Por Luciane Cordeiro, G1 PR — Londrina


Colégio Estadual do Patrimônio Regina, em Londrina (PR), um dos finalistas no prêmio Gestão Escolar 2020 — Foto: Divulgação

Depois de meses de dedicação e de adaptação, o Colégio Estadual do Patrimônio Regina, na área rural de Londrina, no norte do Paraná, termina o ano com motivo para comemorar. A escola está entre as cinco finalistas do Brasil no prêmio Gestão Escolar, que reconhece práticas e soluções inovadoras adotadas durante a pandemia do novo coronavírus. No total, 8 mil escolas se inscreveram.

“É um reconhecimento para a equipe desta escola, que escolheu existir e assumir a identidade de escola rural, que escolheu valorizar o homem do campo”, finalizou a diretora Lauriane dos Santos Lima.

A escola vencedora será anunciada nesta quinta-feira (10), às 16h30.

O colégio é pequeno, tem 247 alunos, 25 professores, atuação de outros dez profissionais de educação envolvidos na rotina escolar e tem nota de 6,4 no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).

Diferente das escolas que ficam na cidade, muitos alunos precisam percorrer até 14 quilômetros por estradas rurais para chegar à escola.

Os moradores da localidade ainda convivem diariamente com problemas de conexão com a internet. O local é atendido por apenas uma operadora de internet e, quase semanalmente, cabos de energia ou de internet são furtados por vândalos deixando o Patrimônio Regina às escuras.

Mesmo com as dificuldades, há dois anos, a escola, que atende os ensinos Fundamental e Médio, estabeleceu uma rotina de estudos para cada turma e os professores acompanham individualmente a evolução e as dificuldades dos estudantes.

Para a diretora Lauriane dos Santos Lima, o planejamento adotado ainda em 2019 ajudou professores e alunos a realizarem as atividades sem grandes dificuldades assim que ensino remoto foi instituído no estado.

“Adotamos no online a mesma grade horária que tínhamos na formato presencial. Era a única maneira de manter esse aluno junto com a gente”, explicou a diretora.

A atenção por parte da diretoria, da equipe pedagógica e dos professores foi redobrada, pais e alunos se dedicaram, e a escola conseguiu evitar a evasão. Nenhum aluno desistiu de estudar durante a pandemia. Pelo contrário, a instituição recebeu novas matrículas.

“Muitos tiveram dificuldade, alguns alunos ficaram com muitas tarefas atrasadas e, para quem não tem apoio, desistir é mais fácil. No nosso caso, não desistimos de nenhum aluno. Se não sabia, a gente trazia ele aqui para mostrar como fazer. Recebemos inclusive pais que queriam trancar a matrícula de seus filhos, mas nós não deixamos”, pontuou Lauriane.

A estratégia adotada pela direção foi reunir e capacitar rapidamente os profissionais, identificar os alunos que tinham algum problema para acessar vídeos e aplicativos e deixar a escola aberta para atendimento à comunidade.

Foram disponibilizados livros, emprestados dois notebooks para professores elaborarem as aulas e uma escala de atendimento foi montada para atender os alunos que tinham alguma dificuldade.

Os professores passaram a gravar conteúdos diferenciados, fizeram reuniões, seminários e encontros virtuais com as turmas.

Já os estudantes da Educação Especial continuaram tendo aulas no contra turno de forma online, recebendo ligações e chamadas de vídeos pelas professoras.

Os 69 alunos do colégio que não têm como acompanhar as aulas oferecidas pelo estado, seja pelo canal digital de TV Aberta, pelo aplicativo Aula Paraná ou pelo canal do Youtube da Secretaria de Educação, recebem tarefas impressas desde abril.

“O diferencial da nossa escola é que acompanhamos os estudantes e os professores desde a primeira semana de ensino remoto. A mesma atenção que disponibilizamos ao aluno conectado, que tem acesso a todas as ferramentas, demos ao aluno que recebeu tarefa impressa”, detalhou Lauriane dos Santos Lima.

Outra medida adotada pela escola foi visitar as famílias de jovens que não estavam buscando as tarefas na escola.

Ainda em agosto, a equipe pedagógica percorreu estradas rurais, visitou chácaras e conversou com pais e estudantes sobre o ano letivo. Um trabalho que surtiu resultado neste fim de ano escolar.

Diretora do Colégio do Patrimônio Regina, em Londrina, afirma que ficar entre os cinco finalistas do prêmio é um orgulho para toda a comunidade — Foto: Colégio Estadual do Patrimônio Regina/Divulgação

Família participativa

A estudante do 1° ano do Ensino Médio, Letícia Aparecida de Oliveira Pieroli é monitora da turma e conta que assim como ela, os demais colegas sentiram falta do contato com o professor, do ambiente escolar.

A turma precisou se dedicar muito mais aos estudos neste ano e saber como lidar com as dificuldades. Mesmo assim, ninguém desistiu.

“Uma vez a professora abriu a aula no Google Meeting e, por problema de conexão ou falta de energia, um dos colegas não conseguia entrar . Então ela ligou pra ele pelo Whatsapp e todos conseguimos acompanhar o conteúdo. Se alguém não podia participar, ela gravava a aula e depois disponibilizava”, contou a jovem estudante.

Letícia destaca o comprometimento dos professores como motivo fundamental para a evolução de cada aluno.

“O online não substitui o presencial, o contato é tudo, mas essa foi a opção que tivemos e deu certo. Conseguimos aprender, acompanhar o conteúdo. Chegamos até aqui”, conclui.

Adriana de Oliveira Pieroli, mãe de Letícia, acredita que o prêmio é um reconhecimento pela dedicação de toda a comunidade.

“Foi uma superação para todos, foi um período para se reinventar. Não ficamos de braços cruzados. A escola estava preocupada com todos e as famílias receberam incentivo para continuar e não desistir”, afirmou.

Adriana e a filha Letícia estão na expectativa para que o Colégio Estadual do Patrimônio Regina, em Londrina, seja vencedor do prêmio — Foto: Divulgação/Colégio do Patrimônio Regina

Prêmio Gestão Escolar

O prêmio é promovido pelo Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), pela União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e pela Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação a Ciência e a Cultura (OEI).

Ao todo, mais de 8 mil escolas se inscreveram e, destas, 5 foram selecionadas como as representantes de cada região do país. Elas estão no Amazonas, Distrito Federal, Paraná, Pernambuco, e São Paulo.

As cinco escolas foram premiadas com R$ 10 mil, cursos de especialização da Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp) e 7 notebooks e 10 tablets cada, cedidos pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Agora, as cinco escolas concorrem ao prêmio de R$ 30 mil.

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