Claudia Costin

Diretora do Centro de Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

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Claudia Costin

A hora e a vez do aprendizado dos jovens

Há que se comemorar a aprovação da parte da Base referente ao ensino médio

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Na terça-feira (4), o Conselho Nacional de Educação aprovou a parte da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) correspondente ao ensino médio. Com isso começa a se concluir a tarefa de tentar resolver um dos muitos motivos pelos quais não temos uma educação de qualidade para todos: a ausência de uma definição mais clara dos direitos de aprendizagem de crianças, adolescentes e jovens. 

O Ministério da Educação ainda precisa homologar o trabalho do Conselho Nacional, os estados e escolas precisarão traduzir a Base em currículos e lidar com a desafiadora tarefa de definir a sua parte diversificada, ou seja, os diferentes itinerários formativos.

Há que se comemorar o feito, a despeito das polêmicas que cercaram a elaboração desta parte da BNCC e das dúvidas que ainda persistem. 

Temos um ensino médio que conta ainda, em média, com apenas quatro horas de aula, nas quais tentam se esparramar 13 disciplinas —diferentemente do que fazem os melhores sistemas educacionais do mundo. Isso faz com que cada aluno receba apenas um verniz de cada uma. 

Não é por acaso que, embora nas avaliações o ensino fundamental venha mostrando melhoras (insuficientes, é verdade), o médio esteja estagnado, num patamar muito baixo.

Além disso, o currículo acabava sendo definido, como bem mostra Martin Carnoy, pesquisador da Universidade de Stanford, em publicações sobre a educação no Brasil, pelo livro didático. 

Agora temos uma definição bem mais clara do que se espera que os alunos aprendam, da educação infantil até o final do ensino médio, que competências devem desenvolver e os possíveis diálogos entre as áreas. 

Li com atenção o texto da Base e creio que houve um grande progresso nesta versão frente à anteriormente discutida pelo conselho. 

Há maior clareza nas expectativas de aprendizagem, a despeito de uma linguagem ainda academicista que tenderá a tornar desafiador o trabalho dos estados e escolas no processo de tradução da Base em currículos, e um pouco de modismos em alguns trechos do texto.

Mas, no conjunto, a Base traz algumas características ricas, além da definição mais precisa de competências e habilidades que todos devem desenvolver (o que é fundamental para a equidade), como a flexibilidade nos arranjos instrucionais, o que preserva a autonomia das escolas para experimentação e garante poder de escolha para escolas e alunos.

O que mais me agradou, por sinal, refere-se a eles. Ao enfatizar o projeto de vida do aluno e a importância de resolução colaborativa de problemas, a BNCC do ensino médio para de infantilizar os jovens e permite uma preparação melhor para o futuro do trabalho.
 

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Comentários

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neli faria

7.dez.2018 às 12h25

Leio as suas colunas e vejo uma pessoa idealista, abnegada em prol da Educação. Passei da fase de ser otimista. Infelizmente, nem nos próximos duzentos anos a Educação vai mudar. Povo educado não é interessante para oportunistas políticos. Aliás, hoje, as futuras autoridades estão mais preocupadas proibir educação se xual ,aborto,e impor a Bíblia do que educar. Infelizmente não tenho esperança no amanhã. E cumprimento-a por ter esperança.

Arnaldo Vianna de Azevedo Marques

7.dez.2018 às 11h00

A realidade que não quer calar. “A juventude está sozinha. Não há ninguém para ajudar a explicar por que é que o mundo é este desastre que aí está.” Renato Russo

Herculano JR 70

7.dez.2018 às 8h20

Qd a rev. francesa pedia escola universal p todos, via estado, ñ sabia o que fazia. Estava na verdade arruinando o que pedia, pois a presença do estado na escola permitiu o devaneio ensinativo, ou seja, ensinando o q ñ se precisa, para todos, e prolongando tal escola ate a vida adulta. Segundo J. Coleman, o nivel d aluno, e sua escola, dependem dos pais. Portanto, tal escola so sera boa qdo o país estiver bem. E o q se assiste la fora nos desenvolvidos. Ñ é a escola q faz o país, é o contrario.