precaução contra a violência. “A escola pode ser o espaço privilegiado de prevenção de conflitos”, disse a professora da Faculdade de Educação da Unicamp Telma Vinha ao podcast O Assunto, do portal g1.
- Tragédia no Colégio Helena Kolody: Polícia prende quarto suspeito de envolvimento em ataque à escola em Cambé (PR)
Não dá para encarar esse tipo de violência meramente como questão de segurança pública que estaria resolvida se houvesse mais policiais nas escolas, detectores de metal nas entradas e outras medidas de vigilância. De acordo com Vinha, é possível promover assembleias de alunos para conduzi-los a trabalhar pela agregação do grupo. O currículo escolar deve, segundo ela, tratar das redes sociais e mostrar o seu extremismo. Os professores também precisam ser preparados para abordar a questão da violência — tarefa a ser entregue ao MEC, no papel de coordenador dessa reciclagem.
Com quase seis meses de governo, o Palácio do Planalto não pode esmorecer. De nada adianta ministros e demais autoridades aparecerem indignados nas entrevistas coletivas logo depois da tragédia se não houver serenidade e consistência no enfrentamento mais amplo, profundo e articulado da violência em escolas. Ou a barbárie perdurará.