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A opinião do GLOBO.

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Mais uma vez foram frustrantes os resultados dos alunos brasileiros no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa). Chama a atenção quantos jovens não conseguem fazer o básico. Em matemática, a maioria (73%) não alcançou o patamar mínimo de aprendizagem esperado para a idade. Não sabem resolver questões simples, como comparar a distância entre duas rotas alternativas ou converter preços em moedas diferentes. Em ciências, mais da metade (55%) ficou abaixo do mínimo. Em leitura, 50%. Os números brasileiros permanecem distantes da média da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE): 31% em matemática, 26% em leitura e 24% em ciências.

É verdade que, apesar do fechamento prolongado das escolas durante a pandemia, o desempenho dos alunos brasileiros caiu menos que a média dos demais países em relação à edição de 2018. Mas os resultados continuam medíocres. Revelam a dificuldade extrema que o país tem de enfrentar seu maior desafio para o futuro.

Na lista de 81 países do Pisa, o Brasil ficou entre os 20 piores do mundo em matemática e ciências e entre os 30 piores em leitura. Ocupa o 65º lugar em matemática, o 62º em ciências e o 52º em leitura. As notas do ano passado foram ligeiramente inferiores às de 2018, demonstrando que o país permanece estagnado na parte inferior do ranking.

Os números mostram de forma incontestável que, a despeito de avanços pontuais aqui e ali, diferentes governos, com diferentes políticas educacionais, não têm dado conta do problema. O desempenho dos estudantes nas provas realizadas nas gestões Fernando Henrique Cardoso (2000), Luiz Inácio Lula da Silva (2003, 2006 e 2009), Dilma Rousseff (2015), Michel Temer (2018) e Jair Bolsonaro (2022) não registrou alterações significativas.

Não se pode alegar — como muitos fazem — que faltem recursos à educação. Como proporção do PIB, o gasto brasileiro, incluindo os três níveis de governo, fica em torno de 5,4%, comparável ao da França (5,5%) e superior à média da OCDE (5,1%). O orçamento do MEC é um dos maiores entre todas as pastas. O problema não está aí.

Bons exemplos também não faltam. A partir das boas práticas de Sobral, o Ceará conseguiu desenvolver um ensino de excelência, que se reflete nos resultados no Ideb. O modelo tem a ver menos com volume de recursos e mais com estratégias acertadas: investimento na formação de professores, aumento da carga horária, maior diálogo com os municípios, estímulo às prefeituras que apresentam melhores resultados e, sobretudo, continuidade das políticas públicas por diferentes governos. Foi o êxito cearense que catapultou o ex-governador Camilo Santana ao Ministério da Educação, onde se espera que aplique o modelo em todo o país.

Por maiores que sejam as disparidades entre as diversas regiões brasileiras, a agenda para a educação é conhecida. Mas sua implementação continua a enfrentar resistências de toda sorte, como revela a situação da reforma do ensino médio, aprovada em 2017, mas que ainda patina. Apesar de ao longo das últimas décadas terem sido registrados progressos no ensino, precisamos andar mais rápido. Só assim o Brasil conseguirá entrar num rumo de crescimento e desenvolvimento sustentado.

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