Por Elida Oliveira, G1


Censo Escolar de 2020 aponta redução de quase 650 mil matrículas. — Foto: Thiago Gadelha

As escolas públicas do Brasil perderam mais de 260 mil matrículas entre 2019 e 2020, de acordo com os dados finais do Censo Escolar da Educação Básica 2020, divulgados nesta quinta-feira (31) no "Diário Oficial da União" pelo Ministério da Educação.

(ATUALIZAÇÃO: Inicialmente, esta reportagem informava que o número de matrículas em 2020 havia sido de 35.961.237. Na verdade, foi de 36.345.607. Com isso, a queda em relação a 2019 foi de 260 mil matrículas, e não de 650 mil. A reportagem foi atualizada às 13h24 de 21 de dezembro de 2021.)

Os dados refletem a situação anterior à pandemia, e têm 11 de março como data de referência.

  • Em 2020 houve 36.345.607 matrículas na educação básica pública, que vai da creche ao ensino médio, incluindo a educação de jovens e adultos.
  • Em 2019, o Censo Escolar apontou 36.611.223 matrículas. A diferença é de 265.616 (- 0,73%).

As principais quedas e aumentos percentuais na educação básica pública, de acordo com o Censo Escolar 2020, são:

  • queda de 30,4% nas matrículas do ensino fundamental integral dos anos finais (6º ao 9º ano)
  • queda de 21,22% em matrículas no ensino fundamental integral dos anos iniciais (1º ao 5º ano)
  • aumento de 21,52% nas matrículas no ensino médio integral
  • queda de 10,15% nas matrículas da educação de jovens e adultos (EJA) do ensino fundamental

Os anos finais do ensino fundamental e o ensino médio são considerados as etapas mais problemáticas nas avaliações de ensino e aprendizagem. Em 2019, pela quarta vez consecutiva, o Brasil não atingiu o mínimo proposto para este nível de ensino, segundo dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).

Uma das estratégias para combater o déficit de aprendizagem é expandir o ensino para o período integral, uma das metas do Plano Nacional de Educação (PNE). A ideia é ter 50% das escolas públicas oferecendo aulas em tempo integral até 2024, para atender 25% dos estudantes da educação básica. Na análise da Campanha Nacional pela Educação, esta meta "apresenta uma das situações mais graves em relação ao seu cumprimento", devido à queda dos índices.

Retenção

Para Claudia Costin, diretora Geral do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV) do Rio de Janeiro, os números em geral podem refletir uma queda na retenção de alunos e não necessariamente menos alunos nas escolas.

"Durante muito tempo, a cultura da repetência foi grande. Os estudantes ficavam retidos e tinha um número maior de alunos no fundamental (anos finais) e ensino médio. Essa tendência vêm diminuindo nos últimos anos. Parte do problema pode ter a ver com isso, não necessariamente significa menos alunos na escola", afirma.

Na análise pelo recorte do tempo integral, Costin afirma que a queda de matrículas pode estar relacionada a propostas inadequadas de ensino, quando são oferecidas apenas oficinas complementares em vez de uma grade horária adequada.

Fundeb

Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), autarquia vinculada ao MEC e responsável pela divulgação do Censo, os números servirão como base para destinar recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) às redes públicas.

Com um menor número de matrículas, o repasse também terá queda. As redes públicas de ensino enfrentarão o desafio de organizar o retorno às aulas presenciais em 2021 com menos recursos em caixa, ao mesmo tempo em que precisarão readequar as estruturas físicas e reorganizar o ensino para a modalidade híbrida (com parte das aulas on-line e parte presencial).

Em novembro, o MEC alterou os parâmetros para a distribuição de recursos do Fundeb, reduzindo o investimento anual por aluno.

O valor foi de R$ 3,643,16 para R$ 3.349,56 para o ano de 2020, uma redução de 8%. Se divididos por 12 meses, o investimento mensal por aluno equivale a R$ 279.

Segundo o MEC, a alteração se baseia no desempenho das receitas do governo, já que o Fundeb é composto por contribuições dos estados, Distrito Federal e municípios, e por uma complementação da União sobre esses valores.

Em janeiro de 2021, o Novo Fundeb passará a vigorar, com o aumento do percentual de contribuição da União, que vai de 10% para 12%. Em 2023, o percentual deve chegar a 23%.

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