Brasil Conte algo que não sei

Ben Walden, consultor educacional: 'Precisamos de líderes que pensem a longo prazo'

Palestrante inglês veio ao Rio ministrar curso de liderança em escolas, a convite da British School
RI Rio de Janeiro (RJ) 12/04/2017. Conte Algo. Ben Walden. Foto : Fernando Lemos / Agencia O Globo Foto: Fernando Lemos / Agência O Globo
RI Rio de Janeiro (RJ) 12/04/2017. Conte Algo. Ben Walden. Foto : Fernando Lemos / Agencia O Globo Foto: Fernando Lemos / Agência O Globo

"Nasci e moro em Londres. Fui ator do Teatro de West End. Lá, aprendi os primeiros conceitos de liderança e, com o tempo, resolvi ensiná-los em empresas. Logo percebi, porém, que a liderança está mais ligada ao ambiente escolar. Hoje, ministro palestras sobre o tema em colégios do mundo todo."

Conte algo que não sei.

É importante que trabalhemos liderança nas escolas. Não para que o aluno se torne o presidente do país ou um grande executivo. Na verdade, ser líder está mais ligado às atividades comuns do dia a dia do que às práticas que encontramos no cotidiano de grandes gestores. Falo do futuro cônjuge, pai, funcionário, ou seja, de um membro comum da sociedade.

Por que trabalhar esse tema já no colégio?

Para que tenhamos adultos capazes de resolverem suas próprias questões. O mundo exige, cada vez mais, pessoas capazes de lidar com problemas e que não sejam imaturas. Desenvolver a liderança individual facilita na qualificação. Assim, consequentemente, teremos gente mais bem preparada e disposta a pensar no coletivo.

Qual a idade ideal para iniciar essa preparação?

Bem cedo. Claro que não se deve perguntar a uma criança suas visões para o futuro do país. Mas podemos questionar os pequenos sobre seus sentimentos em relação ao mundo em que vivem. E, com o passar dos anos, conforme eles vão crescendo e amadurecendo, essas perguntas vão sendo aperfeiçoadas, para que eles tenham o poder de analisar as mudanças que enfrentamos.

Quais ferramentas podem ser usadas para desenvolver esse conceito?

Basicamente, explorando a narrativa de clássicos. Um dos maiores exemplos são as obras de Shakespeare, que, além de um escritor magnífico, era um psicólogo brilhante. Se usarmos as narrativas de seus trabalhos, não só no sentido literal, podemos analisar a história antiga, guerras e até mesmo o que, para ele, era o amor verdadeiro. Essas peças literárias abordam política e liderança dentro do convívio social em momentos de crise, tudo implicitamente.

Na prática, como funciona esse mecanismo?

Embora se usem os clássicos como base, a proposta não é uma aula de atuação. O conceito é analisar a mensagem dessas obras e causar a reflexão acerca das experiências de cada história, comparando-as com as inquietações sociais atuais, para projetar um futuro melhor.

Algum outro exemplo marcante de narrativa?

A que Nelson Mandela empregou para mudar a África do Sul. Ele levou muitos anos para começar a ver resultados, mas, sem dúvida, seu trabalho foi mais que eficaz. Isso se comprova pela admiração e pelo respeito que líderes de todo o mundo têm por seu trabalho.

Podemos acreditar que, com esse modelo de liderança, viveremos um futuro melhor?

Sim. Para isso, precisamos de líderes que pensem a longo prazo, entendendo que o trabalho de hoje terá impacto não só em sua vida, mas na de seus filhos e netos. Sobretudo, precisamos que eles desenvolvam ações globais, e não somente em seus próprios países.

E do que precisamos para executar tais práticas?

De ambientes que inspirem crianças a aprender esses conceitos. Também é necessário que professores estejam satisfeitos e acreditem em seu trabalho. É mais que provado, e eu não estou falando nenhuma novidade, que com um sistema de ensino de qualidade o país tende a se desenvolver cada vez mais. E trabalhar para isso é dever de todos nós.