Por Vanessa Martins e Paula Resende, G1 GO


Colégio onde aluno atirou em colegas realiza culto ecumênico, em Goiânia

Colégio onde aluno atirou em colegas realiza culto ecumênico, em Goiânia

Pais, alunos e professores do Colégio Goyases participaram nesta terça-feira (24) de um culto ecumênico em homenagem aos estudantes mortos e feridos por um colega que atirou dentro da sala de aula, na semana passada. O evento ocorreu em frente à escola, no Conjunto Riviera, teve início por volta de 18h e foi encerrado às 19h30.

Cinco representantes religiosos participaram da cerimônia, sendo dois padres, dois pastores e um espírita. Ex-aluna da escola, Elisa Marques, de 23 anos, também fará um pronunciamento em nome da instituição onde ela estudou.

A Guarda Civil Metropolitana (GCM) estimou que cerca de 400 pessoas estiveram presentes. Todos usavam roupas brancas em homenagem àqueles que foram afetados pela tragédia.

Pais, amigos, professores e alunos se emocionam em culto ecumênico — Foto: Kelly Nascimento/Nascimento Souza Press/Estadão Conteúdo

Os donos da escola acompanham a celebração, mas estão muito abalados e, por isso, preferiram não se pronunciar. Uma das pessoas mais abraçadas durante o culto foi a coordenadora que desarmou o atirador, Simone Maulaz Elteto. Ela se emocionou por várias vezes e disse que a união só aumenta.

"Não é fácil relembrar, a gente está sendo recebido com uma energia muito positiva, os alunos estão comigo e eu com eles. Juntos somos mais fortes. Vamos ter psicólogos junto com os funcionários para acolher melhor os alunos", disse ao G1.

Entre os presentes estavam os parentes da estudante Marcela Macedo, que foi baleada no colégio e completou 14 anos nesta terça-feira (24) enquanto se recupera do ferimendo no Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo). Parentes dela estiveram presentes no evento vestindo camisetas com o rosto da adolescente estampado.

"Viemos homenagear os colegas da Marcela que morreram e rezar pela recuperação dela. Hoje ela está alegre, a cada dia melhor", disse ao Tia da adolescente, Ivonete Macedo, de 32 anos.

O estudante Hyago Marques, de 13 anos, que também foi baleado, mas já recebeu alta, também compareceu à cerimônia com a família. Vários colegas do 8º ano do Ensino Fundamental também participaram do culto. Um deles, de 15 anos, contou que não está sendo fácil lidar com a situação.

"Estou muito abalado ainda, mas me senti na obrigação de vir para prestar homenagens e apoio ao colégio", disse o estudante.

Os representantes religiosos passaram mensagens de conforto aos familiares dos baleados e a toda a comunidade. Eles também pregaram a importância de amar ao próximo e ser tolerante com as pessoas.

"Que os nossos jovens possam receber carinho, atenção. Precisamos fortalecer valores que estão perdidos. É preciso acolher, consolar, abraçar. Que as dores se transformem em luz", disse o palestrante espírita Eduardo Mesquita.

Estudantes da escola liberaram vários balões brancos durante a cerimônia, simbolizando o pedido de "paz" da comunidade do Colégio Goyases.

Pais, alunos e professores se emocionam em culto em homenagem a vítimas de tiros em escola

Pais, alunos e professores se emocionam em culto em homenagem a vítimas de tiros em escola

Professores, pais e estudantes participam de culto ecumênico no Colégio Goyases — Foto: Paula Resende/G1

O culto foi encerrado pela ex-aluna Elisa Marques, de 23 anos. Formada em jornalismo, ela sempre estudou na escola e se prontificou a falar para a comunidade. "Eu tenho um grupo de alunos da minha turma do colégio e a gente queria fazer algo porque é um local maravilhoso é importante nas nossas vidas", disse ao G1.

As aposentadas Isabel Barbosa, de 88 anos, e Rosilene Silva, de 70, foram as primeiras a chegar ao local do culto, às 16h30. Elas são parentes de professores e foram prestar solidariedade. "A gente fica muito abalada, a escola é uma família, dá dó dos meninos, dos pais que perderam os filhos, dos pais do menino que atirou", disse Isabel.

Rosilene também disse que ficou tocada com tudo o que aconteceu. "A gente se solidariza. A escola é muito importante, de princípios, é uma tragédia, mas todos vão se recuperar", afirma.

Durante a celebração, professores e funcionários se abraçaram, emocionados.

Tragédia

O crime aconteceu no fim da manhã de sexta-feira (20) em uma sala de aula do 8º ano do Colégio Goyases, no Conjunto Riviera, em Goiânia. Os tiros foram disparados no intervalo entre duas aulas.

Segundo o delegado Luiz Gonzaga Júnior, responsável pelo caso, o autor dos tiros disse que sofria bullying de um colega e, inspirado em massacres como o de Columbine, nos Estados Unidos, e de Realengo, no Rio de Janeiro, decidiu cometer o crime. Filho de policiais militares, ele pegou a pistola .40 da mãe e a levou para a unidade educacional dentro da mochila.

O pai do adolescente prestou depoimento à polícia e negou que soubesse que o filho sofria bullying. Disse ainda que nunca ensinou o filho a atirar e que ele pegou a arma descarregada sobre o guarda roupas e a munição em uma gaveta trancada após procurar e achar as chaves.

O aluno, que estava apreendido na Delegacia Estadual de Apuração de Atos Infracionais (Depai), foi transferido na segunda-feira (23) para um centro de internação onde irá cumprir a decisão de internação provisória expedida pela Justiça.

João Pedro Calembo (à esquerda) e João Vitor Gomes foram mortos a tiros durante ataque em escola — Foto: Reprodução/TV Anhanguera

Mortos e feridos

Os estudantes João Pedro Calembo e João Vitor Gomes, ambos de 13 anos, morreram ainda no colégio. Os corpos foram enterrados no sábado (21) em cemitérios de Goiânia. Outros quatro alunos foram baleados e ficaram feridos.

Uma delas é Isadora de Morais, de 14 anos, que está no Hugo sem previsão de alta. O quadro dela também é regular. Ela está em um leito da UTI humanizada. "A gente acredita que não demora uma recuperação melhor, não", disse Odair José dos Santos, tio da menina.

A estudante Marcela Macedo completou 14 anos nesta terça-feira, também no Hugo. Ela está em estado de saúde regular, já saiu da UTI e está internada em uma enfermaria.

Já a estudante Lara Fleury Borges, de 14 anos, está internada no Hospital dos Acidentados. Na manhã desta terça-feira, ela saiu na sacada para avisar que "está bem".

O estudante Hyago Marques, de 13 anos, também foi baleado e foi o primeiro a receber alta do Hugo, no domingo (22). Já em casa, ele afirmou que perdoa o colega autor dos disparos, mas que "nada justifica a reação dele".

Hyago Marques, de 13 anos, baleado durante ataque em colégio de Goiânia já se recupera em casa — Foto: Giovanna Dourado/TV Anhanguera

O que se sabe até agora:

Veja a sequência dos fatos:

  • Colegas relatam que ouviram um barulho
  • Em seguida, os alunos viram o adolescente tirando a arma da mochila e atirando
  • Alunos correram para fora da sala de aula
  • O aluno descarregou um cartucho, carregou o segundo e deu um tiro, mas foi convencido pela coordenadora a parar de atirar
  • Estudante foi levado para a biblioteca até a chegada dos policiais

— Foto: Arte/ G1

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