Educação
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Por Italo Cosme

Na quadra de esportes da Escola Antônio Custódio de Azevedo, no município de Sobral (CE), o sonho da professora Analine Parente, que dá aulas para alunos do 6o ao 9o ano, materializou-se em 11 de agosto, Dia do Estudante. Impulsionada pelas competências da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), ela selecionou 24 monitores, entre os alunos, para guiarem outros 500 colegas em 12 atividades temáticas. Entre os materiais utilizados, estavam o jogo da velha, o quebra-cabeça, as pinturas de paisagens e até mesmo o pop it, um brinquedo de silicone que tem feito muito sucesso entre as crianças. O projeto foi nomeado de Brincando com Geografia.

— Desde que a BNCC começou a se inserir no nosso dia a dia, com a validação de um novo currículo e a chegada de novos livros didáticos, a necessidade de inovação na sala de aula se tornou mais evidente — diz a professora.

Homologada entre os anos de 2017 e 2018, a Base Nacional Curricular é um documento que define as aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo da educação básica — da educação infantil ao ensino médio. Todas as instituições de ensino tiveram que formular novos currículos alinhados a ela. Houve um atraso com a pandemia, mas, no ano passado, cerca de 5,4 mil municípios já haviam alinhado suas matrizes. Isso significa que inovações como as propostas pela professora Analine começaram a ser vistas com mais frequência pelas escolas do país.

A professora Analine Parente, que dá aulas de geografia para o ensino fundamental em Sobral, no Ceará — Foto: Arquivo pessoal
A professora Analine Parente, que dá aulas de geografia para o ensino fundamental em Sobral, no Ceará — Foto: Arquivo pessoal

Em Sobral, aliás, a inovação está presente em outras áreas. O município buscou o conceito de laboratório de fabricação digital, desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Columbia (EUA), para implementar projetos. A rede tem instalado incubadoras que contam com kits de robótica, impressora 3D, cortadora a laser e placas de circuito eletrônico, por exemplo.

— Todo esse material é desenvolvido justamente com sequência didática direcionada para que os alunos tenham experiências inovadoras em química, física ou biologia. Até mesmo na matemática — explica Herbert Lima, secretário de Educação de Sobral.

Esse movimento de potencializar as habilidades dos estudantes, valorizar seus conhecimentos prévios e ter a tecnologia como aliada é perceptível em todo o país, ainda que em escalas diferentes. No Rio de Janeiro, um dos exemplos vem do Instituto Nossa Senhora da Piedade, em Jacarepaguá. Foi nessa instituição que a professora de Biologia Dyanna Galaxe desenvolveu o “Entre Gerações”, um projeto que está dividido em temas como “Por que nascemos” e “Por que envelhecemos” e é um dos itinerários formativos oferecidos aos alunos do ensino médio, uma das novidades previstas pela Base. Como cada aluno define o itinerário que vai seguir, o “Entre Gerações” é normalmente escolhido por estudantes que têm afinidade com a área da saúde.

Um dos parceiros do módulo é o professor José Garcia Ribeiro Abreu Júnior, diretor do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ. No primeiro semestre, a turma foi ao campus da Ilha do Fundão para vivenciar um dia nos laboratórios da instituição.

— No primeiro momento, trabalhamos conceitos da embriologia. Já no segundo, os aspectos que levam ao envelhecimento — descreve Dyanna.

Até o fim do ano, os estudantes devem passar um fim de semana na Casa de Repouso Irmã Benigna, em Minas Gerais, e a professora já convidou pesquisadores do Rio Grande do Sul e dos Estados Unidos para conversar com os alunos.

Na mesma escola, Fly Vagner é o responsável pelo itinerário de educação financeira. As aulas são remotas e Fly usa quase dez câmeras, computadores, notebooks, TVs, minibiblioteca, parede temática e lousa para interagir com os estudantes.

Fly Wagner, que dá aulas de educação financeira no Instituto Nossa Senhora da Piedade, em Jacarepaguá — Foto: Arquivo pessoal
Fly Wagner, que dá aulas de educação financeira no Instituto Nossa Senhora da Piedade, em Jacarepaguá — Foto: Arquivo pessoal

No Pensi, colégio com 21 unidades no estado do Rio, os alunos do 9o ano começaram a ser preparados para as mudanças no ensino médio antes que elas fossem implementadas, explica Pedro Rocha, diretor de ensino da rede.

— Depois que esses estudantes já estavam conscientes do que encontrariam no novo ensino médio, demos início às mudanças. Hoje temos itinerários formativos para todas as áreas do conhecimento, além de alguns específicos, como aqueles voltados para os que querem estudar medicina ou pretendem se dedicar a concursos como IME ou ITA.

Os itinerários do Pensi ainda ganharam nomes divertidos, de acordo com a área do conhecimento: os alunos podem escolher seguir o Papo de Humanas, ou o Rolê Criativo. Há ainda o Exatamente e o Natureza das Coisas.

Processo ainda em curso

Presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Luiz Miguel Garcia explica que a Base valoriza as questões regionais e nacionais e, mesmo assim, mantém uma identidade nacional na formação dos estudantes. Segundo ele, ainda não é possível, no entanto, analisar profundamente seus efeitos no país:

— É importante mostrar que esse processo está em curso. Houve prejuízo em função da pandemia. É preciso que haja essa compreensão antes de se fazer um pré-julgamento. Neste momento, estamos reconstruindo o processo de implementação dos currículos nas redes.

O regime de colaboração entre estados e municípios é o grande trunfo da BNCC, mesmo durante o enfrentamento da pandemia, acredita Patricia Mota Guedes, gerente de pesquisa e desenvolvimento do Itaú Social. Assim como Garcia, ela afirma que é necessário construir melhor os aspectos relacionados à avaliação e à formação dos professores.

Em relação aos ganhos e inovações para o ensino fundamental, Patrícia diz que um fator positivo foi uma maior possibilidade de os professores realizarem projetos de forma interdisciplinar. O ensino médio e a educação infantil foram as duas etapas mais impactadas pela BNCC:

— A Base reconhece a importância de a educação infantil ter um currículo. Alguns municípios já tinham isso bem estruturado, mas o documento atua como catalisador, tanto para aprimoramento, quanto para criação.

Para Ana Selva, secretária executiva de desenvolvimento da educação de Pernambuco, a inovação no ensino médio a partir da BNCC está relacionada a uma escola que dialoga com as juventudes e seus respectivos interesses. Mas ela enfatiza que não basta atrair por meio da tecnologia: é preciso manter o aluno nas aprendizagens e aprofundar seus conhecimentos.

Assim como Guedes e Garcia, Selva aponta a necessidade de se avançar na formação dos professores:

— O grande desafio nacional é o fato de a gente ter feito toda essa discussão e construção, mas não termos ainda a matriz curricular do Enem, que é muito importante no processo de acesso ao ensino superior. Infelizmente, ainda estamos aguardando essas definições.

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