Educação
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Por Bruno Alfano

Mesmo com dez milhões de desempregados, o Brasil está entre os dez países com mais dificuldades em preencher vagas, de acordo com a pesquisa “Escassez de Talentos” da ManpowerGroup, de 2022. O estudo, que traz um panorama do Brasil e do mundo sobre a falta de profissionais qualificados, aponta que o índice de escassez de talentos no Brasil superou a média global e só cresce desde 2018, atingindo 81% em 2022 — dez pontos percentuais a mais que o relatado por empregadores no ano anterior. Isso significa que oito a cada dez empregadores dizem ter dificuldade para encontrar talentos no Brasil.

— Isso é resultado da baixa escolarização e do baixo letramento digital do brasileiro — afirma Adriana Gomes, gerente nacional de carreiras da ESPM.

Assim, sobram vagas de emprego sem profissionais para preenchê-las. Uma pesquisa da Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom) apontou que o déficit de formação em Tecnologia da Informação e Comunicação é de 106 mil profissionais por ano até 2025. Na projeção da associação, o país vai abrir 159 mil postos de trabalho por ano, enquanto forma 53 mil trabalhadores. O grupo criou um plano para facilitar a formação de profissionais de áreas correlatas, como matemática e engenharia, para que essas pessoas sejam capacitadas com as necessidades do mercado.

— Com esse déficit, o mercado não evolui. Não há gente para trabalhar, as empresas operam num limite aquém do que poderiam. Vendem menos, têm grau de satisfação do cliente menor e também uma equipe menor de vendas. É um problema para as empresas e para o país — analisa Jorge Sukarie, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes).

Neste mês, a Federação das Associações das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação (Federação Assespro) chegou a elaborar um manifesto direcionado aos candidatos à Presidência da República propondo medidas para combater a falta de mão de obra qualificada no setor. Entre os pedidos, estão a criação de uma agência nacional para coordenar os esforços para resolver esse problema, além do fortalecimento da educação para a tecnologia, a inclusão digital, a infraestrutura econômica e social para TI e programas em parceria com o setor privado.

— Resolver esse problema é responsabilidade do governo federal e da iniciativa privada. Temos tecnologia para identificar quais cidades têm déficit de profissionais e fazer um trabalho em parceira com as empresas para a formação de mão de obra nas instituições de ensino — defende Gomes.

Novos rumos

A falta de profissionais é, por outro lado, uma janela de oportunidades para brasileiros que desejam crescer em suas carreiras. Foi o caso de Thalita Neves de Souza, de 26 anos. Baiana de Jaborandi, cidade de oito mil habitantes, ela abandonou o ensino médio antes da formatura. Como tantos jovens no país, precisava trabalhar. Foi para Brasília, depois São Paulo, atuando como garçonete. Até que a pandemia impôs um isolamento social que apertou as contas.

— Foi quando comecei a me movimentar, e minha esposa, que é da área de tecnologia, me incentivou a entrar por esse campo do conhecimento. Mas logo pensei: “Será que sou capaz? Tantos anos sem estudar e vou me meter logo com a coisa da tecnologia?” — conta.

Thalita conheceu a Laboratória, um treinamento intensivo (no jargão do setor, um bootcamp) de programação voltado exclusivamente para mulheres. Foi aprovada na segunda tentativa, em maio de 2021, e estudou por seis meses à distância. Em dezembro do mesmo ano foi contratada pela Raízen para atuar na área de qualidade de software do Shell Box:

— Minha vida mudou da água para o vinho. Eu trabalho hoje com algo que desconhecia há dois anos. Fui aprendendo aos poucos. Pensava muito que não ia dar conta, em desistir, mas recebi muito apoio das outras meninas que faziam o curso comigo. Fui criando mecanismos e mudando a minha cabeça. Agora sei que sou capaz e que, se tentar e não conseguir, peço ajuda sem achar que é o fim do mundo.

No Brasil, algumas startups têm facilitado a formação de jovens com estratégias que facilitam o acesso e a aprendizagem. A Resilia, por exemplo, garante a entrada de novos talentos na área de tecnologia com mensalidades mais acessíveis, que podem ser pagas apenas quando o aluno já estiver empregado, e um treinamento intensivo de seis meses, o que possibilita a entrada quase imediata dos estudantes no mercado de trabalho.

— O que todas as formações têm em comum é o comportamento. Todo bom profissional precisa aprender a aprender, a ter iniciativa, a saber se comunicar, a trabalhar em equipe... Com isso, você ajuda as pessoas a correrem atrás dos hard skills de que precisam, que são a parte técnica — afirma Bruno Cani, fundador da Resilia.

As transformações aceleradas no mercado de trabalho — e as consequências disso na formação de profissionais — estão no centro das preocupações em nações mais industrializadas. A Alemanha, por exemplo, aumenta paulatinamente o número de matrículas em educação profissional, mas viu cair o número de novos contratos em 1,2%, em 2019, o que acendeu um sinal amarelo. No ano seguinte, o país reformou o currículo e aprovou uma lei para pagar um salário mínimo aos estudantes de cursos técnicos para garantir sua permanência. Atualmente, quase 49% dos estudantes da União Europeia fazem cursos profissionais.

— Um trabalho recente da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) mostra que a escassez de mão de obra tem sido generalizada em todos os países, mas particularmente na Austrália, no Canadá e nos Estados Unidos. Em mercados de trabalho apertados, os profissionais estão mais propensos a mudar para melhores oportunidades de emprego. O aumento da escassez de mão de obra pós-Covid também pode refletir parcialmente mudanças estruturais, em particular nas preferências, já que alguns trabalhadores podem não aceitar mais baixos salários e condições ruins — afirma Marieke Vandeweyer, economista especializada em educação profissional da OCDE.

De acordo com Sukarie, esse cenário internacional com déficit afeta diretamente o mercado brasileiro. Empresas estrangeiras conseguem oferecer melhores salários — especialmente num momento de desvalorização do real em relação ao euro e ao dólar — em uma realidade pós-pandemia com o trabalho remoto solidificado.

— Hoje, com trabalho remoto, técnicos brasileiros desenvolvedores de software estão trabalhando no Brasil para startups do Vale do Silício. Elas roubam nossos funcionários e o número disponível de profissionais aqui cai ainda mais — afirma.

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