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Bullying

Bullying: o que faço quando meu filho é o agressor?

por Ricardo Falzetta

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Recentemente o tema do bullying voltou à tona com a produção da série Os 13 Porquês (no original, 13th Reason Why), da plataforma Netflix, baseada no livro homônimo escrito por Jay Asher.

Apesar das polêmicas que o seriado provocou, é válido ressaltar que a produção retrata, com bastante verossimilhança, diferentes impactos do bullying dentro da escola: depressão, isolamento social, problemas de desempenho, entre outros. Os personagens que agem de forma violenta e sistemática, agredindo os colegas de diferentes maneiras, ganharam bastante destaque na produção, levando a uma mudança de perspectiva em relação ao bullying: e se o seu filho for o agressor?

Antes de mais nada, é preciso lembrar que o bullying não é brincadeira e não deve ser subestimado. Além de estarem atentos se seus filhos estão passando por esse tipo de situação, os pais devem prestar atenção se eles não integram, na verdade, o grupo de agressores.

Esse é um assunto bastante delicado porque, segundo a especialista em conflito escolar, pesquisadora da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e doutora em Psicologia Escolar Luciene Tognetta, alguns comportamentos de intolerância são reproduções de condutas tomadas como naturais pelos pais no ambiente doméstico.

Conversamos com a especialista sobre conflito escolar para investigar quais os caminhos para lidar com a situação de ter filhos agressores. Para ela, antes de mais nada, a escola deve ser enfática na promoção do respeito, independentemente do que as famílias pensam sobre orientação sexual, cor de pele, aparência física ou gostos pessoais.

A primeira coisa que os pais devem fazer, segundo Tognetta, é ajudar o filho a reconhecer o quanto ele está errado. Mas se engana, contudo, quem imagina se tratar de dar uma lição de moral ou fazer um sermão. Diz respeito, sobretudo, a dar à criança ou ao jovem a possibilidade de ver o quanto o outro é parecido com ele em outras coisas que não aquela que ele distinguiu como preconceito. Esse pai precisa ir à escola para acompanhar todo o processo e seu filho precisa pedir desculpas ao aluno ofendido/agredido.

Porém, a desconstrução de um preconceito é um processo longo e essas etapas não têm de acontecer imediatamente. Isso porque muitos fatores podem estar à espreita de uma prática de violência. Por isso, o envolvimento da família e dos professores é fundamental, o que aponta para uma antiga dificuldade que a Educação brasileira enfrenta: uma formação docente que contemple o preparo do professor para aspectos do desenvolvimento e da inteligência emocional dos alunos adolescentes.

Na análise da pesquisadora, não basta os pais tomarem a iniciativa de ir à escola sem que a escola possa oferecer, em contrapartida, um preparo para liderar a situação. Configurado pela intimidação sistemática entre pares, o bullying exige, esclarece a especialista, um método muito específico para garantir a intimidade dos alunos e ajudá-los a tomar consciência de suas próprias dificuldades. Uma sequência de ações potentes, capazes de gerar autorreflexão, devem ser consideradas nesse processo. Um exemplo é fazer com que os alunos se questionem, perguntando a si mesmos coisas do tipo: “Tenho conseguido perceber o que os meus colegas sentem quando os ofendo?”. As respostas determinarão o quanto ele é capaz de fazer essa autoavaliação ou não.

O Brasil tem, desde 2015, uma Lei Antibullying (Nº 13.185) que busca incentivar uma política de prevenção à prática nas escolas. Embora a lei seja um avanço, ela é bastante vaga quanto às medidas a serem tomadas quando a violência já foi consumada.

A temática também ganhou um reforço com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). O documento, em discussão no Conselho Nacional de Educação (CNE), traz a explicitação de alguns conceitos de inteligência emocional a serem trabalhados na escola. Ao todo são 10 competências que visam estabelecer “um compromisso da Educação Brasileira com a formação humana integral e com a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva”. Entre elas estão a empatia e a cooperação, que preveem o acolhimento e a valorização da diversidade e, portanto, o rechaçamento às práticas de violência e intimidação. O Portal Porvir elencou cada uma delas e sua utilidade em um infográfico (confira aqui).

A BNCC ainda sinaliza que todas as escolas devem garantir a qualificação da participação cidadã, promovendo um ambiente escolar acolhedor das diferenças e abrindo espaço para que a formação docente seja revista à luz desses conceitos. O que é, justamente, a mudança que a Educação brasileira precisa. As escolas necessitam, orienta a especialista Luciane Tognetta, de metodologias para lidar com essas situações tanto para amparar e fortalecer a vítima, quanto para instigar uma nova perspectiva ao agressor. Além disso, há ainda o trabalho a se fazer com as famílias que veem, erroneamente, o bullying como uma “dificuldade normal da escola”/ “uma brincadeira”, a qual “todo mundo deve superar”.

Para ela, não basta a instrumentalização do professor: é preciso que o docente saiba quais ações tomar e por que tomá-las em casos de conflitos escolares que configurem o bullying. À família, cabe compreender que nenhuma ação de desrespeito, ameaça, constrangimento ou preconceito com outros alunos são aceitáveis, pois ferem não apenas o direito à dignidade e a segurança física e psicológica da vítima, como impedem que o direito à Educação se concretize.

* Com a colaboração de Denise Crescêncio e Pricilla Kesley, jornalistas do Todos Pela Educação

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- Leia a entrevista completa da pesquisadora Luciene no site do Todos Pela Educação 

- Conheça também o GEPEM – Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral da Unesp e Unicamp, que tem entre suas investigações o bullying

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