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Candidatos em SP defendem ensino integral em planos de governo, mas divergem nos detalhes

Expansão da política consta no programa de governo de 7 dos 9 candidatos que pontuaram na última pesquisa Datafolha

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Plínio Lopes
Agência Lupa

A expansão ou a reformulação do programa de ensino médio integral nas escolas estaduais de São Paulo é um compromisso da maioria dos candidatos ao governo paulista que pontuaram na mais recente pesquisa Datafolha, divulgada na quinta-feira (18).

Carol Vigliar (UP), Elvis Cezar (PDT), Fernando Haddad (PT), Gabriel Colombo (PCB), Rodrigo Garcia (PSDB), Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Vinicius Poit (Novo) prometeram ampliar ou reformular o programa em seus planos de governo. Já Altino Júnior (PSTU) e Edson Dorta (PCO) não citaram propostas específicas.

O tema foi abordado no primeiro debate na TV, realizado pela Band, e durante as sabatinas da Folha e do UOL.

Pernas dos alunos enfileirados com professora ao fundo
Escola Estadual Orlando Geríbola, em Osasco (SP), que se tornou integral em 2022 - Karime Xavier - 31.mar.22/Folhapress

Haddad, que lidera com 38%, segundo o Datafolha, cita em seu plano de governo que vai incentivar o ensino integral "corrigindo as distorções na implementação já feita", mas não exemplifica o que será ajustado.

Ele diz ainda que garantirá que o ensino integral não expulse os alunos das salas de aula porque precisam trabalhar ou não queiram ficar mais tempo nas escolas.

Tarcísio, com 16% das intenções de voto, diz que vai ampliar a educação integral seguindo os princípios originais do programa, além de incentivar o "protagonismo juvenil, empreendedorismo, discussão de projeto de vida, com disciplinas eletivas interdisciplinares e abordagem por projetos".

Ele ainda pretende "trabalhar a educação socioemocional cívica". A disciplina de educação moral e cívica se tornou obrigatória nas escolas brasileiras durante a ditadura militar e foi extinta em 1993.

Rodrigo, candidato à reeleição e que teve 11% das intenções de voto na mais recente pesquisa Datafolha, defende o aumento no número de escolas que oferecem o ensino integral feito durante a gestão dele e de João Doria (PSDB). Também promete garantir o ensino integral em todas as escolas de ensino médio.

Poit, que soma 1% das intenções, tem como meta expandir a iniciativa para 4.500 escolas e instituir cursos de educação financeira, empreendedorismo e programação.

Colombo e Vigliar, cada um com 2% das intenções de voto, são os únicos que propõem a revogação do atual programa e a criação de um novo. Para Colombo, é necessário fazer a "reconstrução popular" do currículo, além de contratar e aumentar o salário dos professores.

Vigliar defende a abertura de salas de aula para ensino integral, noturno e Educação de Jovens e Adultos (EJA) na mesma unidade de ensino. Ela é a única entre candidatos que traz um anexo em seu plano de governo com um plano de ação estruturado para as escolas integrais, com reformas estruturais e gestão de professores e de conteúdo.

Expansão rápida

Apesar de ter experiências com ensino em tempo integral desde 2006, o estado de São Paulo instituiu o Programa de Ensino Integral (PEI) só em 2012, inicialmente com 16 escolas de ensino médio —hoje, são mais de 2.000.

O programa visa reformular o currículo escolar para os alunos acessarem disciplinas eletivas, orientações de estudos, mentorias individuais e experiências práticas, além de aumentar a carga horária de matérias básicas, como português e matemática. Ainda prevê valorizar professores e melhorar a infraestrutura das escolas.

Para isso, é preciso ampliar também a quantidade de horas dentro da escola. "Não é apenas mais tempo. É um modelo pedagógico melhor que precisa de mais tempo para ser viabilizado. O objetivo é desenvolver o aluno na sua integralidade", explica Gabriel Corrêa, líder de políticas educacionais da organização Todos Pela Educação.

A Folha já mostrou que a rápida expansão do ensino de tempo integral fez crescer a demanda por vagas no modelo regular e as escolas não tiveram tempo para se preparar.

"Para os alunos permanecerem na escola em período integral, é preciso ter um refeitório. Mas muitas escolas não têm. Então, os alunos precisam almoçar nos pátios. Também temos inúmeras escolas sem laboratórios, bibliotecas, além da falta de professores", conta Roberto Guido, vice-presidente em exercício do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp).

A falta de diversidade curricular nas escolas também é um impeditivo. "Ele valoriza português e matemática, mas desprestigia outras componentes curriculares'', observa Guido.

Para ele, esse "empobrecimento curricular" faz com que não exista uma educação integral de verdade. "As escolas acabam virando um grande depósito de crianças", critica.

Outro desafio é conciliar os estudos e a realidade socioeconômica dos alunos. Em São Paulo, mais da metade dos alunos do ensino médio afirma não estudar nas escolas de tempo integral por trabalharem ou não terem tempo para trabalhar (34%) e por outros compromissos (17%), mostra uma pesquisa do Datafolha realizada no início de 2022.

"O melhor formato para o ensino é o integral, mas a realidade socioeconômica do Brasil não permite uma mudança brusca. É preciso garantir um auxílio financeiro a alunos que querem estudar nesse formato", explica Corrêa.

Inspiração em Pernambuco

A maior parte dos programas de ensino médio integral do Brasil, incluindo o de São Paulo, são baseados na experiência pioneira de Pernambuco.

Estudos mostraram que o aumento na carga horária, combinado com investimentos em infraestrutura, formação de professores e mudança curricular, fez com que os estudantes melhorassem as notas nas provas de matemática em 50% e de português em 35%, comparados a alunos de escolas regulares.

Outra pesquisa em Pernambuco, do Instituto Sonho Grande, mostra que a probabilidade de ingressar no ensino superior é 46% maior para alunos do modelo integral, além de possivelmente gerar uma renda maior depois de formados.

Pesquisadores ligados ao Insper, USP e Instituto de Estudos para Políticas de Saúde, com apoio do Instituto Natura, também mostraram como a política de ensino médio integral chegou a reduzir as taxas de homicídios entre jovens de 15 a 19 anos em até 50% em alguns municípios pernambucanos.

Para Gabriel Corrêa, do Todos Pela Educação, existem quatro grandes desafios para implementar o ensino integral: infraestrutura adequada; gestão escolar consciente; professores suficientes e qualificados; e acessibilidade para os alunos.

"Existe um risco em se fazer uma expansão desenfreada sem tomar cuidado com esses pontos", explica.

Além disso, os próprios estudantes precisam se adaptar à nova dinâmica escolar. "A expansão que São Paulo se propôs a fazer é muito importante, mas cabe ao próximo governador um olhar atento para essa implementação para que os riscos inerentes não virem problemas para os estudantes", finaliza Corrêa.

Editado por Leandro Becker e Chico Marés

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