Por Paulo Piassi*, g1 Bauru e Marília


Com diretora e vice-diretora negras, escola do interior de SP métodos pedagógicos para trabalhar questões raciais com alunos — Foto: Arquivo Pessoal

Uma pesquisa concluída em junho de 2023 pela Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (IPEC) colocou o ambiente escolar no topo da lista de locais em que os brasileiros mais afirmam ter sofrido violência racial.

Essa é a realidade que as diretoras de uma escola estadual de ensino fundamental e médio de Cabrália Paulista (SP), no interior de São Paulo, tentam combater. Trabalho que já traz frutos à comunidade da cidade com 4,3 mil habitantes.

A Escola Estadual Senador Rodolfo Miranda é dirigida pela diretora Regina Duarte, de 53 anos, e pela vice-diretora Maria Cristina Lourenço, de 62 anos. Mulheres negras, que colocam a luta contra o racismo estrutural da sociedade brasileira como parte dos seus trabalhos pedagógicos no colégio.

Para elas, muito da vontade de trazer essas questões para o dia a dia da escola veio de suas experiências passadas, como mulheres negras tentando ocupar um cargo de liderança.

“Aqui no interior a gente vê poucas pessoas negras e no início parecia que havia um receio. Já ouvi comentários como ‘você é uma pretinha muito esperta’ por ter cursado uma faculdade e hoje ocupar um cargo de direção.” lembra a Diretora Regina.

“A gente passa por alguns momentos que as pessoas duvidam da gente e simplesmente, não reconhecem uma pessoa negra em uma posição de liderança. Já me perguntaram se eu trabalhava na cozinha da escola, por exemplo”, conta Maria Cristina, vice-diretora da escola.

Alunos da Escola Estadual Senador Rodolfo Miranda de Cabrália Paulista (SP) participam de apresentação teatral que celebra o Dia da Consciência Negra — Foto: Arquivo Pessoal

Pedagogia da presença

A pedagogia da presença foi o norte estabelecido por elas para alcançar o objetivo, uma abordagem em que um princípio deve estar presente em todas as ações da equipe escolar, dentro e fora da sala de aula.

“Na nossa proposta pedagógica a gente fala muito sobre a dignidade humana, e a partir daí a gente trabalha com vários temas, como feminismo, diversidade sexual, e preconceito racial. Nós pedimos para a equipe olhar para o aluno individualmente e a partir daí, ressaltar a beleza de cada um em todos os aspectos: o cabelo, a cor, a vestimenta.”, explica a diretora.

A questão racial também é discutida nos ‘clubes’, desenvolvidos dentro da escola. Em setembro deste ano, o racismo foi tema de conversa no Pod Cast Senador, um programa de entrevista desenvolvido pelos alunos. No episódio em questão, professores negros da escola foram entrevistados para contar sobre suas experiências e como lidar com o racismo.

Alunos de Cabrália Paulista (SP) discutem racismo com professores em Podcast — Foto: Reprodução/Instagram

Em comemoração ao mês da Consciência Negra, um evento que celebra a cultura afro também foi realizado na escola. Intitulado “Celebração à diversidade Étnica e Histórica do Brasil”, os próprios alunos idealizaram workshops, oficinas e palestras sobre o tema. (Veja as fotos do evento abaixo).

Celebração à diversidade Étnica e Histórica do Brasil

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Evento “Celebração à diversidade Étnica e Histórica do Brasil” foi realizado na Escola Estadual Senador Rodolfo Miranda em comemoração ao Dia da Consciência Negra — Foto: Arquivo Pessoal

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Evento “Celebração à diversidade Étnica e Histórica do Brasil” foi realizado na Escola Estadual Senador Rodolfo Miranda em comemoração ao Dia da Consciência Negra — Foto: Arquivo Pessoal

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Evento “Celebração à diversidade Étnica e Histórica do Brasil” foi realizado na Escola Estadual Senador Rodolfo Miranda em comemoração ao Dia da Consciência Negra — Foto: Arquivo Pessoal

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Evento “Celebração à diversidade Étnica e Histórica do Brasil” foi realizado na Escola Estadual Senador Rodolfo Miranda em comemoração ao Dia da Consciência Negra — Foto: Arquivo Pessoal

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Evento “Celebração à diversidade Étnica e Histórica do Brasil” foi realizado na Escola Estadual Senador Rodolfo Miranda em comemoração ao Dia da Consciência Negra — Foto: Arquivo Pessoal

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Evento “Celebração à diversidade Étnica e Histórica do Brasil” foi realizado na Escola Estadual Senador Rodolfo Miranda em comemoração ao Dia da Consciência Negra — Foto: Arquivo Pessoal

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Evento “Celebração à diversidade Étnica e Histórica do Brasil” foi realizado na Escola Estadual Senador Rodolfo Miranda em comemoração ao Dia da Consciência Negra — Foto: Arquivo Pessoal

Os frutos dos esforços das diretoras e da equipe escolar já fazem diferença na vida dos alunos.

“Aqui são muito raras as situações de racismo ou qualquer outro preconceito. Não se tem mais aquelas piadas sobre, por exemplo, cabelo de ‘Bombril’. Eles têm a oportunidade de não passar pelo que nós passamos. Hoje nós sabemos como responder o racismo à altura, e isso é conquistado através dos estudos”, pontua Regina.

Já Maria Cristina lembra de um aluno que superou seu problemas de autoestima com o cabelo através das atividades desenvolvidas no ambiente escolar.

“Nós temos um aluno que só vinha de touca. Aí nós conversamos com ele para tentar entender o que fazia ele usar aquela touca, e era a vergonha do cabelo. Ele tem um cabelo tão bonito, cacheadinho. Até que hoje ele vem todo estiloso, sem vergonha do cabelo e com penteados diferentes”, conta a vice-diretora.

Dia da Consciência Negra

O Dia da Consciência Negra, celebrado no dia 20 de novembro, faz referência ao dia em que Zumbi dos Palmares foi capturado e morto em 1965 .

Zumbi foi líder do Quilombo dos Palmares, o maior da história do Brasil. Ele é considerado símbolo da luta e da resistência dos negros ao regime escravocrata e ao racismo.

* Sob a supervisão de Mariana Bonora

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