Brasil Educação

Brasil tem quase 25 milhões de jovens de 14 a 29 anos fora da escola

IBGE mostra que principais motivos são trabalho e falta de interesse nos estudos
País não cumpre meta do PNE sobre universalização do ensino para pessoas de 15 a 17 anos Foto: Guilherme Pinto / Agência O Globo
País não cumpre meta do PNE sobre universalização do ensino para pessoas de 15 a 17 anos Foto: Guilherme Pinto / Agência O Globo

RIO - Cerca de 24,8 milhões das pessoas de 14 a 29 anos estão fora da escola no Brasil. O motivo principal para o afastamento das salas de aula foi o trabalho, citado por 41% dos jovens. A segunda causa evidencia um dos principais desafios da educação brasileira: a atratividade. Segundo dados divulgados nesta quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) , 19,7% das pessoas não estão no sistema educacional por falta de interesse. As informações fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) e são referentes ao ano de 2016.

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Motivos para não frequência na escola
Distribuição das pessoas de 14 a 29 anos deidade que não frequentavam escola ou alguma qualificação, nem haviam concluído o ensino superior, por motivo principal da não frequência, segundo o sexo (%)
2,6
24,1
50,5
2,6
8,2
1,9
0,8
6,9
2,3
2,4
14,9
30,5
4,2
7,8
2,3
8,8
26,1
Distribuição das pessoas de 14 a 29 anos de idade que não frequentavam escola ou algumaqualificação, nem haviam concluído o ensino superior, por motivo da não frequência, segundo o nível de instrução (%)
Trabalha, está procurando trabalho
ou conseguiu trabalho que vai
começar em breve
Por ter que cuidar dos afazeres
domésticos ou de criança,
adolescente, idosos ou pessoa
com necessidades especiais
Não tem
interesse
Ensino médio completo ao superior incompleto
12,4
9,0
42,6
Ensino fundamental completo ao médio incompleto
24,3
17,4
43,7
Sem instrução ou fundamental incompleto
31,9
17,2
34,5
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento,
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2016
Motivos para não
frequência na escola
Distribuição das pessoas de 14 a 29 anos deidade que não frequentavam escola ou alguma qualificação, nem haviam concluído o ensino superior, por motivo principal da não frequência, segundo o sexo (%)
2,6
50,5
24,1
2,6
8,2
1,9
0,8
6,9
2,3
2,4
14,9
30,5
4,2
7,8
2,3
8,8
26,1
Distribuição das pessoas de 14 a 29 anos de idade que não frequentavam escola ou algumaqualificação, nem haviam concluído o ensino superior, por motivo da não frequência, segundo o nível de instrução (%)
Trabalha, está procurando trabalho
ou conseguiu trabalho que vai
começar em breve
Por ter que cuidar dos afazeres
domésticos ou de criança,
adolescente, idosos ou pessoa
com necessidades especiais
Não tem
interesse
Ensino médio completo ao superior incompleto
12,4
9,0
42,6
Ensino fundamental completo ao médio incompleto
24,3
17,4
43,7
Sem instrução ou fundamental incompleto
31,9
17,2
34,5
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de
Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios Contínua 2016

Outros motivos foram citados, como a necessidade de cuidar dos afazeres domésticos, mencionada por 12,8% dos entrevistados; e o fato de já terem concluído o nível de estudo que desejavam, apontado por 8%. Uma parcela de 7,8% disse ainda que a falta de dinheiro para continuar os estudos foi um fator determinante. E 2,6% das pessoas ouvidas afirmaram que não havia vaga ou escola perto de onde moravam.

Segundo o IBGE, não é possível comparar o percentual da Pnad Contínua com dados divulgados pela Pnad do ano passado, já que a metodologia das pesquisas são diferentes, o que pode gerar distorções. Esta é a primeira edição da Pnad Contínua para o suplemento de Educação.

CAUSAS DO AFASTAMENTO DA ESCOLA VARIAM DE HOMENS PARA MULHERES

As causas de afastamento da escola também variam de acordo com o gênero. Nesse sentido, estereótipos históricos são retratados. Enquanto apenas 0,8% dos homens dizem não estar estudando por causa da necessidade de cuidar dos afazeres domésticos ou de outras pessoas,  essa taxa sobe para 26%, em relação às mulheres. Essa, aliás, é a segunda maior causa apontada pelas mulheres para não estarem tocando os estudos. A principal causa apontada por 30,5% são fatos relacionados ao trabalho. Em relação aos homens, 50,5% citaram situações relacionadas ao trabalho como motivação.

A taxa de escolarização, ou seja, o índice de quem está frequentando a escola em relação à toda população daquela faixa etária, diminui a partir do grupo de 6 a 14 anos. Enquanto 99,2% das pessoas dessa idade estão estudando, o percentual cai para 87,2% entre a população de 15 a 17 anos e reduz progressivamente até chegar a 4,2%, entre os que tem 25 anos ou mais.

META DO PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO NÃO FOI CUMPRIDA

O percentual registrado pela população de 15 a 17 anos indica que, mais uma vez, uma das metas do Plano Nacional de Educação (PNE) deixou de ser cumprida. O PNE determinava que, no ano passado, o atendimento escolar deveria ter chegado a todas as pessoas dessa faixa etária, o que não aconteceu.

Uma análise mais específica mostra que o cenário é ainda mais complicado para as faixas etárias mais altas quando observados os percentuais de pessoas que estão na etapa correta de ensino para sua idade, a chamada "taxa de frequência escolar líquida". Nesse sentido, enquanto 96,5% da população de 6 a 14 anos está no ensino fundamental, a porcentagem cai para 68% dos jovens de 15 a 17 anos no ensino médio, e 23,8% das pessoas do grupo de 18 a 24 anos no ensino superior.

Embora o ensino médio seja alvo da atenção de grande parte dos políticos e educadores, como um dos principais gargalos da educação brasileira, o problema pode não estar nele. Marina Aguas, analista do IBGE, indica que as respostas podem estar em uma etapa esquecida pelas políticas públicas: o segundo segmento do ensino fundamental.

- Quando analisamos o grupo de 10 a 14 anos que deveria estar no segundo segmento do fundamental, já há um descasamento, onde 84,4% estão idealmente nessa faixa. Assim, os outros 15,6% estão atrasados em etapas anteriores, ou evadiram o sistema de ensino. Em termos de política pública, para evitar a evasão, temos que pensar nisso desde o ensino fundamental. As pessoas vêm caminhando dentro do sistema de ensino, se já há atraso nos anos finais do fundamental, essas pessoas provavelmente vão chegar ao médio atrasadas, a meta vai se tornando cada vez mais difícil - afirma.