Caro futuro educador do meu filho,

 

Confesso que tenho evitado você. Protelo ao máximo o momento em que ele irá deixar a segurança de casa para ir à escola conhecer tantas outras pessoas que ainda nem eu sei quem são e também dezenas de crianças, cujos pais provavelmente já tiveram o mesmo sentimento meu.

 

Não que a escola não seja segura. Mas esse receio é só um cuidado, um sentimento de quem está vendo o filho crescer e começando a abrir as asinhas. Já sabe como é mãe, né? Em um determinado momento ele está ali, ao alcance de toda a proteção que podemos oferecer e é apenas uma criança, é apenas filho. De repente ele também se torna aluno, amiguinho, atleta. Um alguém que é educado, ensinado e sim, amado também por outros adultos. Isso é maravilhoso, mas... assusta um pouco no início.

 

Conosco ele aprende muito. Mas tenho a consciência que falta muito mais. O didático, o conteúdo, as brincadeiras diferentes, a convivência escolar. Faltam pessoas que sabem realmente o que estão fazendo atuando no desenvolvimento dele. Logo, ao chegar a idade certa, não mais poderei postergar isso. E está chegando.

 

O que eu gostaria de dizer é que eu já acreditei que “educação vem de casa, na escola apenas se ensina conteúdos”. Mas então, me lembro dos tempos de escola, nos quais tive tantos professores dignos de admiração e inspiração e que reforçaram os valores os quais já havia absorvido em casa.

 

Então, por mais que o sistema ao qual obedece diga que você só precisa ensinar o beabá e o 2+2, eu sei que haverá algo a mais, algo subjetivo que, até mesmo involuntariamente, será transferido a quem eu mais amo no mundo.

 

O que eu te peço é, principalmente: seja meu amigo, eu preciso confiar em você. Não precisa me contar tudo o que acontece, mas, pelo menos, o que considerar mais importante. Confie em mim também. Me conheça, saiba das minhas crenças e ideologias. Tenha a consciência de que, provavelmente, meu filho e seu aluno, crescerá com esses mesmos princípios e, se os seus forem diferentes, peço que entenda e simplesmente respeite. Respeitarei também os seus.

 

Tenha paciência, às vezes ele vai chorar, vai dar birra, vai se recusar a dividir algo com o coleguinha. Não tem a ver com má criação. É simplesmente por ser uma criança. Dê carinho. Chame a atenção. Coloque de castigo, se preciso. Em casa ele tem limites e esperamos que na escola, também receba. E por último e não menos importante: conte comigo. E por favor, me ajude e me dê abertura para caminhar junto com você nessa jornada de crescimento que eu quero tanto participar. Afinal, eu ainda acredito que é a união da família com a escola que poderá determinar um bom futuro a essas crianças que se tornarão adultos e, por sua vez, serão o mundo do futuro.