Bolsas de estudo levam esportistas brasileiros aos EUA em busca de uma nova vida; saiba como


Brian Amaro, de 23 anos, e Filipe Costa, de 17, seguiram os trâmites para unir carreira esportiva à acadêmica, um tema estratégico na política americana

Por Eugenio Goussinsky
Atualização:

Na pacata Piedade, envolvida em planaltos e recheada por rios, o menino Brian Machado Amaro chutava a bola com talento e alegria. Quando olhava por entre as montanhas rumo a um horizonte desconhecido, só pensava em futebol. Tinha o desejo único de desbravar o mundo como jogador. Piedade é uma cidade do Estado de São Paulo. “Desde que me conheço, amo futebol, era tudo o que queria fazer, jogava na rua, em escolinhas... Futebol foi sempre o meu primeiro objetivo dentro daquilo que queria ser quando crescesse. Vivia pelo futebol, tudo na minha vida tinha a ver com futebol”, conta Brian, de 23 anos.

Aos 14, ele entrou nas categorias de base do Red Bull Brasil, que depois se tornou Red Bull Bragantino, e ficou até os 20. Jogou como profissional no Audax, do Rio. Até ser indicado por Priscilla Zogbi, mãe de um amigo, para a empresa 2SV, comandada por Ricardo Silveira, que possibilitou sua ida aos EUA.

“Os dois e a minha mãe foram fundamentais nessa mudança. Estudar nunca foi meu primeiro objetivo, sempre foi o futebol, mas, depois dessa oportunidade, pude despertar meu interesse pelo lado do estudo, recebi bolsa de 100%. A estrutura aqui é muito boa, nunca tive igual no Brasil, a fisioterapia, os campos, os ônibus e a sala de aula são excelentes. Estou ansioso para disputar o campeonato universitário e tenho certeza de que vai ser bom. Minha universidade já foi campeã nacional”.

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Brian, que atua como zagueiro, teve de estudar 12 horas de inglês por dia e ser aprovado nos testes em campo para poder cursar fisioterapia na Universidade de Marshall, em Huntington, no Estado de Virgínia Ocidental, EUA. Está no primeiro ano e pretende seguir na carreira de jogador, participando do draft que leva à Major Soccer League, essa onde um tal de Lionel Messi vai jogar.

Brian Machado Amaro (dir.) com os companheiros de equipe na Universidade de Marshall, em Huntington Foto: Arquivo Pessoal / Braian Machado Amaro

Mas, por outro lado, quer ter a possibilidade de atuar como fisioterapeuta também. “Agora, estou conseguindo entender mais e peguei gosto por estudar, tenho prazer em estudar e sei que é algo importante para mim. Acho que os jovens devem seguir o mesmo caminho, que o mesmo esforço que se coloca dentro de campo ou nas quadras possa ser colocado nos estudos também. Uma coisa ajuda a outra e no futuro, iremos colher os frutos dentro e fora de campo”, diz.

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Sua história é o sonho de muitos brasileiros que querem conciliar a prática esportiva com os estudos. Os Estados Unidos dão essa condição também aos estrangeiros, como Brian. O caminho não é fácil, mas a boa notícia é que ele existe e pode ser tomado por pais e mães que querem ver seus filhos encaminhados em suas paixões.

MODELO IDEAL

A situação do estudante Filipe Costa, de 17 anos, é bem diferente. Desde criança, em Goiânia, onde nasceu, ele aprendeu a conciliar o estudo com o tênis, sua paixão. Já em início de carreira como tenista, obteve uma bolsa de 70% para estudar Negócios na Binghamton University School of Management, em Nova York, porque o modelo americano se encaixava no que sempre foi seu estilo de vida. Ficou definido também que ele irá jogar como titular pelo time de tênis da universidade.

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“Aceitei o desafio de ir estudar e praticar tênis, com bolsa, nos EUA porque sempre consegui conciliar os estudos com o esporte, de forma que um não prejudicasse o outro. Além disso, sempre tive o sonho de estudar em uma boa universidade americana, para ter uma excelente formação acadêmica, e continuar jogando o esporte que amo tanto, principalmente quando se trata de um ambiente competitivo”, disse ao Estadão.

Filipe se diz ansioso para a viagem e já está em contagem regressiva. Ele irá se mudar para os Estados Unidos no dia 13 de agosto. O curso começa no dia 21. “Minha preparação para a mudança anda bem agitada, são muitos documentos necessários.Além disso, estou buscando jogar bastante torneios para já começar o ano letivo no melhor ritmo possível. Meus objetivos a partir de agora são basicamente aproveitar o máximo dessa experiência que poucos podem ter, e me manter focado para ter bons resultados tanto na parte acadêmica quanto na parte esportiva.”

Filipe Costa, de 17 anos, obteve uma bolsa de 70% para estudar Negócios na Binghamton University School of Management, em Nova York, e jogar tênis Foto: Arquivo Pessoal / Filipe Costa
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POLÍTICA AMERICANA

“Os estudantes internacionais trazem suas perspectivas e experiências para nossas salas de aula e campus. Isso beneficia todos os nossos alunos”. Esta frase, do Secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, resume a forma como, ao longo dos séculos, os americanos trataram da questão da educação: como um investimento que, quanto mais aberto ao mundo, mais aumenta sua rentabilidade. E o esporte é uma das principais ferramentas neste sentido.

Inserida nas escolas como uma disciplina tão importante quanto matemática e outras, a educação física é vista como uma maneira de o aluno, por meio da prática do esportes, aprender sobre si mesmo, desenvolver seu potencial por meio da competitividade, da convivência, do respeito. A interação com alunos de outros países, com bolsas de estudos para aqueles que tiverem habilidades esportivas, ajuda nesse objetivo e torna esporte e educação estratégicos para a própria evolução do país.

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Brian e Felipe já ingressaram como universitários. Mas, em muitos casos, estudar e praticar um esporte desde o Ensino Médio (High School) é uma forma de facilitar a entrada em uma universidade local, conforme afirma Marcelo Antonelli, técnico de futebol em instituições americanas. Tanto na High School quanto na universidade há a possibilidade de o aluno receber bolsa. Ela pode ser integral ou não.

“Isso depende muito de qual confederação universitária ou em que tipo de escola (pública ou privada) o estudante pretende atuar. Mas os itens básicos para o ingresso e obtenção de bolsa são vídeos sobre a performance e as notas traduzidas para o inglês. Para cada nível escolar, o estudante que chegar terá de ter completado o grau anterior do ensino. Para o universitário da primeira divisão (NCAA) a bolsa não pode ter uma duração maior do que quatro anos”, ressalta Antonelli.

CAMINHOS PARA OS EUA

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Entre 2021 e 2022, o número de brasileiros inscritos em universidades aumentou 6,4% em relação ao ano fiscal anterior, segundo os dados do OpenDoor, pesquisa do Departamento de Estado americano. O número de universitários brasileiros chegou a cerca de 15 mil nos EUA.

“Para realizar essa jornada educacional nos Estados Unidos, os estudantes internacionais devem obter um visto de estudante. Os dois tipos mais comuns são o F-1 e o M-1. O visto F-1 é destinado a estudantes que planejam participar de um programa acadêmico ou de idiomas em uma escola aprovada pelo governo americano. Isso inclui ensino médio, graduação, mestrado, doutorado e programas intensivos de inglês”, afirma Leonardo Freitas, especialista em imigração e CEO da Hayman-Woodward, empresa de consultoria em mobilidade global.

As instituições americanas de ensino, tanto do Ensino Médio (High School) quanto as universidades, têm investido no desenvolvimento esportivo de seus alunos. Fazem parcerias com agências e escolas para trabalharem toda a documentação e analisarem o perfil dos possíveis estudantes. Para os aprovados, ao contrário do Brasil, vestir a camisa de alguma instituição de ensino local, em uma competição esportiva, é o principal meio de se tornar um atleta profissional.

“Existem várias empresas e organizações que ajudam nesse processo, mas as especificidades podem variar. O processo pode ser feito individualmente, embora possa ser mais desafiador sem a ajuda de uma organização experiente”, diz Freitas.

Sobre a documentação, o executivo afirma que o visto M-1 é para estudantes que planejam participar de programas vocacionais ou de treinamento técnico não acadêmico. A escola ou instituição também deve ser aprovada pelo governo americano.

Freitas ressalta que ambos os processos para solicitar os vistos F-1 e M-1 são semelhantes e envolvem a obtenção do formulário I-20 (certificado de elegibilidade para o status de estudante não imigrante), preenchimento do formulário DS-160 (pedidos de vistos temporários), pagamento da taxa de solicitação e agendamento de uma entrevista na embaixada ou consulado americano mais próximo.

ESPORTES ESCOLHIDOS

O prazo limite para se transferir de uma escola da High School para a universidade, com bolsa, é de um ano. Tanto em um quanto em outro, o apoio financeiro será definido durante o processo de admissão. O valor de uma bolsa de estudos nos EUA pode ir de US$ 1 mil até cerca de US$70 mil anuais.

Entre os esportes mais escolhidos pelos brasileiros estão o futebol, o vôlei e o tênis. A transição da High School para a universidade, mantendo uma bolsa, depende basicamente de quatro fatores: talento e competitividade; rankings e resultados; desempenho escolar ou universitário e provas de admissão. Entre as provas de admissão, que variam de acordo com a situação, estão o Duolingo,Toefl, SAT (Teste de Aptidão Escolar) e ACT (inglês, matemática, leitura,ciência e redação).

Anualmente,são mais de 600 mil estudantes que recebem mais de US$ 4 bilhões de dólares em bolsas esportivas pelas diferentes organizações: NCAA (National College Athletics Association ), NAIA (National Association of Intercollegiate Athletics) e NJCAA (National Junior College Association), segundo informa a agência 2SV Sports.

A NCAA é a mais conhecida, com três divisões e mais de mil universidades filiadas, com dezenas de esportes, como beisebol, basquete, esgrima, ginástica, futebol, boxe e cross country. A NAIA é basicamente formada por universidades privadas, de menor porte. Há nessa organização menos exigências em relação a estrangeiros, facilitando o acesso a bolsas. Já na NJCAA, as filiadas são faculdades com cursos de dois anos.

Podem funcionar, neste sentido, também como uma base para adaptação e conhecimento antes de um estudante buscar uma bolsa em outras organizações universitárias.

Praticar esportes nos EUA se tornou viável por conta das bolsas de estudo, esportivas ou acadêmicas, que podem chegar a 100% dos valores. Sem a bolsa, o valor médio das faculdades mais baratas é de US$ 25 mil anuais (R$ 132 mil). Isso significa US$ 2.100 por mês (R$ 11 mil). Esse valor inclui moradia, alimentação, livros e estudos.

Existem faculdades com valores anuais de R$ 200 mil e R$ 300 mil. Para morar fora da faculdade, os valores do aluguel giram em torno de R$ 2 mil, dependendo da cidade.

Outro fator de atração para os brasileiros, esse mais subjetivo, é a meritocracia, termo usado pelos próprios atletas. “Se você está bem, você é premiado. Não interessa quem você é e de onde veio. Algumas coisas me desiludiram no futebol e até pensei em parar. Aqui, nos EUA, parece que o processo é mais justo. A meritocracia é muito presente”, disse o atacante João Pedro Peterlini Souza, de 20 anos, também campeão com a Marshall University, e ouvido pelo Estadão em uma reportagem recente. “Aqui, os técnicos dão oportunidade para quem realmente merece, trabalha e se esforça por isso.”

O QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE ESTUDAR E JOGAR NOS EUA

  • QUAIS OS PRIMEIROS PASSOS PARA TREINAR NOS EUA?
  • Atletas profissionais que querem estudar nos EUA enquanto treinam ou disputam campeonatos em suas modalidades esportivas geralmente já chegam ao país por convite da própria universidade ou de algum patrocinador. A NCAA regulamenta e é muito individualizada, depende de quando ele ou ela se formou, não basta a qualidade técnica. É necessário passar pelo processo de elegibilidade, se inscrever na liga para, se houver encaixe nas várias regras de aprovação, haver a aprovação para jogar no esporte universitário.
  • E OS AMADORES?
  • Os atletas amadores devem pesquisar onde estão as melhores oportunidades de bolsas de estudo para atletas da sua modalidade. O governo americano disponibiliza várias oportunidades para estrangeiros através de programas como o “Jovens Embaixadores” e o “Education USA”. As empresas que realizam esses programas organizam eventos em que são pré-selecionados meninos e meninas. Depois, os treinadores das instituições americanas vêm para o Brasil para realizar a própria avaliação. Vídeos enviados para os treinadores podem eventualmente gerar uma aprovação, mas isso não é frequente.
  • É PRECISO SABER INGLÊS?
  • Se for para fazer uma faculdade (curso de graduação), saber inglês em nível avançado é fundamental até mesmo para passar nos testes de admissão. Já para cursos vocacionais, intercâmbio ou cursos de idioma, o domínio do inglês não é obrigatório.
  • QUE TIPO DE VISTO É CONCEDIDO?
  • A taxa consular é de US$ 185, a taxa sevis (taxa que todo estudante tem de pagar) é de US$ 350. O visto que os estudantes atletas tiram é o F1 através da chegada de um documento chamado I-20, que é enviado pelas universidades após a aceitação do estudante. Normalmente, este processo demora em torno de três e quatro semanas, entre marcar a entrevista, ir ao consulado e receber o passaporte com o visto em casa, informa a 2SV Sports Agenciamento e Intercâmbio.

Na pacata Piedade, envolvida em planaltos e recheada por rios, o menino Brian Machado Amaro chutava a bola com talento e alegria. Quando olhava por entre as montanhas rumo a um horizonte desconhecido, só pensava em futebol. Tinha o desejo único de desbravar o mundo como jogador. Piedade é uma cidade do Estado de São Paulo. “Desde que me conheço, amo futebol, era tudo o que queria fazer, jogava na rua, em escolinhas... Futebol foi sempre o meu primeiro objetivo dentro daquilo que queria ser quando crescesse. Vivia pelo futebol, tudo na minha vida tinha a ver com futebol”, conta Brian, de 23 anos.

Aos 14, ele entrou nas categorias de base do Red Bull Brasil, que depois se tornou Red Bull Bragantino, e ficou até os 20. Jogou como profissional no Audax, do Rio. Até ser indicado por Priscilla Zogbi, mãe de um amigo, para a empresa 2SV, comandada por Ricardo Silveira, que possibilitou sua ida aos EUA.

“Os dois e a minha mãe foram fundamentais nessa mudança. Estudar nunca foi meu primeiro objetivo, sempre foi o futebol, mas, depois dessa oportunidade, pude despertar meu interesse pelo lado do estudo, recebi bolsa de 100%. A estrutura aqui é muito boa, nunca tive igual no Brasil, a fisioterapia, os campos, os ônibus e a sala de aula são excelentes. Estou ansioso para disputar o campeonato universitário e tenho certeza de que vai ser bom. Minha universidade já foi campeã nacional”.

Brian, que atua como zagueiro, teve de estudar 12 horas de inglês por dia e ser aprovado nos testes em campo para poder cursar fisioterapia na Universidade de Marshall, em Huntington, no Estado de Virgínia Ocidental, EUA. Está no primeiro ano e pretende seguir na carreira de jogador, participando do draft que leva à Major Soccer League, essa onde um tal de Lionel Messi vai jogar.

Brian Machado Amaro (dir.) com os companheiros de equipe na Universidade de Marshall, em Huntington Foto: Arquivo Pessoal / Braian Machado Amaro

Mas, por outro lado, quer ter a possibilidade de atuar como fisioterapeuta também. “Agora, estou conseguindo entender mais e peguei gosto por estudar, tenho prazer em estudar e sei que é algo importante para mim. Acho que os jovens devem seguir o mesmo caminho, que o mesmo esforço que se coloca dentro de campo ou nas quadras possa ser colocado nos estudos também. Uma coisa ajuda a outra e no futuro, iremos colher os frutos dentro e fora de campo”, diz.

Sua história é o sonho de muitos brasileiros que querem conciliar a prática esportiva com os estudos. Os Estados Unidos dão essa condição também aos estrangeiros, como Brian. O caminho não é fácil, mas a boa notícia é que ele existe e pode ser tomado por pais e mães que querem ver seus filhos encaminhados em suas paixões.

MODELO IDEAL

A situação do estudante Filipe Costa, de 17 anos, é bem diferente. Desde criança, em Goiânia, onde nasceu, ele aprendeu a conciliar o estudo com o tênis, sua paixão. Já em início de carreira como tenista, obteve uma bolsa de 70% para estudar Negócios na Binghamton University School of Management, em Nova York, porque o modelo americano se encaixava no que sempre foi seu estilo de vida. Ficou definido também que ele irá jogar como titular pelo time de tênis da universidade.

“Aceitei o desafio de ir estudar e praticar tênis, com bolsa, nos EUA porque sempre consegui conciliar os estudos com o esporte, de forma que um não prejudicasse o outro. Além disso, sempre tive o sonho de estudar em uma boa universidade americana, para ter uma excelente formação acadêmica, e continuar jogando o esporte que amo tanto, principalmente quando se trata de um ambiente competitivo”, disse ao Estadão.

Filipe se diz ansioso para a viagem e já está em contagem regressiva. Ele irá se mudar para os Estados Unidos no dia 13 de agosto. O curso começa no dia 21. “Minha preparação para a mudança anda bem agitada, são muitos documentos necessários.Além disso, estou buscando jogar bastante torneios para já começar o ano letivo no melhor ritmo possível. Meus objetivos a partir de agora são basicamente aproveitar o máximo dessa experiência que poucos podem ter, e me manter focado para ter bons resultados tanto na parte acadêmica quanto na parte esportiva.”

Filipe Costa, de 17 anos, obteve uma bolsa de 70% para estudar Negócios na Binghamton University School of Management, em Nova York, e jogar tênis Foto: Arquivo Pessoal / Filipe Costa

POLÍTICA AMERICANA

“Os estudantes internacionais trazem suas perspectivas e experiências para nossas salas de aula e campus. Isso beneficia todos os nossos alunos”. Esta frase, do Secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, resume a forma como, ao longo dos séculos, os americanos trataram da questão da educação: como um investimento que, quanto mais aberto ao mundo, mais aumenta sua rentabilidade. E o esporte é uma das principais ferramentas neste sentido.

Inserida nas escolas como uma disciplina tão importante quanto matemática e outras, a educação física é vista como uma maneira de o aluno, por meio da prática do esportes, aprender sobre si mesmo, desenvolver seu potencial por meio da competitividade, da convivência, do respeito. A interação com alunos de outros países, com bolsas de estudos para aqueles que tiverem habilidades esportivas, ajuda nesse objetivo e torna esporte e educação estratégicos para a própria evolução do país.

Brian e Felipe já ingressaram como universitários. Mas, em muitos casos, estudar e praticar um esporte desde o Ensino Médio (High School) é uma forma de facilitar a entrada em uma universidade local, conforme afirma Marcelo Antonelli, técnico de futebol em instituições americanas. Tanto na High School quanto na universidade há a possibilidade de o aluno receber bolsa. Ela pode ser integral ou não.

“Isso depende muito de qual confederação universitária ou em que tipo de escola (pública ou privada) o estudante pretende atuar. Mas os itens básicos para o ingresso e obtenção de bolsa são vídeos sobre a performance e as notas traduzidas para o inglês. Para cada nível escolar, o estudante que chegar terá de ter completado o grau anterior do ensino. Para o universitário da primeira divisão (NCAA) a bolsa não pode ter uma duração maior do que quatro anos”, ressalta Antonelli.

CAMINHOS PARA OS EUA

Entre 2021 e 2022, o número de brasileiros inscritos em universidades aumentou 6,4% em relação ao ano fiscal anterior, segundo os dados do OpenDoor, pesquisa do Departamento de Estado americano. O número de universitários brasileiros chegou a cerca de 15 mil nos EUA.

“Para realizar essa jornada educacional nos Estados Unidos, os estudantes internacionais devem obter um visto de estudante. Os dois tipos mais comuns são o F-1 e o M-1. O visto F-1 é destinado a estudantes que planejam participar de um programa acadêmico ou de idiomas em uma escola aprovada pelo governo americano. Isso inclui ensino médio, graduação, mestrado, doutorado e programas intensivos de inglês”, afirma Leonardo Freitas, especialista em imigração e CEO da Hayman-Woodward, empresa de consultoria em mobilidade global.

As instituições americanas de ensino, tanto do Ensino Médio (High School) quanto as universidades, têm investido no desenvolvimento esportivo de seus alunos. Fazem parcerias com agências e escolas para trabalharem toda a documentação e analisarem o perfil dos possíveis estudantes. Para os aprovados, ao contrário do Brasil, vestir a camisa de alguma instituição de ensino local, em uma competição esportiva, é o principal meio de se tornar um atleta profissional.

“Existem várias empresas e organizações que ajudam nesse processo, mas as especificidades podem variar. O processo pode ser feito individualmente, embora possa ser mais desafiador sem a ajuda de uma organização experiente”, diz Freitas.

Sobre a documentação, o executivo afirma que o visto M-1 é para estudantes que planejam participar de programas vocacionais ou de treinamento técnico não acadêmico. A escola ou instituição também deve ser aprovada pelo governo americano.

Freitas ressalta que ambos os processos para solicitar os vistos F-1 e M-1 são semelhantes e envolvem a obtenção do formulário I-20 (certificado de elegibilidade para o status de estudante não imigrante), preenchimento do formulário DS-160 (pedidos de vistos temporários), pagamento da taxa de solicitação e agendamento de uma entrevista na embaixada ou consulado americano mais próximo.

ESPORTES ESCOLHIDOS

O prazo limite para se transferir de uma escola da High School para a universidade, com bolsa, é de um ano. Tanto em um quanto em outro, o apoio financeiro será definido durante o processo de admissão. O valor de uma bolsa de estudos nos EUA pode ir de US$ 1 mil até cerca de US$70 mil anuais.

Entre os esportes mais escolhidos pelos brasileiros estão o futebol, o vôlei e o tênis. A transição da High School para a universidade, mantendo uma bolsa, depende basicamente de quatro fatores: talento e competitividade; rankings e resultados; desempenho escolar ou universitário e provas de admissão. Entre as provas de admissão, que variam de acordo com a situação, estão o Duolingo,Toefl, SAT (Teste de Aptidão Escolar) e ACT (inglês, matemática, leitura,ciência e redação).

Anualmente,são mais de 600 mil estudantes que recebem mais de US$ 4 bilhões de dólares em bolsas esportivas pelas diferentes organizações: NCAA (National College Athletics Association ), NAIA (National Association of Intercollegiate Athletics) e NJCAA (National Junior College Association), segundo informa a agência 2SV Sports.

A NCAA é a mais conhecida, com três divisões e mais de mil universidades filiadas, com dezenas de esportes, como beisebol, basquete, esgrima, ginástica, futebol, boxe e cross country. A NAIA é basicamente formada por universidades privadas, de menor porte. Há nessa organização menos exigências em relação a estrangeiros, facilitando o acesso a bolsas. Já na NJCAA, as filiadas são faculdades com cursos de dois anos.

Podem funcionar, neste sentido, também como uma base para adaptação e conhecimento antes de um estudante buscar uma bolsa em outras organizações universitárias.

Praticar esportes nos EUA se tornou viável por conta das bolsas de estudo, esportivas ou acadêmicas, que podem chegar a 100% dos valores. Sem a bolsa, o valor médio das faculdades mais baratas é de US$ 25 mil anuais (R$ 132 mil). Isso significa US$ 2.100 por mês (R$ 11 mil). Esse valor inclui moradia, alimentação, livros e estudos.

Existem faculdades com valores anuais de R$ 200 mil e R$ 300 mil. Para morar fora da faculdade, os valores do aluguel giram em torno de R$ 2 mil, dependendo da cidade.

Outro fator de atração para os brasileiros, esse mais subjetivo, é a meritocracia, termo usado pelos próprios atletas. “Se você está bem, você é premiado. Não interessa quem você é e de onde veio. Algumas coisas me desiludiram no futebol e até pensei em parar. Aqui, nos EUA, parece que o processo é mais justo. A meritocracia é muito presente”, disse o atacante João Pedro Peterlini Souza, de 20 anos, também campeão com a Marshall University, e ouvido pelo Estadão em uma reportagem recente. “Aqui, os técnicos dão oportunidade para quem realmente merece, trabalha e se esforça por isso.”

O QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE ESTUDAR E JOGAR NOS EUA

  • QUAIS OS PRIMEIROS PASSOS PARA TREINAR NOS EUA?
  • Atletas profissionais que querem estudar nos EUA enquanto treinam ou disputam campeonatos em suas modalidades esportivas geralmente já chegam ao país por convite da própria universidade ou de algum patrocinador. A NCAA regulamenta e é muito individualizada, depende de quando ele ou ela se formou, não basta a qualidade técnica. É necessário passar pelo processo de elegibilidade, se inscrever na liga para, se houver encaixe nas várias regras de aprovação, haver a aprovação para jogar no esporte universitário.
  • E OS AMADORES?
  • Os atletas amadores devem pesquisar onde estão as melhores oportunidades de bolsas de estudo para atletas da sua modalidade. O governo americano disponibiliza várias oportunidades para estrangeiros através de programas como o “Jovens Embaixadores” e o “Education USA”. As empresas que realizam esses programas organizam eventos em que são pré-selecionados meninos e meninas. Depois, os treinadores das instituições americanas vêm para o Brasil para realizar a própria avaliação. Vídeos enviados para os treinadores podem eventualmente gerar uma aprovação, mas isso não é frequente.
  • É PRECISO SABER INGLÊS?
  • Se for para fazer uma faculdade (curso de graduação), saber inglês em nível avançado é fundamental até mesmo para passar nos testes de admissão. Já para cursos vocacionais, intercâmbio ou cursos de idioma, o domínio do inglês não é obrigatório.
  • QUE TIPO DE VISTO É CONCEDIDO?
  • A taxa consular é de US$ 185, a taxa sevis (taxa que todo estudante tem de pagar) é de US$ 350. O visto que os estudantes atletas tiram é o F1 através da chegada de um documento chamado I-20, que é enviado pelas universidades após a aceitação do estudante. Normalmente, este processo demora em torno de três e quatro semanas, entre marcar a entrevista, ir ao consulado e receber o passaporte com o visto em casa, informa a 2SV Sports Agenciamento e Intercâmbio.

Na pacata Piedade, envolvida em planaltos e recheada por rios, o menino Brian Machado Amaro chutava a bola com talento e alegria. Quando olhava por entre as montanhas rumo a um horizonte desconhecido, só pensava em futebol. Tinha o desejo único de desbravar o mundo como jogador. Piedade é uma cidade do Estado de São Paulo. “Desde que me conheço, amo futebol, era tudo o que queria fazer, jogava na rua, em escolinhas... Futebol foi sempre o meu primeiro objetivo dentro daquilo que queria ser quando crescesse. Vivia pelo futebol, tudo na minha vida tinha a ver com futebol”, conta Brian, de 23 anos.

Aos 14, ele entrou nas categorias de base do Red Bull Brasil, que depois se tornou Red Bull Bragantino, e ficou até os 20. Jogou como profissional no Audax, do Rio. Até ser indicado por Priscilla Zogbi, mãe de um amigo, para a empresa 2SV, comandada por Ricardo Silveira, que possibilitou sua ida aos EUA.

“Os dois e a minha mãe foram fundamentais nessa mudança. Estudar nunca foi meu primeiro objetivo, sempre foi o futebol, mas, depois dessa oportunidade, pude despertar meu interesse pelo lado do estudo, recebi bolsa de 100%. A estrutura aqui é muito boa, nunca tive igual no Brasil, a fisioterapia, os campos, os ônibus e a sala de aula são excelentes. Estou ansioso para disputar o campeonato universitário e tenho certeza de que vai ser bom. Minha universidade já foi campeã nacional”.

Brian, que atua como zagueiro, teve de estudar 12 horas de inglês por dia e ser aprovado nos testes em campo para poder cursar fisioterapia na Universidade de Marshall, em Huntington, no Estado de Virgínia Ocidental, EUA. Está no primeiro ano e pretende seguir na carreira de jogador, participando do draft que leva à Major Soccer League, essa onde um tal de Lionel Messi vai jogar.

Brian Machado Amaro (dir.) com os companheiros de equipe na Universidade de Marshall, em Huntington Foto: Arquivo Pessoal / Braian Machado Amaro

Mas, por outro lado, quer ter a possibilidade de atuar como fisioterapeuta também. “Agora, estou conseguindo entender mais e peguei gosto por estudar, tenho prazer em estudar e sei que é algo importante para mim. Acho que os jovens devem seguir o mesmo caminho, que o mesmo esforço que se coloca dentro de campo ou nas quadras possa ser colocado nos estudos também. Uma coisa ajuda a outra e no futuro, iremos colher os frutos dentro e fora de campo”, diz.

Sua história é o sonho de muitos brasileiros que querem conciliar a prática esportiva com os estudos. Os Estados Unidos dão essa condição também aos estrangeiros, como Brian. O caminho não é fácil, mas a boa notícia é que ele existe e pode ser tomado por pais e mães que querem ver seus filhos encaminhados em suas paixões.

MODELO IDEAL

A situação do estudante Filipe Costa, de 17 anos, é bem diferente. Desde criança, em Goiânia, onde nasceu, ele aprendeu a conciliar o estudo com o tênis, sua paixão. Já em início de carreira como tenista, obteve uma bolsa de 70% para estudar Negócios na Binghamton University School of Management, em Nova York, porque o modelo americano se encaixava no que sempre foi seu estilo de vida. Ficou definido também que ele irá jogar como titular pelo time de tênis da universidade.

“Aceitei o desafio de ir estudar e praticar tênis, com bolsa, nos EUA porque sempre consegui conciliar os estudos com o esporte, de forma que um não prejudicasse o outro. Além disso, sempre tive o sonho de estudar em uma boa universidade americana, para ter uma excelente formação acadêmica, e continuar jogando o esporte que amo tanto, principalmente quando se trata de um ambiente competitivo”, disse ao Estadão.

Filipe se diz ansioso para a viagem e já está em contagem regressiva. Ele irá se mudar para os Estados Unidos no dia 13 de agosto. O curso começa no dia 21. “Minha preparação para a mudança anda bem agitada, são muitos documentos necessários.Além disso, estou buscando jogar bastante torneios para já começar o ano letivo no melhor ritmo possível. Meus objetivos a partir de agora são basicamente aproveitar o máximo dessa experiência que poucos podem ter, e me manter focado para ter bons resultados tanto na parte acadêmica quanto na parte esportiva.”

Filipe Costa, de 17 anos, obteve uma bolsa de 70% para estudar Negócios na Binghamton University School of Management, em Nova York, e jogar tênis Foto: Arquivo Pessoal / Filipe Costa

POLÍTICA AMERICANA

“Os estudantes internacionais trazem suas perspectivas e experiências para nossas salas de aula e campus. Isso beneficia todos os nossos alunos”. Esta frase, do Secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, resume a forma como, ao longo dos séculos, os americanos trataram da questão da educação: como um investimento que, quanto mais aberto ao mundo, mais aumenta sua rentabilidade. E o esporte é uma das principais ferramentas neste sentido.

Inserida nas escolas como uma disciplina tão importante quanto matemática e outras, a educação física é vista como uma maneira de o aluno, por meio da prática do esportes, aprender sobre si mesmo, desenvolver seu potencial por meio da competitividade, da convivência, do respeito. A interação com alunos de outros países, com bolsas de estudos para aqueles que tiverem habilidades esportivas, ajuda nesse objetivo e torna esporte e educação estratégicos para a própria evolução do país.

Brian e Felipe já ingressaram como universitários. Mas, em muitos casos, estudar e praticar um esporte desde o Ensino Médio (High School) é uma forma de facilitar a entrada em uma universidade local, conforme afirma Marcelo Antonelli, técnico de futebol em instituições americanas. Tanto na High School quanto na universidade há a possibilidade de o aluno receber bolsa. Ela pode ser integral ou não.

“Isso depende muito de qual confederação universitária ou em que tipo de escola (pública ou privada) o estudante pretende atuar. Mas os itens básicos para o ingresso e obtenção de bolsa são vídeos sobre a performance e as notas traduzidas para o inglês. Para cada nível escolar, o estudante que chegar terá de ter completado o grau anterior do ensino. Para o universitário da primeira divisão (NCAA) a bolsa não pode ter uma duração maior do que quatro anos”, ressalta Antonelli.

CAMINHOS PARA OS EUA

Entre 2021 e 2022, o número de brasileiros inscritos em universidades aumentou 6,4% em relação ao ano fiscal anterior, segundo os dados do OpenDoor, pesquisa do Departamento de Estado americano. O número de universitários brasileiros chegou a cerca de 15 mil nos EUA.

“Para realizar essa jornada educacional nos Estados Unidos, os estudantes internacionais devem obter um visto de estudante. Os dois tipos mais comuns são o F-1 e o M-1. O visto F-1 é destinado a estudantes que planejam participar de um programa acadêmico ou de idiomas em uma escola aprovada pelo governo americano. Isso inclui ensino médio, graduação, mestrado, doutorado e programas intensivos de inglês”, afirma Leonardo Freitas, especialista em imigração e CEO da Hayman-Woodward, empresa de consultoria em mobilidade global.

As instituições americanas de ensino, tanto do Ensino Médio (High School) quanto as universidades, têm investido no desenvolvimento esportivo de seus alunos. Fazem parcerias com agências e escolas para trabalharem toda a documentação e analisarem o perfil dos possíveis estudantes. Para os aprovados, ao contrário do Brasil, vestir a camisa de alguma instituição de ensino local, em uma competição esportiva, é o principal meio de se tornar um atleta profissional.

“Existem várias empresas e organizações que ajudam nesse processo, mas as especificidades podem variar. O processo pode ser feito individualmente, embora possa ser mais desafiador sem a ajuda de uma organização experiente”, diz Freitas.

Sobre a documentação, o executivo afirma que o visto M-1 é para estudantes que planejam participar de programas vocacionais ou de treinamento técnico não acadêmico. A escola ou instituição também deve ser aprovada pelo governo americano.

Freitas ressalta que ambos os processos para solicitar os vistos F-1 e M-1 são semelhantes e envolvem a obtenção do formulário I-20 (certificado de elegibilidade para o status de estudante não imigrante), preenchimento do formulário DS-160 (pedidos de vistos temporários), pagamento da taxa de solicitação e agendamento de uma entrevista na embaixada ou consulado americano mais próximo.

ESPORTES ESCOLHIDOS

O prazo limite para se transferir de uma escola da High School para a universidade, com bolsa, é de um ano. Tanto em um quanto em outro, o apoio financeiro será definido durante o processo de admissão. O valor de uma bolsa de estudos nos EUA pode ir de US$ 1 mil até cerca de US$70 mil anuais.

Entre os esportes mais escolhidos pelos brasileiros estão o futebol, o vôlei e o tênis. A transição da High School para a universidade, mantendo uma bolsa, depende basicamente de quatro fatores: talento e competitividade; rankings e resultados; desempenho escolar ou universitário e provas de admissão. Entre as provas de admissão, que variam de acordo com a situação, estão o Duolingo,Toefl, SAT (Teste de Aptidão Escolar) e ACT (inglês, matemática, leitura,ciência e redação).

Anualmente,são mais de 600 mil estudantes que recebem mais de US$ 4 bilhões de dólares em bolsas esportivas pelas diferentes organizações: NCAA (National College Athletics Association ), NAIA (National Association of Intercollegiate Athletics) e NJCAA (National Junior College Association), segundo informa a agência 2SV Sports.

A NCAA é a mais conhecida, com três divisões e mais de mil universidades filiadas, com dezenas de esportes, como beisebol, basquete, esgrima, ginástica, futebol, boxe e cross country. A NAIA é basicamente formada por universidades privadas, de menor porte. Há nessa organização menos exigências em relação a estrangeiros, facilitando o acesso a bolsas. Já na NJCAA, as filiadas são faculdades com cursos de dois anos.

Podem funcionar, neste sentido, também como uma base para adaptação e conhecimento antes de um estudante buscar uma bolsa em outras organizações universitárias.

Praticar esportes nos EUA se tornou viável por conta das bolsas de estudo, esportivas ou acadêmicas, que podem chegar a 100% dos valores. Sem a bolsa, o valor médio das faculdades mais baratas é de US$ 25 mil anuais (R$ 132 mil). Isso significa US$ 2.100 por mês (R$ 11 mil). Esse valor inclui moradia, alimentação, livros e estudos.

Existem faculdades com valores anuais de R$ 200 mil e R$ 300 mil. Para morar fora da faculdade, os valores do aluguel giram em torno de R$ 2 mil, dependendo da cidade.

Outro fator de atração para os brasileiros, esse mais subjetivo, é a meritocracia, termo usado pelos próprios atletas. “Se você está bem, você é premiado. Não interessa quem você é e de onde veio. Algumas coisas me desiludiram no futebol e até pensei em parar. Aqui, nos EUA, parece que o processo é mais justo. A meritocracia é muito presente”, disse o atacante João Pedro Peterlini Souza, de 20 anos, também campeão com a Marshall University, e ouvido pelo Estadão em uma reportagem recente. “Aqui, os técnicos dão oportunidade para quem realmente merece, trabalha e se esforça por isso.”

O QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE ESTUDAR E JOGAR NOS EUA

  • QUAIS OS PRIMEIROS PASSOS PARA TREINAR NOS EUA?
  • Atletas profissionais que querem estudar nos EUA enquanto treinam ou disputam campeonatos em suas modalidades esportivas geralmente já chegam ao país por convite da própria universidade ou de algum patrocinador. A NCAA regulamenta e é muito individualizada, depende de quando ele ou ela se formou, não basta a qualidade técnica. É necessário passar pelo processo de elegibilidade, se inscrever na liga para, se houver encaixe nas várias regras de aprovação, haver a aprovação para jogar no esporte universitário.
  • E OS AMADORES?
  • Os atletas amadores devem pesquisar onde estão as melhores oportunidades de bolsas de estudo para atletas da sua modalidade. O governo americano disponibiliza várias oportunidades para estrangeiros através de programas como o “Jovens Embaixadores” e o “Education USA”. As empresas que realizam esses programas organizam eventos em que são pré-selecionados meninos e meninas. Depois, os treinadores das instituições americanas vêm para o Brasil para realizar a própria avaliação. Vídeos enviados para os treinadores podem eventualmente gerar uma aprovação, mas isso não é frequente.
  • É PRECISO SABER INGLÊS?
  • Se for para fazer uma faculdade (curso de graduação), saber inglês em nível avançado é fundamental até mesmo para passar nos testes de admissão. Já para cursos vocacionais, intercâmbio ou cursos de idioma, o domínio do inglês não é obrigatório.
  • QUE TIPO DE VISTO É CONCEDIDO?
  • A taxa consular é de US$ 185, a taxa sevis (taxa que todo estudante tem de pagar) é de US$ 350. O visto que os estudantes atletas tiram é o F1 através da chegada de um documento chamado I-20, que é enviado pelas universidades após a aceitação do estudante. Normalmente, este processo demora em torno de três e quatro semanas, entre marcar a entrevista, ir ao consulado e receber o passaporte com o visto em casa, informa a 2SV Sports Agenciamento e Intercâmbio.

Na pacata Piedade, envolvida em planaltos e recheada por rios, o menino Brian Machado Amaro chutava a bola com talento e alegria. Quando olhava por entre as montanhas rumo a um horizonte desconhecido, só pensava em futebol. Tinha o desejo único de desbravar o mundo como jogador. Piedade é uma cidade do Estado de São Paulo. “Desde que me conheço, amo futebol, era tudo o que queria fazer, jogava na rua, em escolinhas... Futebol foi sempre o meu primeiro objetivo dentro daquilo que queria ser quando crescesse. Vivia pelo futebol, tudo na minha vida tinha a ver com futebol”, conta Brian, de 23 anos.

Aos 14, ele entrou nas categorias de base do Red Bull Brasil, que depois se tornou Red Bull Bragantino, e ficou até os 20. Jogou como profissional no Audax, do Rio. Até ser indicado por Priscilla Zogbi, mãe de um amigo, para a empresa 2SV, comandada por Ricardo Silveira, que possibilitou sua ida aos EUA.

“Os dois e a minha mãe foram fundamentais nessa mudança. Estudar nunca foi meu primeiro objetivo, sempre foi o futebol, mas, depois dessa oportunidade, pude despertar meu interesse pelo lado do estudo, recebi bolsa de 100%. A estrutura aqui é muito boa, nunca tive igual no Brasil, a fisioterapia, os campos, os ônibus e a sala de aula são excelentes. Estou ansioso para disputar o campeonato universitário e tenho certeza de que vai ser bom. Minha universidade já foi campeã nacional”.

Brian, que atua como zagueiro, teve de estudar 12 horas de inglês por dia e ser aprovado nos testes em campo para poder cursar fisioterapia na Universidade de Marshall, em Huntington, no Estado de Virgínia Ocidental, EUA. Está no primeiro ano e pretende seguir na carreira de jogador, participando do draft que leva à Major Soccer League, essa onde um tal de Lionel Messi vai jogar.

Brian Machado Amaro (dir.) com os companheiros de equipe na Universidade de Marshall, em Huntington Foto: Arquivo Pessoal / Braian Machado Amaro

Mas, por outro lado, quer ter a possibilidade de atuar como fisioterapeuta também. “Agora, estou conseguindo entender mais e peguei gosto por estudar, tenho prazer em estudar e sei que é algo importante para mim. Acho que os jovens devem seguir o mesmo caminho, que o mesmo esforço que se coloca dentro de campo ou nas quadras possa ser colocado nos estudos também. Uma coisa ajuda a outra e no futuro, iremos colher os frutos dentro e fora de campo”, diz.

Sua história é o sonho de muitos brasileiros que querem conciliar a prática esportiva com os estudos. Os Estados Unidos dão essa condição também aos estrangeiros, como Brian. O caminho não é fácil, mas a boa notícia é que ele existe e pode ser tomado por pais e mães que querem ver seus filhos encaminhados em suas paixões.

MODELO IDEAL

A situação do estudante Filipe Costa, de 17 anos, é bem diferente. Desde criança, em Goiânia, onde nasceu, ele aprendeu a conciliar o estudo com o tênis, sua paixão. Já em início de carreira como tenista, obteve uma bolsa de 70% para estudar Negócios na Binghamton University School of Management, em Nova York, porque o modelo americano se encaixava no que sempre foi seu estilo de vida. Ficou definido também que ele irá jogar como titular pelo time de tênis da universidade.

“Aceitei o desafio de ir estudar e praticar tênis, com bolsa, nos EUA porque sempre consegui conciliar os estudos com o esporte, de forma que um não prejudicasse o outro. Além disso, sempre tive o sonho de estudar em uma boa universidade americana, para ter uma excelente formação acadêmica, e continuar jogando o esporte que amo tanto, principalmente quando se trata de um ambiente competitivo”, disse ao Estadão.

Filipe se diz ansioso para a viagem e já está em contagem regressiva. Ele irá se mudar para os Estados Unidos no dia 13 de agosto. O curso começa no dia 21. “Minha preparação para a mudança anda bem agitada, são muitos documentos necessários.Além disso, estou buscando jogar bastante torneios para já começar o ano letivo no melhor ritmo possível. Meus objetivos a partir de agora são basicamente aproveitar o máximo dessa experiência que poucos podem ter, e me manter focado para ter bons resultados tanto na parte acadêmica quanto na parte esportiva.”

Filipe Costa, de 17 anos, obteve uma bolsa de 70% para estudar Negócios na Binghamton University School of Management, em Nova York, e jogar tênis Foto: Arquivo Pessoal / Filipe Costa

POLÍTICA AMERICANA

“Os estudantes internacionais trazem suas perspectivas e experiências para nossas salas de aula e campus. Isso beneficia todos os nossos alunos”. Esta frase, do Secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, resume a forma como, ao longo dos séculos, os americanos trataram da questão da educação: como um investimento que, quanto mais aberto ao mundo, mais aumenta sua rentabilidade. E o esporte é uma das principais ferramentas neste sentido.

Inserida nas escolas como uma disciplina tão importante quanto matemática e outras, a educação física é vista como uma maneira de o aluno, por meio da prática do esportes, aprender sobre si mesmo, desenvolver seu potencial por meio da competitividade, da convivência, do respeito. A interação com alunos de outros países, com bolsas de estudos para aqueles que tiverem habilidades esportivas, ajuda nesse objetivo e torna esporte e educação estratégicos para a própria evolução do país.

Brian e Felipe já ingressaram como universitários. Mas, em muitos casos, estudar e praticar um esporte desde o Ensino Médio (High School) é uma forma de facilitar a entrada em uma universidade local, conforme afirma Marcelo Antonelli, técnico de futebol em instituições americanas. Tanto na High School quanto na universidade há a possibilidade de o aluno receber bolsa. Ela pode ser integral ou não.

“Isso depende muito de qual confederação universitária ou em que tipo de escola (pública ou privada) o estudante pretende atuar. Mas os itens básicos para o ingresso e obtenção de bolsa são vídeos sobre a performance e as notas traduzidas para o inglês. Para cada nível escolar, o estudante que chegar terá de ter completado o grau anterior do ensino. Para o universitário da primeira divisão (NCAA) a bolsa não pode ter uma duração maior do que quatro anos”, ressalta Antonelli.

CAMINHOS PARA OS EUA

Entre 2021 e 2022, o número de brasileiros inscritos em universidades aumentou 6,4% em relação ao ano fiscal anterior, segundo os dados do OpenDoor, pesquisa do Departamento de Estado americano. O número de universitários brasileiros chegou a cerca de 15 mil nos EUA.

“Para realizar essa jornada educacional nos Estados Unidos, os estudantes internacionais devem obter um visto de estudante. Os dois tipos mais comuns são o F-1 e o M-1. O visto F-1 é destinado a estudantes que planejam participar de um programa acadêmico ou de idiomas em uma escola aprovada pelo governo americano. Isso inclui ensino médio, graduação, mestrado, doutorado e programas intensivos de inglês”, afirma Leonardo Freitas, especialista em imigração e CEO da Hayman-Woodward, empresa de consultoria em mobilidade global.

As instituições americanas de ensino, tanto do Ensino Médio (High School) quanto as universidades, têm investido no desenvolvimento esportivo de seus alunos. Fazem parcerias com agências e escolas para trabalharem toda a documentação e analisarem o perfil dos possíveis estudantes. Para os aprovados, ao contrário do Brasil, vestir a camisa de alguma instituição de ensino local, em uma competição esportiva, é o principal meio de se tornar um atleta profissional.

“Existem várias empresas e organizações que ajudam nesse processo, mas as especificidades podem variar. O processo pode ser feito individualmente, embora possa ser mais desafiador sem a ajuda de uma organização experiente”, diz Freitas.

Sobre a documentação, o executivo afirma que o visto M-1 é para estudantes que planejam participar de programas vocacionais ou de treinamento técnico não acadêmico. A escola ou instituição também deve ser aprovada pelo governo americano.

Freitas ressalta que ambos os processos para solicitar os vistos F-1 e M-1 são semelhantes e envolvem a obtenção do formulário I-20 (certificado de elegibilidade para o status de estudante não imigrante), preenchimento do formulário DS-160 (pedidos de vistos temporários), pagamento da taxa de solicitação e agendamento de uma entrevista na embaixada ou consulado americano mais próximo.

ESPORTES ESCOLHIDOS

O prazo limite para se transferir de uma escola da High School para a universidade, com bolsa, é de um ano. Tanto em um quanto em outro, o apoio financeiro será definido durante o processo de admissão. O valor de uma bolsa de estudos nos EUA pode ir de US$ 1 mil até cerca de US$70 mil anuais.

Entre os esportes mais escolhidos pelos brasileiros estão o futebol, o vôlei e o tênis. A transição da High School para a universidade, mantendo uma bolsa, depende basicamente de quatro fatores: talento e competitividade; rankings e resultados; desempenho escolar ou universitário e provas de admissão. Entre as provas de admissão, que variam de acordo com a situação, estão o Duolingo,Toefl, SAT (Teste de Aptidão Escolar) e ACT (inglês, matemática, leitura,ciência e redação).

Anualmente,são mais de 600 mil estudantes que recebem mais de US$ 4 bilhões de dólares em bolsas esportivas pelas diferentes organizações: NCAA (National College Athletics Association ), NAIA (National Association of Intercollegiate Athletics) e NJCAA (National Junior College Association), segundo informa a agência 2SV Sports.

A NCAA é a mais conhecida, com três divisões e mais de mil universidades filiadas, com dezenas de esportes, como beisebol, basquete, esgrima, ginástica, futebol, boxe e cross country. A NAIA é basicamente formada por universidades privadas, de menor porte. Há nessa organização menos exigências em relação a estrangeiros, facilitando o acesso a bolsas. Já na NJCAA, as filiadas são faculdades com cursos de dois anos.

Podem funcionar, neste sentido, também como uma base para adaptação e conhecimento antes de um estudante buscar uma bolsa em outras organizações universitárias.

Praticar esportes nos EUA se tornou viável por conta das bolsas de estudo, esportivas ou acadêmicas, que podem chegar a 100% dos valores. Sem a bolsa, o valor médio das faculdades mais baratas é de US$ 25 mil anuais (R$ 132 mil). Isso significa US$ 2.100 por mês (R$ 11 mil). Esse valor inclui moradia, alimentação, livros e estudos.

Existem faculdades com valores anuais de R$ 200 mil e R$ 300 mil. Para morar fora da faculdade, os valores do aluguel giram em torno de R$ 2 mil, dependendo da cidade.

Outro fator de atração para os brasileiros, esse mais subjetivo, é a meritocracia, termo usado pelos próprios atletas. “Se você está bem, você é premiado. Não interessa quem você é e de onde veio. Algumas coisas me desiludiram no futebol e até pensei em parar. Aqui, nos EUA, parece que o processo é mais justo. A meritocracia é muito presente”, disse o atacante João Pedro Peterlini Souza, de 20 anos, também campeão com a Marshall University, e ouvido pelo Estadão em uma reportagem recente. “Aqui, os técnicos dão oportunidade para quem realmente merece, trabalha e se esforça por isso.”

O QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE ESTUDAR E JOGAR NOS EUA

  • QUAIS OS PRIMEIROS PASSOS PARA TREINAR NOS EUA?
  • Atletas profissionais que querem estudar nos EUA enquanto treinam ou disputam campeonatos em suas modalidades esportivas geralmente já chegam ao país por convite da própria universidade ou de algum patrocinador. A NCAA regulamenta e é muito individualizada, depende de quando ele ou ela se formou, não basta a qualidade técnica. É necessário passar pelo processo de elegibilidade, se inscrever na liga para, se houver encaixe nas várias regras de aprovação, haver a aprovação para jogar no esporte universitário.
  • E OS AMADORES?
  • Os atletas amadores devem pesquisar onde estão as melhores oportunidades de bolsas de estudo para atletas da sua modalidade. O governo americano disponibiliza várias oportunidades para estrangeiros através de programas como o “Jovens Embaixadores” e o “Education USA”. As empresas que realizam esses programas organizam eventos em que são pré-selecionados meninos e meninas. Depois, os treinadores das instituições americanas vêm para o Brasil para realizar a própria avaliação. Vídeos enviados para os treinadores podem eventualmente gerar uma aprovação, mas isso não é frequente.
  • É PRECISO SABER INGLÊS?
  • Se for para fazer uma faculdade (curso de graduação), saber inglês em nível avançado é fundamental até mesmo para passar nos testes de admissão. Já para cursos vocacionais, intercâmbio ou cursos de idioma, o domínio do inglês não é obrigatório.
  • QUE TIPO DE VISTO É CONCEDIDO?
  • A taxa consular é de US$ 185, a taxa sevis (taxa que todo estudante tem de pagar) é de US$ 350. O visto que os estudantes atletas tiram é o F1 através da chegada de um documento chamado I-20, que é enviado pelas universidades após a aceitação do estudante. Normalmente, este processo demora em torno de três e quatro semanas, entre marcar a entrevista, ir ao consulado e receber o passaporte com o visto em casa, informa a 2SV Sports Agenciamento e Intercâmbio.

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