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Colégios de ponta no Rio viram sonho possível

João Antônio Silva, de 17 anos, ganhou nova perspectiva de vida. O menino — filho de uma diarista e de um pedreiro, ambos desempregados — acabou de começar o curso de Direito na PUC-Rio, cuja mensalidade passa de R$ 2 mil. Não é que a família tenha levado a Mega-Sena. Essa história não tem a ver com sorte, mas com competência e dedicação. João Antônio, em 2012, entrou para o projeto Ismart (Instituto Social Para Motivar, Apoiar e Reconhecer Talentos), que está com inscrições abertas para nova seleção, e estudou de graça no tradicional Colégio São Bento. Lá, fez o ensino médio, tirou 940 (a nota máxima é mil) na redação do Enem e ficou com o primeiro lugar para uma bolsa do Programa Universidade para Todos (Prouni), do governo federal.

— Os meus horizontes foram ampliados quando eu mudei de escola. Tive contato com muitas coisas que eu não teria se não fosse o Ismart. Não só a escola, já que eu jamais estudaria no São Bento sem a bolsa, mas os conhecimentos que tive, as oportunidades de encontrar profissionais da área pelas quais tinha interesse, palestras e tudo — conta o futuro advogado.

O universitário começou a trajetória dele no Ismart pelo Projeto Alicerce. Essa é a modalidade na qual os alunos de 7º ano devem se inscrever. Foram abertas, no Rio, 60 vagas para 2018. Quem passar fará como João Antônio: além de estudar em seus colégios públicos de origem, terá, com bolsa integral, um preparatório em colégios particulares de ponta por dois anos, no contraturno. As aulas de reforço são no São Bento, no Centro; e no PH de Botafogo e Barra.

Já alunos do 9º ano concorrem a 40 vagas de 2018 do Bolsa Talento para cursar o ensino médio nas escolas particulares parceiras do Ismart. Para a edição do ano que vem, há vagas no Colégio Pensi da Tijuca e no PH Barra.

— Quando entrei no São Bento, só ficava com o pessoal do Ismart por achar que os outros alunos não iam me receber bem. Preconceito meu. Mas depois me enturmei e fiz grandes amigos lá. Me encontro com o pessoal até hoje, nunca tive problemas — estimula João Antônio.

Cresce número de vagas a serem disputadas

O número de bolas oferecidas nos dois projetos do Ismart cresceu do processo seletivo de 2016 para 2017. No ano passado, para o Rio de Janeiro, eram 72 vagas e agora são 100 ao todo. O instituto funciona nos municípios paulistas de Cotia, São José dos Campos, Sorocaba, além de São Paulo capital e do Rio de Janeiro. Hoje, são cerca de 1.400 alunos participando.

Criado em 1999, o Instituto Social para Motivar, Apoiar e Reconhecer Talentos (Ismart) é uma entidade privada, sem fins lucrativos, que tem o objetivo de identificar jovens talentos de baixa renda. Até hoje, já conseguiu levar seus estudantes para universidades importantes do mundo todo, como Yale e MIT, ambas nos Estados Unidos.

Os alunos selecionados para as vagas dos projetos Alicerce e Bolsa Talento recebem bolsa de estudos integral, uniforme, material didático e ajuda de custo para transporte e alimentação. Após concluírem o ensino médio como bolsistas, os estudantes podem ainda ganhar uma bolsa-auxílio para cursar a faculdade e participar do Programa de Desenvolvimento de Universitários do Ismart — um grupo de ajuda com troca de experiência entre os veteranos do projeto e os novatos que chegam. A rede de profissionais do Ismart acompanha cada aluno e suas famílias ao longo do projeto.

- Eu fiquei impactado pela estrutura do Colégio São Bento. Era algo que eu não imaginava. Na minha antiga escola, não era nada daquilo. Quando entrei para o Ismart, ainda morava no Arará (comunidade Parque Arará, em Benfica, na Zona Norte do Rio). Para mim, era normal não conseguir ir à aula em alguns dias por causa dos confrontos entre bandidos e policiais. Agora, eu vejo que isso não pode ser normal. Hoje eu penso em ser promotor de Justiça ou defensor público. Mas isso ainda pode mudar. Desde pequeno, sempre quis fazer Direito. Na infância, era um desejo mais superficial. Com o tempo, fui amadurecendo essa ideia. Eu não conhecia o Ismart. Fui indicado por um professor da Cardeal Leme (escola municipal de Benfica), até hoje não sei quem foi. Aliás, vou até lá para buscar saber. Ele mudou minha vida - contou João Antônio.