Por Jornal Hoje


Com baixos salários e falta de perspectiva de carreira, professores desistem da profissão

Com baixos salários e falta de perspectiva de carreira, professores desistem da profissão

Uma pesquisa da ONG Conectando Saberes aponta que os baixos salários e a falta de perspectiva de carreira são os principais motivos que levam os professores a desistir da profissão. Transtornos psicológicos causados pela rotina difícil — e que aumentaram durante a pandemia — também são outros pontos citados.

  • 70% dos professores apontam como frequente a inadequação docente, que é quando o profissional leciona disciplinas fora de sua área. Exemplo: um professor de inglês dando aula de artes;
  • 77% acreditam que os salários e planos de carreira levam os educadores a desistir do trabalho;
  • 75% afirmam que as questões psicológicas causadas pela rotina difícil também levam à desistência.

Professores do Brasil: rotina e motivação — Foto: Reprodução

A pesquisa ainda mostra que 92% dos professores tiveram dificuldade de executar aulas à distância e que isso prejudicou a aprendizagem dos alunos.

Daisy de Jesus Porto Westhofer dá aulas no Ensino Fundamental há 15 anos. Mesmo experiente, a professora sentiu dificuldades na volta às aulas presenciais com o fim das restrições da pandemia.

“Você tem aluno que o pai está internado... ‘Olha professora, desculpa, mas o pai está internado e não vai poder assistir’. Então são coisas que mexem muito com a gente. Além do nosso pessoal, tem a questão do aluno”, relatou.

Para estes motivos, a prefeitura de São Caetano do Sul, na Grande São Paulo, implementou o programa Cuca Legal, que tem como proposta colocar o corpo docente em contato com psicólogos para cuidar da saúde mental dos professores depois de um período desafiador como a pandemia.

“A ideia é estreitar vínculos, aumentar a questão da confiança, delimitar limites e dar suporte para os professores, orientadores e diretores, porque a gente sabe o quão difícil é a prática diária deles”, disse Flávia Ismael, psiquiatra e coordenadora da Saúde Mental de São Caetano do Sul (SP).

Um professor com dez anos de experiência em duas redes públicas de ensino quase desistiu da carreira. Ele, que não quis se identificar, conta que começou a enfrentar problemas quando aceitou dar aulas no período noturno, em 2015.

“Entrei na sala e estava absurdamente lotada... 50 pessoas. Eles se negavam a ter aula. Jogando baralho, fumando escondido, saindo da sala a hora que queria. Mas eu tinha uma regra que era: não vou deixar de dar aula nunca. E naquele ano eu não conseguia”, afirmou.

Depois de uma greve da categoria, a volta foi ainda mais difícil.

“No que eu volto para escola, tenho ataque de pânico. Começo a tremer, a chorar. Quis entrar na sala, mas se eu não entrar agora, eu não entro mais. E uma estratégia comum de defesa que os professores fazem – que é muito vergonhosa, muito humilhante – é faltar".

A pesquisa aponta um dado bom: a maioria dos professores afirma que os estágios probatórios – no início da carreira – são bem executados. Os pesquisadores da Conectando Saberes ouviram 6,4 mil professores das redes pública e privada, de todos os estados e do Distrito Federal.

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“Se a gente tiver que pensar em como solucionar qualquer problema, seja para o fator psicológico, para o fator da prática docente, seja o fator da inadequação, do absenteísmo, acho que o primeiro ponto que a gente sempre visualiza, com esses estudos, é: como a gente coloca o professor no debate. Como a gente faz com que essas questões sejam participativas e que eles tenham voz para também propor soluções”, disse a diretora da Conectando Saberes, Paolla Vieira

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