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A opinião do GLOBO.

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Há anos trava-se um longo, necessário e produtivo debate sobre a baixa qualidade do ensino público. É natural que temas como métodos pedagógicos, programas didáticos ou formação de professores dominem a discussão. Mas não tem sido dada a devida importância à situação física das 178.300 escolas públicas catalogadas pelo Censo Escolar de 2022.

Se a escola não tiver estrutura mínima para os alunos se preocuparem apenas em aprender, o melhor dos métodos pedagógicos fracassará. É preocupante, por isso, a constatação de que 70% das escolas não são climatizadas. O estresse térmico, atingido quando o calor ultrapassa a capacidade humana de suportá-lo por pelo menos 25 dias no ano, já ocorre em regiões em que vivem 38 milhões de brasileiros. A tendência é o quadro se agravar. Ar-condicionado, outrora um artigo de luxo, se tornou um bem de primeira necessidade para a saúde pública em tempos de aquecimento do planeta.

Das dez maiores cidades que já vivem em estresse térmico — Belém, Goiânia, São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Salvador, Fortaleza, Recife, Manaus e Rio —, apenas nas três últimas mais da metade das salas de aula da rede pública dispõe de sistemas de ar condicionado. As duas maiores redes estaduais, São Paulo e Minas, têm índices de climatização de 10% e 8%, respectivamente (no estado do Rio, 43%).

Apenas 225 cidades contam com ar- condicionado em pelo menos 95% das escolas, e 764 não têm nenhum aparelho. A maior delas é Diadema, na Região Metropolitana de São Paulo, com quase 1.500 salas de aula nas redes municipal e estadual. A reportagem do GLOBO encontrou situações insólitas em escolas brasileiras. Numa, um estudante leva o próprio ventilador para a aula. Noutra, os professores decidiram fazer um “recreio molhado”, com autorização dos pais, para dar banho de mangueira nos alunos.

As escolas federais de ensino básico são consideradas as melhores em infraestrutura escolar, segundo estudo da Unesco. Mas elas não chegam a 1% da rede pública. A pesquisa constatou evolução nas 131.604 escolas avaliadas entre 2013 e 2017. Mas pouco mais da metade tinha instalações satisfatórias, com laboratório de informática, de ciências, banda larga, biblioteca, impressora multifuncional, quadra coberta, iluminação externa regular, salas arejadas, banheiro em bom estado com chuveiro, parque infantil e refeitório, entre outros itens.

Apenas 20% das escolas foram bem avaliadas, por contar também com pelo menos 20 computadores para alunos, auditório, estrutura adequada para atender alunos com deficiência e material em braille. Na outra ponta da pesquisa, 3,3% — de municípios pequenos em regiões pobres — não contavam com banheiro, conexão à rede elétrica (usavam gerador) ou de esgoto. Em 14,1% dos estabelecimentos, a água vem de poço artesiano.

Não basta manter a tendência de melhorias nas escolas públicas. É necessário acelerá-la, sem esquecer os efeitos a cada dia mais intensos das mudanças climáticas.