Antônio Gois
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Antônio Gois

Um espaço para debater educação

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Antônio Gois

Jornalista de educação desde 1996. Autor dos livros 'O Ponto a Que Chegamos'; 'Quatro Décadas de Gestão Educacional no Brasil' e 'Líderes na Escola'.


Avaliações externas passaram a fazer parte do cenário educacional brasileiro a partir de 1995, quando foram aplicadas as primeiras provas comparáveis em série histórica do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica). Desde então, muitos estados e municípios passaram a ter também seus próprios instrumentos, o país passou a fazer parte de exames internacionais, e o escopo foi sendo ampliado, com dados até por escola. Como sempre no meio educacional, esse processo não foi consensual, e há tanto especialistas favoráveis em maior ou menor medida ao uso desses instrumentos, quanto aqueles que se opõem fortemente.

No chão da sala de aula, a polêmica parece menor. Dados do questionário do Saeb respondidos por 200 mil professores da educação básica e tabulados no site Qedu mostram que apenas 22% dos docentes afirmavam em 2019 que a quantidade dessas avaliações era excessiva. Além disso, 75% concordavam – em maior ou menor grau – com a afirmação de que as avaliações externas têm ajudado a melhorar o processo de ensino e aprendizagem em suas escolas, mesmo percentual daqueles que afirmam que elas têm direcionado o que deve ser ensinado (este último dado pode ser lido de forma positiva ou negativa, a depender do viés de quem o interpreta).

Essa aceitação majoritária dos professores às avaliações externas, porém, não esgota o debate. Até mesmo pela força que esses instrumentos têm no direcionamento do currículo, é preciso investigar constantemente se estamos conseguindo elaborar um diagnóstico que seja útil aos professores e gestores e que oriente o sistema na direção dos resultados desejados. Não é simples. Mas o momento atual é propício ao debate, pois estamos em processo de revisão do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), hoje o indicador mais utilizado na avaliação da qualidade do ensino. O índice trouxe uma evolução ao traduzir numa escala de zero a dez uma nota que compilava tanto os dados de aprendizagem quanto os de aprovação, sinalizando aos atores do sistema que as duas dimensões eram relevantes. Mas tem também suas limitações.

Para contribuir com o aperfeiçoamento do Ideb, um grupo de especialistas reunidos pelo Iede (Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional), entre eles ex-presidentes do Inep, divulgou um documento com sugestões de mudanças. Entre as principais recomendações estão a de que o indicador esteja mais alinhado à Base Nacional Comum Curricular; que considere também os jovens fora da escola (hoje apenas os dados dos que estão matriculados entram no cálculo); que contribua mais para a equidade ao visibilizar melhor desigualdades; e que seja de fácil compreensão, para que a sociedade compreenda com clareza quais os níveis desejados de aprendizagem, de cobertura das matrículas e de trajetória escolar dos estudantes.

Ao valorizarmos sistemas de avaliação externa, corremos sempre o risco de sinalizar aos educadores que apenas aquilo que é medido importa, mesmo sabendo que muitos dos objetivos relevantes do que se espera da escola são de difícil mensuração. Por outro lado, se concordamos que a aprendizagem é também um direito, é válido o esforço de encontrar as melhores formas de subsidiar as escolas com indicadores – que não devem se limitar apenas aos testes - que contribuam para a melhoria da experiência educacional dos estudantes. É ingênuo acreditar que chegaremos a um consenso, mas é preciso avançar no debate. Afinal, como afirma Francisco Soares, ex-presidente do Inep, “um direito social que não é verificado é uma utopia”.

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