Ciências e pesquisa ganham força nos currículos das escolas

Estudantes pesquisam solução para os casos de contaminação por óleo em rios, usando somente fibras de coco e de abacaxi

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Por Ocimara Balmant e Vanessa Fajardo
Atualização:

Inspiradas pelo Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que prevê a conservação e o uso sustentável dos oceanos, as alunas Beatriz de Freitas Cardoso, Maria Laura da Silva Teixeira e Camila Mecchi Morgado, do Colégio Mackenzie, pesquisam uma solução para os casos de contaminação por óleo em rios com fibras de coco e abacaxi. Depois de testes de laboratório, as estudantes e pesquisadoras identificaram que esses itens têm grande propriedade de absorção. Além disso, poderiam reutilizar essas fibras, já que a maioria das pessoas não as consome e acaba por dispensá-las.

“Pesquisamos folhas de bananeira e manga, mas acabamos utilizando abacaxi e coco porque são frutas muito abundantes na Região Nordeste do País, onde ocorre a maioria dos vazamentos nos oceanos e onde também as comunidades ribeirinhas acabam sendo muito negligenciadas”, conta Beatriz de Freitas Cardoso, de 17 anos, aluna do 3º ano do ensino médio.

Escolas como Mackenzie e o Colégio Pentágono estimulam os estudantes a aplicarem os conhecimentos de ciências em experimentos práticos. Foto: Colégio Pentágono/Divulgação

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Ela lembra que, durante o teste, a equipe mergulhou as fibras em amostras de óleo, de água, e de óleo e água e produziu estatísticas de absorção em cada uma das substâncias. “Agora a gente está no processo de decidir como ela seria aplicada em um ambiente real e como podemos levar esta experiência a outro patamar.”

O projeto de Beatriz e das colegas foi um dos premiados na 21ª Febrace (Feira Brasileira de Ciências e Engenharia), que estimula a cultura científica entre os estudantes, reunindo os melhores trabalhos em uma feira no câmpus da Universidade de São Paulo (USP), em São Paulo. A pesquisa e consequentemente a premiação animaram Beatriz. Ela já tinha uma paixão por ciências, mas agora ampliou as possibilidades. “Esse projeto me deu uma paixão por experimentos, porque a gente passou muito tempo no laboratório e eu adorei fazer isso. Estou pensando em estudar Biologia ou Física. Com certeza vou seguir uma carreira científica.”

Steam

O apoio para o desenvolvimento do trabalho de Beatriz veio da disciplina de Steam (sigla em inglês que reúne Ciências, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática) oferecida pelo Colégio Mackenzie. Os alunos do ensino médio têm a opção de escolher por essa trilha dentro da carga horária optativa dos itinerários formativos. “A trilha do Steam favorece que esses alunos sejam inseridos no universo da ciência de forma mais engajada. Aqui, no colégio, a gente mostra que para o desenvolvimento é necessário investimento na ciência. Quais conteúdos vão favorecer projetos que permitam a melhorar a vida do outro? A ciência entra nesse sentido de produção de conhecimento”, explica o professor de Química Alexandre Marquioreto, que orientou o trabalho premiado das fibras de coco e abacaxi.

O docente reforça, ainda, a desigualdade de gênero dentro do universo científico, e que o fato de ser mulher não pode servir de desestímulo para ingressar na pesquisa. Dados mundiais apresentados pela Unesco, em 2020, apontaram que apenas 30% dos cientistas são mulheres. “Beatriz, Maria Laura e Camila mostraram o quanto elas podem fazer a diferença no desenvolvimento de trabalhos, independentemente da área para qual cada uma delas for.”

Quais conteúdos vão favorecer projetos que permitam a melhorar a vida do outro? A ciência entra nesse sentido de produção de conhecimento

Alexandre Marquioreto, professor de química do Mackenzie

Para todos

Gestora da área de Ciências da Natureza do Colégio Pentágono, Andreza Cristina S. Silva acredita que a pandemia aproximou a ciência da comunidade em geral, por causa da necessidade de informação e combate às notícias falsas. “A partir disso, a contextualização de um conceito teórico, presente nos planejamentos de ensino dessas áreas, passou a ganhar mais espaço.”

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No Colégio Pentágono, os alunos estudam ciências em todos os anos, desde a educação infantil até o ensino médio. Foto: Colégio Pentágono/Divulgação

No Colégio Pentágono, os alunos estudam ciências em todos os anos, desde a educação infantil até o ensino médio. “Nas aulas, a criança é estimulada a perceber o mundo de uma forma investigativa. Os planejamentos de ensino são elaborados pelas professoras, com o acompanhamento de um especialista na área, o que facilita e suaviza a integração do currículo no decorrer dos anos e nos demais segmentos.”

A partir do 9º ano, os alunos têm de optar por duas entre três eletivas: Farmacologia, Alimentos e Astronomia. Dentro do ensino médio, com a flexibilização permitida pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) há opções como Química Forense, que apresenta os principais estudos realizados pela área da perícia criminal e a disciplina de “Vírus? Bactérias? Alergias? A compreensão do sistema imunológico e as questões de saúde pública”, que tem como foco a discussão e o estudo do sistema imune. “É uma disciplina que consegue fazer uma aproximação da universidade com a escola. Essa característica é de suma importância no ambiente escolar, uma vez que a velocidade de transmissão de informação via redes sociais dá palco para um crescente número de fake news. Formar os estudantes desde cedo sobre como analisar criticamente e buscar informações sobre os diferentes temas de saúde pública é hoje uma necessidade na preparação do cidadão”, afirma Andreza.

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