Economia
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Por Ana Carolina Diniz — Rio

Há seis meses sem ocupação, após fazer bicos como segurança e atendente de farmácia, Leonardo Davi, de 19 anos, morador do bairro Jacarecanga, em Fortaleza, busca uma vaga de jovem aprendiz. Seu plano para o futuro é cursar barbearia para trabalhar na área, mas, por hora, vai agarrar a chance que aparecer.

— Não perco a esperança. Estou sempre em busca de oportunidade — diz.

O caso de Davi é um exemplo do atual panorama do jovem no mercado de trabalho brasileiro, principalmente daqueles em situação de vulnerabilidade social. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE, a pandemia atingiu fortemente esse grupo. E, embora indicadores de desemprego estejam melhorando, o índice entre jovens continua muito acima da média nacional.

Persistência: Leonardo Davi busca vaga de jovem aprendiz: “Não perco a esperança” — Foto: Arquivo pessoal
Persistência: Leonardo Davi busca vaga de jovem aprendiz: “Não perco a esperança” — Foto: Arquivo pessoal

No primeiro trimestre de 2020, a taxa de desemprego entre jovens de 18 a 24 anos atingiu 26,3%, subindo a 30% no mesmo período do ano seguinte. No primeiro trimestre de 2022, recuou a 22,8%.

Bruno Ottoni, pesquisador do IDados, avalia que o indicador deve ter melhorado um pouco mais até maio, pois o desemprego no Brasil, considerando todas as idades, caiu a 9,8% — os dados por faixa etária ainda não estão disponíveis. Ele ressalta, no entanto, que os jovens são os mais prejudicados em momentos de crise, por isso levam mais tempo para se recolocar no mercado:

— O desemprego dessa faixa etária aumenta mais do que as outras. São grupos com menos experiência, em geral, o que gera receio nos empregadores. E são os primeiros a serem demitidos. É um grupo que acaba sofrendo mais em um momento de crise.

A situação é mais crítica quando se observam os dados dos jovens que não trabalham nem estudam, os chamados nem-nem, embora estes também apresentem leve melhora. De um patamar de quase 30% em 2020, o percentual recuou para 24% no primeiro trimestre do ano, calcula o FGV Social, com base em dados da Pnad.

Para Marcelo Neri, diretor do FGV Social, os números começam a dar sinais positivos em relação à empregabilidade dos mais novos. Os vulneráveis, porém, podem não ser beneficiados.

— A pandemia nos forçou a acelerar a tendência de digitalização. Só que os jovens mais pobres não se beneficiaram dessa onda digital, tanto no trabalho, quanto no estudo. Talvez o efeito seja acirrar ainda mais esse fosso, com uma geração mais desigual do que se tinha até agora. O jovem de alta renda conseguindo oportunidades e sendo disputado pelos empregadores, e o de baixa renda não participando dessa tendência — diz Neri.

MP do Jovem Aprendiz

As entidades que fazem a interface entre os jovens e as empresas consideram o cenário atual preocupante. No Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), há mais de 1,7 milhão de estudantes cadastrados à espera de uma vaga, um dos números mais altos já registrou pela entidade, diz Humberto Casagrande, presidente do CIEE.

Havia 230 mil estagiários ativos no período pré-pandemia. Hoje, são 150 mil. Para ele, pode haver recuperação na abertura de processos seletivos para estágio e trainee no segundo semestre. Já para os programas de Jovem Aprendiz, a situação é mais preocupante.

— Com a mudança da MP do Jovem Aprendiz, as empresas pararam de contratar nessa modalidade, esperando a tramitação no Congresso — diz Casagrande.

A medida provisória 1.116/22, de maio, altera as regras do programa, com a expectativa do governo federal de abrir 250 mil vagas. Mas, para o CIEE e o Instituto Brasileiro Pró-Trabalho e Desenvolvimento (Isbet), porém, as mudanças vão diminuir drasticamente a oferta de postos de trabalho, além de afetar a fiscalização do cumprimento de cotas pelas empresas, por suspender multas já aplicadas.

A Lei do Jovem Aprendiz, regulamentada em 2005, determina que as empresas tenham entre 5% e 15% de aprendizes em seu quadro. Um dos artigos mais criticados da MP é o que estabelece que, para fins de cumprimento da cota, será contabilizada em dobro a contratação de aprendizes, adolescentes ou jovens de família beneficiária do Auxílio Brasil.

— Os jovens vulneráveis contratados passarão a contar em dobro para efeito de cumprimento da cota. Ou seja, a empresa contrata um, que vale por dois, o que reduz o número de vagas — diz Emanuelle Marjúria, coordenadora do Isbet Fortaleza.

No mercado de trabalho, há uma força jovem parada enquanto setores enfrentam falta de mão de obra especializada. Segundo a Associação de Empresas de Tecnologia da Informação (Brasscom), só este setor vai demandar 797 mil profissionais até 2025. Com o número de formandos abaixo da demanda, projeta-se um déficit anual de 106 mil candidatos.

Por isso, a iniciativa privada promove programas de formação de profissionais. O Google, por exemplo, anunciou na semana passada a distribuição de 500 mil bolsas de estudo em tecnologia.

Ajuda para empreender

Há ainda outras frentes de atuação. No movimento Aliança pelos Jovens, liderado pela Nestlé, 78 empresas trabalham em conjunto para oferecer oportunidade de emprego e desenvolvimento, além de promover eventos de inclusão.

A Nestlé tem a meta de, até 2030, ajudar 10 milhões de jovens a terem acesso a oportunidades profissionais. No programa de trainee do ano passado, a empresa ofereceu capacitação on-line a todos os 40 mil inscritos.

— As empresas estão mais conectadas e olhando para esse tema com um pouco mais de atenção, até porque os jovens são nossos clientes e futuro dessas organizações — afirma Helen Andrade, head de Diversidade e Inclusão na Nestlé Brasil.

A Shell, por exemplo, temo programa Shell Iniciativa Jovem, que busca pessoas entre 20 e 34 anos que já empreendem ou têm ideias de negócios que promovam mudanças na sociedade. A companhia oferece mentoria e acompanhamentos contínuos, conta Maria Angert, gerente de Performance Social da Shell Brasil.

Foi no Iniciativa Jovem que Lettycia Vidal deu seus primeiros passos no mundo do empreendedorismo e tirou seu negócio do papel, a Gestar, startup que conecta profissionais da saúde materno-infantil a famílias:

— Na pandemia, estava em uma empresa que me possibilitou o home office. Mas logo depois pedi demissão para me dedicar a minha startup. Foi uma decisão a partir do momento em que a Gestar estava começando a dar certo. Então, entendi que era preciso mais tempo de dedicação.

O debate “Geração pós-pandemia: o impacto na vida, na educação e no futuro dos jovens” é uma realização do Colégio e Curso AZ, em parceria com O GLOBO.

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