Colo de Mãe

Cristiane Gercina é mãe de Luiza e Laura. Apaixonada pelas filhas e por literatura, é jornalista de economia na Folha

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Cinco motivos pelos quais a reforma do ensino médio precisa ser refeita

Anos preciosos da vida de nossos filhos estão em jogo; por que desperdiçá-los em algo que está dando errado?

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São Paulo

A reforma do ensino médio precisa ser refeita, e com urgência. A decisão do governo federal de interromper o calendário de implantação não é suficiente. Entendo que é o pode ser feito no momento, já que há uma consulta pública em andamento, mas não basta.

É necessário parar com os itinerários formativos, rediscutir o modelo, para, só depois, implantá-lo. E falo isso como mãe de uma adolescente de 16 anos que acompanha de perto o dia a dia da filha no ensino médio, mesmo trabalhando horrores como jornalista.

Estudantes protestam contra o novo ensino médio na avenida Paulista, em São Paulo - Bruno Santos - 15.mar.23/Folhapress

Como já escrevi nesta coluna, a reforma prejudica não só os alunos, mas afeta seus familiares. Com mais de 1.500 disciplinas disponíveis nos itinerários não há sanidade mental que aguente. Nem de filhos nem de mães.

A principal regra da reforma não foi implantada nas escolas, que é a de elevar a carga horária no ensino médio. Acredito que todos nós já tomamos decisões e vivemos situações que pareciam ser as melhores e, por fim, ao perceber que não era, voltamos atrás. Por que isso não pode acontecer com a reforma? Por que insistir no erro, desperdiçando anos preciosos da vida de nossos filhos?

Dar um passo atrás pode ser o caminho para dar dez passos à frente em breve. Por isso, hoje, listo cinco motivos pelos quais acredito que a reforma, do jeito que está, não dá para ficar (sinto muito secretários de educação e artistas de televisão que pensam o contrário).

1 - Representa um retrocesso em algumas regiões e classes sociais

Em vez de ampliar o número de aulas, fazendo com que mais conteúdos básicos sejam ensinados a todos os alunos, a reforma diminuiu a horas de ensino de disciplinas importantes para que fosse feita a inclusão dos itinerários formativos, que vão de RPG a como virar um milionário.

Dessa forma, alunos de regiões mais carentes e de classes sociais menos abastadas ficam cada vez mais para trás, no comparativo com os mais ricos, porque, além das dificuldades já existentes para estudar o conteúdo básico, como falta de professores, estrutura e preparo educacional, vão ter corte de mais aulas.

2 - Insistir no erro vai transformar a reforma em um erro maior

Se algo não deu certo, insistir no que está errado é ainda mais traumático, desperdiça mais recursos e mais esforços. Se estados, municípios e escolas já gastaram muito dinheiro nessa implantação que não foi bem-feita, vão gastar ainda mais para tentar consertar, lá na frente, um erro que poderia ter sido entendido e resolvido antes.

3 - É preciso dar as mesmas oportunidades para todos

Há duas grandes falhas na reforma: não dar condições às escolas públicas nem cobrar das particulares a ampliação da carga horária e não predeterminar ao menos alguns dos itinerários formativos, padronizando o oferecimento das disciplinas extras.

Sem isso, as oportunidades ficam mais desiguais. Enquanto um aluno de escola particular de elite poderá ter a carga ampliada, porque os pais podem pagar mais pelo ensino, nas públicas e particulares de baixa renda, não há essa opção.

Enquanto um aluno tem aulas de programação e logística, os outros aprendem sobre como montar a própria empresa com quem nunca montou uma empresa. Sem a mesma base de formação, não teremos profissionais que atendam ao mercado de trabalho no futuro.

4 - O debate precisa ser mais amplo

Assim como estou aqui, colocando minhas observações, como alunos vão às ruas pedir mudanças, como artistas dão sua opinião para milhares de seguidores e como secretários, professores, associações e outros vão à Brasília, fazer lobbie contra ou a favor do modelo, todos precisam participar.

O PT tem o modelo do orçamento participativo, que funcionou em diversos municípios. Pode ser levado para a escolas no debate do que é melhor. Famílias, especialistas em educação, gestores, políticos, todos podem opinar, mas especialmente os alunos devem ser ouvidos, e isso só ocorrerá se a comunidade escolar for realmente envolvida nas discussões.

5 - É o futuro de todo um país que está em jogo

Não são só os anos preciosos da vida de nossos filhos que serão desperdiçados. Se não acertamos a rota, o futuro do país estará ainda mais comprometido. Já não somos uma nação que se destaca em rankings internacionais de educação, quadro piorado pela pandemia de coronavírus. Se errarmos ainda mais, a catástrofe será maior.

Sei que vão apontar que o antigo ensino médio era um fator de evasão escolar. Mas, se oferecermos algo pior aos jovens, só vamos ampliar a evasão em vez de acabar com ela.

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