Rio

Colégio próximo à Rocinha contrata consultoria em segurança para proteger alunos

Pais desabafam: 'Estamos vivendo uma guerra e temos que nos proteger'
Durante confrontos na Rocinha no ano passado, Escola Parque ficou fechada Foto: Custódio Coimbra em 22/09/2017 / Agência O Globo
Durante confrontos na Rocinha no ano passado, Escola Parque ficou fechada Foto: Custódio Coimbra em 22/09/2017 / Agência O Globo

RIO — Os tiroteios na Rocinha, na Zona Sul do Rio, que desde o ano passado assustam moradores da comunidade e das redondezas e provocam a suspensão de aulas por dias consecutivos em instituições de ensino localizadas na Gávea, levou a Escola Parque a contratar um consultor em segurança corporativa, com experiência em multinacional. Conforme noticiou nesta terça-feira a coluna de Ancelmo Gois , do jornal O GLOBO, a intenção é criar um plano de segurança para situações especiais. Segundo comunicado distribuído pela unidade a pais e alunos, as ações sugeridas incluem sinalização de rotas de abrigo e simulações que serão implementadas ainda em fevereiro deste ano.

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Procurada, a Escola Parque não quis se pronunciar. No entanto, pais de alunos confirmaram que viveram momentos de tensão no ano passado, quando confrontos entre traficantes e operações policiais recrudesceram a guerra na Rocinha.

— Houve um dia em que as crianças se esconderam na biblioteca apavoradas por causa do tiroteio. E os pais ficaram lá fora, apreensivos, vendo carros da polícia passar na contramão. Por várias vezes não deixei meus filhos irem à aula, mesmo antes de a escola suspender as atividades. O ideal era conseguir aplacar essa violência, mas, infelizmente, estamos vivendo uma guerra e temos que achar maneiras de nos proteger - afirma a mãe de um aluno.

Uma empresária mãe de duas alunas da instituição, que pediu anonimato, está viajando para Lisboa e planeja visitar escolas por lá para, eventualmente, matricular as meninas.

— Eu tenho cidadania portuguesa, e a situação aqui no Rio está horrorosa. Estou pensando em nem mandar minhas filhas para a primeira semana de aula, antes do carnaval, porque eu não vou estar aqui e não quero ficar preocupada — revela.

Para a diretora de teatro Cristina Moura, mãe da aluna Aisha Moura, que concluiu o terceiro ano do Ensino Médio no ano passado na Escola Parque, a escola agiu de forma admirável em 2017, comunicando os pais, mantendo contato com a secretaria de Segurança Pública do Rio e liberando os alunos quando havia risco. Segundo ela, "é legítimo a escola se preocupar em proteger os alunos e tomar providencias em relação à segurança". No entanto, acha que é necessário que a instituição pense na cidade e faça alguma coisa pela Rocinha.

— Eles podiam fazer projetos artísticos dentro da Rocinha, oferecer mais bolsas para moradores da comunidade. As pessoas que vivem ali são cidadãs, trabalhadoras em sua maioria. E acho que o movimento de se isolar e se proteger e não prestar atenção no que está acontecendo ao redor é falho. Só entendo um plano de segurança se for feito com outros projetos que pensem a segurança pública na cidade como um todo.

Em setembro do ano passado, a Escola Americana, que fica a menos de 50 metros de um dos acessos da Rocinha, suspendeu as aulas por quatro dias , durante os confrontos mais intensos na comunidade. No mês seguinte, a instituição, que já tinha uma parte da área externa blindada há dez anos, decidiu expandir a proteção para as salas de educação infantil, onde estudam crianças de cerca de quatro anos.

Outras escolas particulares do Rio passaram a adotar medidas semelhantes do ano passado para cá. A Alemã Corcovado, em Botafogo, tem uma passagem subterrânea que leva à garagem para que, em dias de tiroteio no Morro Dona Marta, os alunos não precisem transitar por áreas descobertas.

Por meio de nota, a escola Britânica afirmou que "a segurança sempre foi uma prioridade para a The British School" e que "continuamente revisa e atualiza seus procedimentos quando necessário. Diz ainda que "segue rigorosamente os protocolos de rotina para garantir a segurança da comunidade".