Brasil Educação

Censo Escolar mostra que escolas públicas não têm equipamentos, nem práticas de educação digital

Dados de 2019 mostram que só 25% dos colégios públicos do país liberam internet para seus alunos
Tem computador, mas sem internet: moradora de Magé, Milene do Nascimento, de 16 anos, ficou dois meses sem estudar Foto: Roberto Moreyra / Agência O Globo
Tem computador, mas sem internet: moradora de Magé, Milene do Nascimento, de 16 anos, ficou dois meses sem estudar Foto: Roberto Moreyra / Agência O Globo

RIO - Com a infraestrutura parada no século XIX, em que dois milhões de alunos estão em colégios sem água potável , muitas escolas também se viram despreparadas para os desafios tecnológicos do século XXI. Com as unidades fechadas pela pandemia da Covid-19, alunos da rede pública precisaram de equipamentos e internet para seguirem as aulas de forma remota.

No entanto, só 7% das escolas públicas contam com tablets e 21% têm computadores portáteis para oferecerem aos seus estudantes, segundo dados do Censo Escolar de 2019, levantados pelo GLOBO.

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Nesse cenário, muitos jovens ficaram para trás. Um deles é Milene do Nascimento, 16 anos, estudante do 2ª ano do ensino médio do Colégio Estadual Magé, na Baixada Fluminense. Dos três meses de aulas remotas, ela ficou de fora dos dois primeiros por falta de conexão com a internet. A solução foram apostilas de papel que, sem a agilidade do mundo digital, levaram 60 dias para chegar até ela.

— Perdi muita coisa. O colégio me mandou duas apostilas, com as matérias, mas tenho tido muitas dúvidas e não posso esclarecê-las com os professores e os outros alunos porque fiquei para trás — conta.

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Helder Gusso, professor de Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), pesquisador sobre tecnologias de ensino, afirma que a falta de políticas públicas para a educação nos trouxe até essa situação de alunos desequipados e professores despreparados para a função de ensinar de forma remota.

— A educação no Brasil foi deixada à própria sorte. Estamos completamente desamparados em termos de política. As instituições de ensino não têm condições de lidar com esse contexto emergencial, sem suporte governamental adequado, para viabilizar condições de ensino mínimas aos estudantes — explica Gusso.

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Segundo dados da pesquisa TIC Domicílios 2018, 65% dos docentes na região Norte não receberam formação ou treinamento nessas metodologias; 64% do Centro-Oeste; 61% do Sudeste; 58% do Nordeste e 44% do Sul.

— Os professores precisam de formação para usarem as ferramentas de forma criativa — diz Marcelo Sabatinni, professor da UFPE, pesquisador de tecnologias educacionais.

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O Censo Escolar mostra essa distância da tecnoloiga com a sala de aula. Só 25% das escolas públicas do país liberam internet para seus alunos, 38% usam a rede para algum recurso pedagógico e 33% têm redes sociais — principal forma de comunicação de alunos com escolas na pandemia.

— Considerando o descontrole da pandemia no Brasil e sua decorrente permanência ainda por um futuro incerto enquanto não houver vacina, a tendência é que o ensino remoto seja a única forma viável de manter as condições de ensino por um período longo, ao menos até o final de 2020 — diz Gusso.