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A opinião do GLOBO.

Por Editorial

O Censo Escolar feito no ano passado trouxe uma boa notícia: mais escolas públicas têm adotado o regime de sete a nove horas diárias de estudo no ensino médio, em vez de apenas quatro a cinco horas. Foram feitas 960 mil matrículas em tempo integral, ou 15% do total. As 4.300 escolas que adotaram o sistema já correspondem a 22% da rede pública, e neste ano o regime deverá chegar a 1 milhão de alunos. Mas ainda é pouco. Uma das metas do Plano Nacional de Educação é que 50% das escolas sejam de tempo integral, atendendo a 25% das matrículas. E não apenas no ciclo médio, mas em todo o ensino básico.

O tempo de permanência na escola está vinculado ao rendimento dos alunos. O turno integral é mais caro. Mas, de acordo com o que disse o economista Ricardo Paes e Barros ao jornal Valor Econômico, o que tem faltado não é dinheiro. É encarar a pauta como prioridade. Cabe aos governadores apoiar a ampliação do tempo dos alunos em sala de aula. Não é uma expectativa absurda, já que o regime começou nas secretarias estaduais para depois chegar ao Ministério da Educação. Não basta também só aumentar o turno, a ampliação precisa ser feita prioritariamente nas disciplinas básicas: matemática e português.

Depois das melhorias no ensino fundamental resultantes dos mecanismos de avaliação implementados nas últimas décadas, as preocupações se voltaram para o ciclo médio, em que ainda há alta evasão e baixo aprendizado. O ensino médio em tempo integral reduz a violência, a criminalidade e a incidência de gravidez de adolescentes, de acordo com artigo publicado em 2015 por pesquisadores do Banco Mundial.

Um exemplo de sucesso no Brasil é Pernambuco. Quando o estado decidiu aderir ao tempo integral, estava na 21ª posição do ranking do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Quinze anos depois, chegou ao segundo lugar, abaixo apenas de São Paulo. No último Ideb, de 2019, estava em terceiro, entre as melhores redes de ensino público do país. A nota média dos alunos das escolas de tempo integral foi 30% superior em matemática e 50% em português, na comparação com os estudantes do resto da rede escolar durante os três anos do ensino médio, de acordo com estudo na Economics of Education Review, citado pelo colunista do GLOBO Antônio Gois.

O novo modelo avançou mais no Nordeste e precisa se expandir pelo país. A carga horária reduzida, de quatro a cinco horas, é uma herança de quando faltavam escolas no Brasil, um tempo que já ficou para trás. O turno de menos de sete horas de ensino diário, dizem os pedagogos, é insuficiente para os professores oferecerem reforço nas disciplinas convencionais e trabalharem as habilidades socioemocionais dos alunos. O país está implementando um currículo unificado com uma reforma ambiciosa no ensino médio. É muita mudança para pouco tempo de sala de aula. Sem o turno integral, a qualidade do ensino não melhorá tanto quanto precisa.

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