Como se não houvesse questões mais graves e urgentes num país cujas escolas estão entre aquelas há mais tempo fechadas no mundo por causa da pandemia, o Ministério da Educação segue priorizando sua delirante cruzada ideológica.
A mais recente investida mira o Exame Nacional do Ensino Médio. A prova, que desde 2009 é o principal meio de acesso às universidade federais, acumulou durante sua história não poucos problemas e dificuldades —de falhas ligadas ao gigantismo adquirido a dúvidas sobre sua finalidade pedagógica.
A busca por aprimorar alguns de seus aspectos, assim, é não só legítima como desejável. Não é isso, contudo, o que vem fazendo o atual ocupante do MEC, Milton Ribeiro.
Conforme reportagem da Folha, a pasta está em vias de criar uma estapafúrdia comissão para fazer a revisão ideológica da prova. O dirigismo está longe de constituir novidade no governo Jair Bolsonaro.
Em 2019, o Inep, órgão responsável pelo Enem, criou comitê para filtrar as questões daquele ano.
Pretende-se agora tornar essa instância permanente, com membros remunerados para censurar o conteúdo desse e de outros exames, como o Sistema de Avaliação da Educação Básica.
Do rol de critérios que deverão nortear o processo de revisão constam algumas das obsessões bolsonaristas, como barrar perguntas que atentem contra “valores cívicos, como respeito, patriotismo” e “valores morais e éticos em que se fundamenta a sociedade”, ou ainda que sejam “subjetivas”, conceito tão amplo quanto vago.
Totalmente alheia às necessidades educacionais do país, a iniciativa é combatida por setores do próprio MEC. A área técnica do Inep foi contrária à criação da comissão, argumentando que o exame já conta com um longo processo de elaboração das questões, com ao menos sete etapas de revisão.
Tais tentativas de impor ideologia barata sobre práticas e conhecimentos acumulados vêm acompanhadas, desde de 2019, de uma sucessão de desarranjos na prova.
Atrasos no cronograma de preparação do exame tornaram-se comuns; erros na correção das provas geraram confusão e prejuízo a milhares de estudantes em 2019; no ano passado, o necessário adiamento da prova só ocorreu após um extenso e conturbado processo.
Longe de estarem circunscritas ao Enem, a inépcia administrativa e a confrontação ideológica constituem a própria essência do MEC sob Jair Bolsonaro e explicam por que, passados dois anos e meio, o ministério segue sendo uma máquina inoperante e disfuncional.
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