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Por Jornal Nacional


Censo Escolar: pandemia teve negativo impacto muito forte na educação básica

Censo Escolar: pandemia teve negativo impacto muito forte na educação básica

Dados do Censo Escolar confirmam o que muitos especialistas já vinham alertando: a pandemia teve impacto muito forte na educação básica no Brasil.

Os estudantes do ensino médio foram os mais afetados. Segundo o Censo, a taxa de abandono mais que dobrou em 2021 em comparação com 2020.

No primeiro ano da pandemia, 2,3% dos alunos matriculados no ensino médio deixaram as escolas antes de concluir o ano letivo. A taxa no ano passado subiu para 5%.

As regiões mais pobres do país apresentaram números ainda mais preocupantes. Os alunos da região Norte foram os mais impactados. A taxa de abandono ultrapassou 10% - o dobro da média nacional.

Na região Nordeste a taxa também ficou acima da média do país. A taxa da região Sul foi superior a 5%. Já nas escolas do Centro-Oeste e do Sudeste, o índice de abandono foi menor.

O estado com pior resultado foi o Pará. Seguido do Rio Grande Norte, Bahia, Rio Grande do Sul e Alagoas.

O número de estudantes do ensino médio que passaram de ano também caiu. De pouco mais de 90% em 2021, para 95% em 2020, mesmo com a adoção do chamado “contínuo curricular”, que juntou os anos letivos de 2020 de 2021 para evitar o aumento da reprovação.

O Ministério da Educação também apresentou o resultado de um teste específico para avaliar o impacto da pandemia no aprendizado de matemática e português nos estudantes de educação básica das redes pública e particular. As conclusões só reforçam o quadro preocupante da educação no país.

Os mais de 3,2 milhões de alunos de ensino médio que fizeram o teste acertaram apenas 27% das questões de matemática sobre habilidades básicas, como cálculos simples com números decimais, e metade das questões básicas de língua portuguesa, como as que tratam de interpretação.

A pesquisadora Ariana Brito alerta para as consequências desse quadro na vida profissional dos adolescentes, sobretudo os de família mais pobre, que são obrigados a trabalhar mais cedo.

“Esse aluno vai entrar no mercado de trabalho com uma defasagem de aprendizado muito grande. Se a gente associar isso com questões socioeconômicas, ou seja, de alunos de redes públicas em situações de vulnerabilidade, o efeito disso é um conjunto de jovens que vai entrar nas ocupações informais”, analisa a pesquisadora Ariana Britto, da FGV.

No ensino fundamental, a taxa de abandono registrada no Censo escolar foi menor. Contra os 5% do ensino médio, subiu de 1% em 2020 para 1,2% em 2021.

Mas os resultados da avaliação do impacto da pandemia em matemática e língua portuguesa no ensino fundamental foram muito ruins: 71% dos estudantes que chegaram ao terceiro ano não desenvolveram conhecimentos para fazer contas básicas de matemática; metade dos alunos chegou ao quinto ano com essa deficiência; 54% não tinham habilidades básicas de leitura, como reconhecer personagens de uma história.

A presidente do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária avalia que, mesmo com alerta dos especialistas, faltaram ações do Ministério da Educação.

“Estudiosos, pesquisadores e educadores, professores já vinham fazendo alertas nesse sentido. Efetivamente, medidas poderiam ter sido tomadas já no começo desse ano, até mesmo no final do ano passado, se não antes para que esse quadro se não conseguisse ser totalmente enfrentado, não fosse tão grande quanto é. É preciso políticas públicas, políticas públicas que deem insumos técnicos e financeiros. É preciso priorizar a educação. E que a educação seja efetivamente uma prioridade”, afirma Anna Helena Altenfelder, presidente do conselho de administração do Cenpec.

O Ministério da Educação não quis se manifestar.

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