Educação no Ceará

Por Isaac Macêdo e Samuel Pinusa, g1 CE


Cientistas se reúnem contra cortes de verbas no ensino superior, em Fortaleza. — Foto: Isaac Macêdo/TV Verdes Mares

Pesquisadores, cientistas, estudantes e professores se reuniram, nesta quinta-feira (8), na Universidade Federal do Ceará (UFC) para discutir sobre os recentes bloqueios orçamentários na educação superior — que afetaram principalmente a pós-graduação. Os bolsistas afetados alegam que o repasse mensal é a única renda que possuem, e a ausência deste afeta o desempenho acadêmico e bem-estar psicológico.

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC), divulgou nota oficial na noite desta terça-feira (6) afirmando que, após os bloqueios orçamentários na pasta, não terá dinheiro para pagar as mais de 200 mil bolsas destinadas a alunos de mestrado, doutorado e pós-doutorado. Os depósitos deveriam ser feitos até esta quarta-feira (7).

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Suewellyn Cassimiro, estudante do mestrado em comunicação da UFC, destacou a necessidade do repasse, visto que a atividade de pesquisa que ela exerce é em tempo integral. "A gente assina um contrato, com a Capes, de dedicação exclusiva, logo, eu não posso ter nenhum vínculo empregatício fora do programa", explicou a pesquisadora.

“É uma bolsa baixa; que, na verdade, é o nosso salário. Pesquisa é trabalho. A gente está há quase dez anos sem reajuste, com uma bolsa defasada, abaixo da inflação. Não receber o pagamento torna inviável viver, pesquisar. Eu tenho contas e aluguel para pagar”, destacou a estudante.

Suewellyn Cassimiro, estudante do mestrado em comunicação da UFC, em Fortaleza. — Foto: Isaac Macêdo/TV Verdes Mares

Nesta quinta, a Capes informou que conseguiu o desbloqueio de R$ 50 milhões do orçamento, que serão usados para o pagamento de bolsas de formação de professores. O valor, porém, é insuficiente para cobrir as bolsas de pós-graduação.

“[O corte] tem me afetado diretamente, emocional e fisicamente. A exigência é muito grande, dentro da pesquisa, de cumprimento de prazos, de produção e publicação acadêmica”, complementou Suewellyn.

Abalo emocional e financeiro

Sede da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) em Brasília — Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

“Não consigo continuar a pesquisa porque meu psicológico está abaldo. Tenho vontade de chorar o tempo inteiro. Fico pensando como vou pagar minhas contas, minha comida, meu deslocamento. E, ao mesmo tempo, eu tenho prazos a cumprir. Preciso qualificar minha pesquisa daqui a pouco”, lamentou Suewellyn.

Os cortes ocorrem após um decreto do governo federal, editado no fim do mês passado, que "zerou" a verba do MEC disponível para gastos considerados "não obrigatórios", como:

  • bolsas estudantis;
  • salários de funcionários terceirizados (como os das equipes de limpeza e segurança);
  • e pagamento de contas de luz e de água.

Segundo a Capes, os recursos liberados nesta quinta são uma parte dos R$ 200 milhões solicitados ao MEC e serão destinados às bolsas de menor valor. O montante cobrirá as quase 100 mil bolsas vinculadas aos Programas Pibid, Residência Pedagógica, Parfor, Proeb e UAB — o que não inclui Suewellyn; e Lidia Barroso, doutoranda em Letras na UFC.

Para ambas, a bolsa de pesquisa é a garantia do sustento não apenas da atividade acadêmica, mas de necessidades básicas, como alimentação, moradia, mobilidade, etc. Na casa de Lídia, inclusive, a bolsa é a maior renda.

“Tem sido muita tensão, porque é um recurso que a gente depende para pagar as despesas mensais, de mercantil, de moradia, de transporte. Então, afeta diretamente nas principais despesas do cotidiano”, disse a pesquisadora.

Lidia declarou ainda que, apesar dos cortes, os estudantes, pesquisadores e cientistas não podem parar as atividades, pois estão finalizando o atual semestre letivo. “No meu caso, estou finalizando a última disciplina de estágio em docência”, explicou.

“Eu já estou contando, por exemplo, com ajuda da minha família para o deslocamento de hoje. Já tive uma tia que teve de colocar crédito na minha carteirinha estudantil, tanto da macrorregião quanto de Fortaleza, para que eu pudesse chegar à universidade”, explicou Lidia.

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Ela disse também que, com o bloqueio das verbas, o impacto pode ser sentidos para além da universidade. “O recurso da bolsa é importante porque não precisa só assistir aula, fazer disciplina; a gente precisa realmente fazer pesquisa. Tudo que é produzido na universidade volta para a sociedade. Se não é produzido nada aqui, então a sociedade também vai ser prejudicada”, avaliou.

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