Quando a pandemia chegou e fez com que o mundo mudasse a forma de agir, impactos diversos foram sentidos em todos os setores. Na educação os dados começam a dar conta dos primeiros reflexos do distanciamento social que, repentinamente, tirou das salas de aula de todo o mundo crianças e adolescentes e reconfigurou o modo de ensinar e aprender.
Os dados levantados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento dão uma pista do quanto a questão é séria e deve repercutir na sociedade por anos. De acordo com o relatório Os custos educativos da crise sanitária na América Latina e no Caribe, realizado pela instituição, apenas no primeiro ano da pandemia deixaram de frequentar a escola mais de 172 mil alunos brasileiros entre seis e 17 anos.
Só no primeiro ano da pandemia do coronavírus, mais de 172 mil alunos, entre seis e 17 anos, abandonaram ou deixaram de frequentar a escola no Brasil. Um relatório do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), concluído em novembro de 2020, monitorou o comportamento dos estudantes latinos e caribenhos diante do fechamento das unidades escolares e da adoção do sistema de ensino a distância. Na realidade brasileira, o número de crianças e adolescentes fora da sala de aula subiu em 12% nesse período.
Em Santa Catarina as escolas também sentem a falta dos estudantes. São cerca de dez mil casos de abandono registrados na rede estadual de ensino apenas neste ano. De acordo com a Secretaria Estadual de Educação, cerca de dois mil desses alunos já foram atendidos pela equipe da secretaria estadual e retornaram para as aulas, com os outros oito mil esse contato ainda está ocorrendo.
Entre as principais razões para a evasão escolar estão a dificuldade de acesso à internet para acompanhamento das atividades remotamente, indisponibilidade de um espaço adequado para o estudo fora do ambiente escolar e a necessidade de trabalhar para complementar a renda familiar.
Prestar atenção e reagir aos primeiros sinais de mudança na frequência dos estudantes é o que tem feito a prefeitura de Jaraguá do Sul, no Norte do Estado, caminhar na direção contrária dos indicadores de abandono escolar e celebrar a evasão zero na rede municipal.
Evasão escolar — Foto: Eduardo Montecino/PMJS
Tecnologia e acompanhamento rigoroso
O acompanhamento da frequência nas aulas, que já ocorria antes da pandemia, foi intensificado durante o distanciamento social. Para isso, a secretaria de educação passou a observar diariamente a participação dos estudantes nas atividades.
Por meio de um sistema de gerenciamento escolar que é abastecido com informações de todas as unidades, a equipe pedagógica do município confere em tempo real as informações de assiduidade dos alunos.
“Os diretores também acompanham a frequência diariamente, realizando contato imediato com as famílias em caso de ausências. Contamos ainda com o apoio do Conselho Tutelar com registros no Programa Apoia e Ministério Público”, explica a Secretaria de Educação de Jaraguá do Sul.
Após realizado o contato com os responsáveis pelo estudante, caso a ausência nas aulas persista por cinco dias consecutivos ou sete dias alternados, o Conselho Tutelar é acionado para no prazo de até 15 dias buscar junto à família e escola uma solução.
Para a Secretaria, em casos extremos, em que o aluno continuou faltando, o caso foi comunicado ao Ministério Público pela Secretaria Municipal de Educação para busca ativa e retorno às aulas. Além desses recursos institucionais, a Secretaria enviou às famílias uma correspondência do promotor da Infância e Juventude, reforçando a importância da presença dos alunos na escola. Os diretores das unidades escolares também realizaram buscas ativas nas residências a fim de convocar os alunos faltosos a retornarem às atividades escolares.
Como parte das ações para combater a evasão escolar, a prefeitura disponibilizou carros de som para alertar às famílias sobre o compromisso com a educação das crianças e adolescentes.
A secretaria enfatiza que não são aceitas quaisquer justificativas [para ausência], por terem clareza que a criança tem o direito à educação. “Este é um modo contínuo de agir. Quando no auge da pandemia a criança não fazia as atividades na sala digital, não nos conformávamos enquanto as atividades não estivessem feitas e com o retorno dos professores acerca da qualidade”.
O ensino na cidade estava ocorrendo de modo híbrido desde o início do ano. Em agosto, com a queda na transmissão da Covid-19 e o avanço na vacinação da população, a flexibilização dos decretos permitiu a retomada completa dos estudantes em sala de aula, permanecendo em casa apenas aqueles com comorbidades.