ChatGPT e educação: Robôs não substituem professor em sala de aula, diz cientista da computação

Nina da Hora diz que é preciso encontrar maneiras de inserir tecnologias no ambiente escolar e colocar doentes e alunos no centro do processo

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Por Guilherme Santiago
Atualização:

Tecnologias de inteligência artificial ganham força e se espalham por diversos setores, inclusive nas escolas. No entanto, para a cientista da computação Nina da Hora, robôs e inteligências artificiais não substituem o papel do professor em sala de aula.

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“Temos a tendência de achar que tecnologias resolvem lacunas de relacionamento e comunicação”, afirmou ela nesta segunda-feira, 29, durante o Fórum Reconstrução da Educação, realizado pelo Estadão. “É um algoritmo que, em teoria, conheceria mais do aluno que o próprio professor, que passa a manhã inteira com o aluno”, diz Nina, que também é integrante do Conselho de Segurança do TikTok Brasil.

Para ela, é necessário encontrar maneiras de inserir tecnologias no ambiente escolar e a saída está em colocar professores e alunos como atores centrais nesse processo. “Se tornou urgente debater como vamos equilibrar o uso das tecnologias no ambiente educacional. E, para isso, precisamos olhar para o contexto do trabalho do professor”, diz.

“Eu ouvi aqui (no Fórum Reconstrução da Educação) sobre gamificação e a importância de softwares, mas me preocupa que essa importância seja colocada acima do conhecimento que a equipe escolar tem com relação a determinado aluno por conviver com ele, por tocar nele e por olhar nos olhos dele”, explica.

Ela conta que, em conversas com neurocientistas, teve oportunidade de entender mais sobre a relação entre educação e tecnologia de inteligência artificial, por exemplo. “O primeiro impacto negativo dessa transição é que o aluno não consegue entender qual o seu limite na hora do foco e do estudo”, revela. “No digital, você pode passar mais de cinco horas lendo e no dia seguinte não lembrar de nada do que você leu porque não estava entendendo os limites e as pausas que deveriam ser feitas neste período”, completa.

A situação é diferente quando o estudo acontece fora das telas por meio dos livros. “Quando você está folheando o livro, você está fazendo um exercício, você movimenta outras partes do corpo além do cérebro. Automaticamente você vai sentir o cansaço e vai fazer uma pausa”, diz.

Outro ponto levantado pelos neurocientistas é que o cérebro humano não trabalha com a ideia de exaustão. Isso significa que longos períodos de trabalho e estudo não significam crescimento profissional. Pelo contrário. “Nosso cérebro trabalha com pausas. Então são nos momentos de pausa, como o café, que nosso cérebro começa a assimilar o que foi aprendido até então.”

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Entretanto, os computadores, sim, trabalham por exaustão. “Quanto mais dados, mais informações eu compartilhar com essas máquinas, melhores elas vão ficar”, diz. “E nós não somos essas máquinas. Alunos, gestores e professores precisam das pausas para dar conta da produtividade imposta na educação hoje.”

Programação

Reconstrução da Educação é uma realização do Estadão, em parceria com a Fundação Itaú, Fundação Lemann, Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, Fundação Vivo Telefônica, Instituto Natura e Instituto Península. E tem o apoio do Consed, da Undime e do Todos Pela Educação.

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